Em um primeiro momento, a lista dos concorrentes à 85ª
edição do Oscar é revigorante. Não exatamente pela inexistência de injustiças e
esnobadas, em um prêmio da estatura do Oscar e em que o gosto de um colegiado
amplo e diversificado precisa ser equalizado elas sempre acontecerão. No
entanto, é uma lista com invejável personalidade e que devolve ao Oscar o
título de barão dos prêmios de cinema – posição que estava se perdendo em
temporadas cada vez mais previsíveis. Não que a Oscar season 2013 não tenha um
favorito absoluto. Lincoln desde a fase pré-Oscar já era tido como o filme a
ser batido, impressão confirmada pela liderança na corrida de todos os prêmios.
Mas pelo fato de que o Oscar, com a antecipação de suas indicações forçando a
antecipação de todo o calendário de premiações, favoreceu um ambiente de
frescor e emoção que há muito não se via. Os sindicatos e premiações
preliminares viram seu peso diminuir e muitos “gurus” protestaram quanto ao que
acham uma lista injusta e surpreendente. Sobre esse tópico em particular,
Claquete fará considerações mais adiante na semana.
Sobre a lista em si, é possível dizer que estão aí os
indicados ao Oscar. Aqueles filmes que deixaram boa impressão junto aos
acadêmicos e não os filmes que estavam monopolizando as atenções na temporada
de premiações, ainda que justificadamente alguns deles estejam em destaque no
Oscar.
Conforme Claquete já antecipava, a polêmica envolta em A
hora mais escura custou ao filme de Bigelow a pujança que críticos se
apressaram em atribuir à fita. Na celeuma entre conservadores e liberais,
dentre os favoritos declarados, A hora mais escura foi o que obteve menos
consistência nas indicações.
A esnobada em
Ben Affleck na categoria de direção desarma os detratores do
Oscar que se apressaram em dizer que as surpresas ocorreram pela antecipação do
calendário simplesmente. Diferentemente de Quentin Tarantino (Django livre),
Tom Hooper (Os miseráveis) e Kathryn Bigelow (A hora mais escura), Argo foi
lançado em outubro. Amor ,
indicado a filme e direção, foi lançado nos EUA em dezembro, em poucas salas, e
ainda é falado em francês. É preciso mais reflexão para entender a exclusão de
Affleck da disputa. Quanto a Hooper e Bigelow, suas recentes vitórias e o fato
de seus filmes não acolherem a unanimidade, podem ter sido fatores decisivos. A Tarantino, a razão de sempre: a academia não lhe engole como diretor. Mesmo
assim ele já ostenta duas indicações na categoria.
Em um ano aparentemente tão atípico, uma comédia romântica
com pegada dramática salta aos olhos na lista. Trata-se de O lado bom da vida.
O filme de David O. Russell angariou oito indicações ao Oscar e, inclusive, nas
quatro categorias de atuação. Feito inédito em 31 anos. Desde Reds que isso não
acontecia. O entusiasmo com Russell não deixa de ser um contraponto a
Tarantino. Ambos são diretores roteiristas com um passado de declarações
improperas que atingiram maturidade autoral nos últimos anos. Mas Russell
talvez seja mais palatável, certamente é menos cortante.
O lado bom da vida contraria o histórico das comédias no Oscar e conquista invejáveis oito indicações ao prêmio máximo do cinema
Outro mérito a ser observado é que pela primeira vez desde
2010, quando o número de indicados a melhor filme dilatou, houve equivalência
entre as indicações a melhor filme e melhor roteiro. A ode à coerência é
reforçada pelo fato de, entre os selecionados a melhor filme, não ter uma
produção sequer com menos de quatro indicações – caso de Indomável sonhadora.
Algumas com cinco (Django livre, Amor, A hora mais escura),
outra com sete (Argo), duas com oito (Os miseráveis e O lado bom da vida), uma
com onze (As aventuras de Pi) e o campeão do ano Lincon com 12 nomeações.
É uma prova viva de que os membros da academia estão
aprendendo a votar com o novo sistema de preferência que admite entre cinco a dez indicados a melhor filme.
No campo das atuações, foi o menor índice de concomitância
entre os selecionados pelo SAG e pelo Oscar desde que o sindicato começou a
distribuir seu prêmio. Ótima notícia também. Isso quer dizer que os membros da
academia estão vendo filmes e não apenas “copiando e colando” o que o
sindicato, um brunch infinitamente maior, avaliza.
Alguns filmes parecem se destacar no campo das atuações.
Além de O lado bom da vida, Lincoln, O mestre e Os miseráveis, todos com mais
de uma indicação, parecem ter agradado o departamento de atores. À parte O
mestre, todos concorrem ao prêmio de elenco do sindicato.
Nesse momento, a briga parece se concentrar entre Lincoln e
As aventuras de Pi, que estão em confronto também no Globo de Ouro, no
Producers Guild Awards, no Bafta e no Directors Guild Awards, mas não se pode
menosprezar a força de O lado bom da vida, de longe a presença mais sólida no
Oscar. Além de estar presente em todas as categorias ditas nobres, o filme é
distribuído pelo mesmo Harvey Weinstein que já tirou leite de pedra. Pode não
parecer, mas a corrida ainda está começando...
Ótimo panorama, Reinaldo. Eu realmente não tenho nada a acrescentar na sua esperta avaliação dos indicados. Justa ou não, é revigorante porque fugiu do óbvio.
ResponderExcluirO que é mesmo lamentável de acompanhar são os inconformados com a vida. Se antes diziam que o Oscar é chato porque não tem surpresas, tá aí, CARA NA POEIRA, quer mais surpresa do que não indicar Affleck, Bigelow, Intocáveis e tantos outros que eram considerados locks em suas respectivas categorias? O mais foda de ver é que esses mesmos que reclamavam da previsibilidade da premiação, agora ficam chorando "Affleck foi roubado" e mimimi. Sério, pessoal, hipocrisia tem limite, vamos lá.
Resta eu assistir aos filmes. Mas, devo confessar que me dói não ver Bigelow entre os diretores. Admiro demais essa mulher! =D
Claquete é um dos melhores lugares na net pra acompanhar os comentários ao Oscar. Eu estava meio sumido, porém, aos poucos, vou recuperando o tempo perdido... hehe
Grande abraço!
Elton: obrigado pelos elogios meu caro. Eu gostei muito da lista dos indicados, como já concordamos. Esse ano foi bom, também, para desmascarar esses "do contra" que vestem a camisa em toda temporada do Oscar. Falou tudo!
ResponderExcluirAbs