quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Filme em destaque - Django livre

Sem medo de polêmicas

Um negro racista, um senhor de escravos no limite da crueldade, um ex-escravo vingador e violência transbordante em meio ao humor negro que lhe é característico; Django livre é o novo filme de Tarantino e a sequência de uma trilogia sobre vingança iniciada com Bastardos inglórios (2009)



“A ideia de fazer um spaghetti western é anterior (à Bastardos inglórios), me acompanha há mais de dez anos e talvez tenha me acompanhado desde sempre, mas começou a nascer efetivamente há uns sete ou oito anos”, confessou Quentin Tarantino em entrevista a O Estado de São Paulo. O cineasta, no entanto, reconheceu que a cena inicial somente lhe veio a cabeça durante um evento de promoção de Bastardos inglórios no Japão.
Django livre para Tarantino é uma homenagem ao cinema de ícones do western spaghetti como Sergio Leone, mas principalmente, Sergio Corbucci, cineasta de extensa filmografia que permaneceu na sombra do Sergio mais famoso. Contudo, Tarantino reconhece que Django livre é, também, a sequência de uma trilogia informal sobre vingança iniciada com Bastardos. “O cinema me permite reescrever a história”. O cineasta explica que ainda não pensou na temática do terceiro filme e diz que não tem pressa para fazê-lo.

Filmagens tumultuadas
Temporais destruindo os sets de filmagens, atores entrando e saindo do elenco, Tarantino não teve vida fácil para confeccionar seu sétimo longa-metragem. E nem para finalizá-lo. Django livre é o primeiro filme de Tarantino a não pousar em um festival de cinema. Até mesmo Cães de aluguel, quando Tarantino ainda era um desconhecido, percorreu um vasto circuito de festivais – até mesmo a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. “Acredito no cinema sob pressão”, contextualiza o diretor. “É bom experimentar a urgência que consome os personagens. Ela serve ao filme. E eu estaria mentindo se dissesse que não ligo para o Oscar”. O diretor correu para aprontar o filme a tempo de lançá-lo em meio à corrida pelo Oscar. “O lançamento ideal seria lá para março”.
Atores que Tarantino queria para seu filme largaram o projeto no meio. Um exemplo é Kevin Costner que faria um capataz. Especulou-se à época do casting que esse personagem seria o Vincent Vega (personagem de John Travolta em Pulp Fiction - tempos de violência) de Costner. O ator, no entanto, era frequentemente flagrado falando mal do personagem e de sua violência injustificada. Alguns meses depois do início das filmagens, Costner abandonou o projeto sem uma justificativa oficial. A assessoria do filme e do ator se aprontaram em dizer que seu compromisso com as filmagens do novo Superman ensejavam conflitos e ele teria optado pelo filme em que teria uma participação maior. Pois bem, Kurt Russell, outro ícone oitentista que já havia trabalhado com Tarantino no média metragem À prova de morte assumiu o papel, para poucos dias depois largá-lo, novamente, sem uma justificativa plausível. Outros atores como Joseph Gordon-Levitt, Sascha Baron Cohen e Jonah Hill entraram e saíram da produção em virtude dos constantes atrasos e por conflitos de agenda.
Antes disso tudo, porém, Tarantino levou um doloroso não de Will Smith, para quem havia escrito o papel de Django. Tarantino, em entrevistas recentes, tem minorado esse episódio, mas a verdade é que Django livre começou sem o seu protagonista ideal.

Certo desde sempre no elenco, o austríaco Christoph Waltz foi o único ator que participou da confecção do roteiro. Ele e Tarantino se reuniam periodicamente para discutir o texto do filme 


Niggers, Waltz e mais polêmica
Quais são os três grandes atores negros americanos da atualidade? Além de Will Smith, há Denzel Washington e Jamie Foxx. Foi a este último a quem Tarantino recorreu e foi socorrido. Seu filme, afinal, tinha um Django. “Will tem um lado bonachão. Jamie ressaltou o que há de duro, o rancor de Django. E eu acho que ele também assumiu o desejo do ex-escravo pela mulher. Jamie é um ‘ladies man”, explica Tarantino enquanto valoriza seu protagonista. Se garantir Django foi difícil, os outros três personagens centrais da trama não foram. Christoph Waltz, o icônico coronel Hans Landa de Bastardos inglórios, sempre foi a primeira opção para viver o sadomasoquista dentista que se serve do instinto de vingança de Django enquanto busca recompensas e extrai sisos. E havia também Leonardo DiCaprio. “Ele é um ator fenomenal e ajudou a construir o meu primeiro vilão que eu realmente detesto”, disse Tarantino à Total Film. A crítica internacional reagiu ao cruel escravocrata de Leonardo DiCaprio como um dos grandes momentos da carreira do ator. A parcela que desgostou do mais recente filme de Tarantino assinalou que o personagem de DiCaprio é a potencialidade do que Django livre poderia ter sido.
O que Django livre é, na verdade, é um ímã para polêmicas. A mais recente a abraçar o filme diz respeito ao uso da palavra “nigger”. A norma do politicamente correto aboliu o uso do termo (que quer dizer negro) em virtude de seu caráter depreciativo. Acusações de que o filme e Tarantino sejam racistas começaram a pipocar e Samuel L. Jackson, que faz um negro racista no filme (outro nome fechado com o diretor desde o início), saiu em defesa do filme: “Era como era naquela época. Você reproduzir isso não quer dizer que compactue com o conceito”.
O cineasta Spike Lee foi a público maldizer o filme e garantir que não veria Django livre por este ser desrespeitoso. “A escravidão não foi um western spaghetti. Foi um holocausto”. Tarantino evitou o bate boca em público, mas está cada vez mais impaciente a perguntas sobre a violência em seus filmes. Recentemente, bateu boca com um repórter que relacionou massacres como o ocorrido em uma escola primária em Sandy Hook e filmes como Bastardos inglórios e Pulp Fiction.
Mesmo violento e envolto em polêmicas, Django livre vai ao Oscar. O filme recebeu cinco indicações ao prêmio da Academia. Filme, roteiro original, Ator coadjuvante para Christoph Waltz, fotografia e edição de som.
Tarantino não acredita que seu filme ganhe algum Oscar. "Mas é legal ser convidado para a festa".

4 comentários:

  1. Adorei a matéria Reinaldo. Polêmicas à parte, verei o filme amanhã. Sempre achei o politicamente correto um porre, enfim...

    Os filmes de Tarantino são pura adrenalina, comédia assumida, o humor negro é presente desde Cães de Aluguel e reescrever a história como o fez brilhantemente em Bastardos Inglórios e agora com Django (o terceiro poderia se passar na América dos anos 30. Gangsteres e lei seca, né?) pelo ponto de vista e estilo Q.T. , bom, é uma delícia, rs!

    Vingança é outro tema decorrente. O melhor ainda é KILL BILL.

    Acho Spike Lee um pedante, chato de galochas, credo! Will Smith perdeu uma boa oportunidade na carreira. Nunca fará um filme do Tarantino (este que tem ego e é rancoroso) , nem se ele fazer um filme sobre Os Panteras Negras (eis outro tema para o terceiro desta trilogia, rs) ou "Blacula" de William Crain!

    Outra coisa: Jonah Hill faz aquela pontinha no filme ainda, né?

    Abraço.

    ResponderExcluir
  2. Rodrigo: Obrigado meu Rodrigo. Sim, Hill saiu, mas voltou. Ele tem uma ponta no filme sim. Ótimas ideias para o desfecho dessa trilogia informal do Tarantino sobre vingança. Pois é, não sei se será um ícône como Neo, mas Will Smith passa cada uma, né? rsrs
    Abração

    ResponderExcluir
  3. Ótima matéria como sempre.

    A palavra “nigger” desde Pulp Fiction. Mas, ela é usada no filme por racistas e há tantos elementos que nos fazem ver o horror que é o racismo que acho que é até absurdo chamar esse filme de racista.

    E assim como Tarantino, acho que o filme não leva Oscar algum, hehe. Talvez Christoph Waltz, mas como a academia não gosta de repremiar com tanta facilidade...


    bjs

    ResponderExcluir
  4. Amanda: é absurdo chamar esse filme de racista. Prova genuína de que ignorância nem sempre é fruto de desinformação...
    Agora, o filme não merece ganhar nenhum Oscar mesmo, né?
    Bjs

    ResponderExcluir