Sem medo de polêmicas
Um negro racista, um senhor de escravos no limite da crueldade, um ex-escravo vingador e violência transbordante em meio ao humor negro que lhe é característico; Django livre é o novo filme de Tarantino e a sequência de uma trilogia sobre vingança iniciada com Bastardos inglórios (2009)
“A ideia de fazer um spaghetti western é anterior (à
Bastardos inglórios), me acompanha há mais de dez anos e talvez tenha me
acompanhado desde sempre, mas começou a nascer efetivamente há uns sete ou oito
anos”, confessou Quentin Tarantino em entrevista a O Estado de São Paulo. O
cineasta, no entanto, reconheceu que a cena inicial somente lhe veio a cabeça
durante um evento de promoção de Bastardos inglórios no Japão.
Django livre para Tarantino é uma homenagem ao cinema de
ícones do western spaghetti como Sergio Leone, mas principalmente, Sergio
Corbucci, cineasta de extensa filmografia que permaneceu na sombra do Sergio
mais famoso. Contudo, Tarantino reconhece que Django livre é, também, a
sequência de uma trilogia informal sobre vingança iniciada com Bastardos. “O
cinema me permite reescrever a história”. O cineasta explica que ainda não
pensou na temática do terceiro filme e diz que não tem pressa para fazê-lo.
Filmagens tumultuadas
Temporais destruindo os sets de filmagens, atores entrando e
saindo do elenco, Tarantino não teve vida fácil para confeccionar seu sétimo
longa-metragem. E nem para finalizá-lo. Django livre é o primeiro filme de
Tarantino a não pousar em um festival de cinema. Até mesmo Cães de aluguel,
quando Tarantino ainda era um desconhecido, percorreu um vasto circuito de
festivais – até mesmo a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. “Acredito
no cinema sob pressão”, contextualiza o diretor. “É bom experimentar a urgência
que consome os personagens. Ela serve ao filme. E eu estaria mentindo se
dissesse que não ligo para o Oscar”. O diretor correu para aprontar o filme a
tempo de lançá-lo em meio à corrida pelo Oscar. “O lançamento ideal seria lá
para março”.
Atores que Tarantino queria para seu filme largaram o
projeto no meio. Um exemplo é Kevin Costner que faria um capataz. Especulou-se
à época do casting que esse personagem seria o Vincent Vega (personagem de John
Travolta em Pulp Fiction
- tempos de violência) de Costner. O ator, no entanto, era frequentemente
flagrado falando mal do personagem e de sua violência injustificada. Alguns
meses depois do início das filmagens, Costner abandonou o projeto sem uma
justificativa oficial. A assessoria do filme e do ator se aprontaram em dizer
que seu compromisso com as filmagens do novo Superman ensejavam conflitos e ele
teria optado pelo filme em que teria uma participação maior. Pois bem, Kurt
Russell, outro ícone oitentista que já havia trabalhado com Tarantino no média
metragem À prova de morte assumiu o papel, para poucos dias depois largá-lo, novamente, sem uma justificativa plausível. Outros atores como Joseph Gordon-Levitt,
Sascha Baron Cohen e Jonah Hill entraram e saíram da produção em virtude dos
constantes atrasos e por conflitos de agenda.
Antes disso tudo, porém, Tarantino levou um doloroso não de
Will Smith, para quem havia escrito o papel de Django. Tarantino, em
entrevistas recentes, tem minorado esse episódio, mas a verdade é que Django
livre começou sem o seu protagonista ideal.
Niggers, Waltz e mais polêmica
Quais são os três grandes atores negros americanos da
atualidade? Além de Will Smith, há Denzel Washington e Jamie Foxx. Foi a este
último a quem Tarantino recorreu e foi socorrido. Seu filme, afinal, tinha um
Django. “Will tem um lado bonachão. Jamie ressaltou o que há de duro, o rancor
de Django. E eu acho que ele também assumiu o desejo do ex-escravo pela mulher.
Jamie é um ‘ladies man”, explica Tarantino enquanto valoriza seu protagonista.
Se garantir Django foi difícil, os outros três personagens centrais da trama
não foram. Christoph Waltz, o icônico coronel Hans Landa de Bastardos
inglórios, sempre foi a primeira opção para viver o sadomasoquista dentista que
se serve do instinto de vingança de Django enquanto busca recompensas e extrai
sisos. E havia também Leonardo DiCaprio. “Ele é um ator fenomenal e ajudou a
construir o meu primeiro vilão que eu realmente detesto”, disse Tarantino à
Total Film. A crítica internacional reagiu ao cruel escravocrata de Leonardo
DiCaprio como um dos grandes momentos da carreira do ator. A parcela que
desgostou do mais recente filme de Tarantino assinalou que o personagem de
DiCaprio é a potencialidade do que Django livre poderia ter sido.
O que Django livre é, na verdade, é um ímã para polêmicas. A
mais recente a abraçar o filme diz respeito ao uso da palavra “nigger”. A norma
do politicamente correto aboliu o uso do termo (que quer dizer negro) em
virtude de seu caráter depreciativo. Acusações de que o filme e Tarantino sejam
racistas começaram a pipocar e Samuel L. Jackson, que faz um negro racista no
filme (outro nome fechado com o diretor desde o início), saiu em defesa do
filme: “Era como era naquela época. Você reproduzir isso não quer dizer que
compactue com o conceito”.
O cineasta Spike Lee foi a público maldizer o filme e
garantir que não veria Django livre por este ser desrespeitoso. “A escravidão
não foi um western spaghetti. Foi um holocausto”. Tarantino evitou o bate boca
em público, mas está cada vez mais impaciente a perguntas sobre a violência em
seus filmes. Recentemente, bateu boca com um repórter que relacionou massacres
como o ocorrido em uma escola primária em Sandy Hook e filmes como Bastardos inglórios e
Pulp Fiction.
Mesmo violento e envolto em polêmicas, Django livre vai ao
Oscar. O filme recebeu cinco indicações ao prêmio da Academia. Filme, roteiro
original, Ator coadjuvante para Christoph Waltz, fotografia e edição de som.
Tarantino não acredita que seu filme ganhe algum Oscar. "Mas é legal ser convidado para a festa".
Tarantino não acredita que seu filme ganhe algum Oscar. "Mas é legal ser convidado para a festa".
Adorei a matéria Reinaldo. Polêmicas à parte, verei o filme amanhã. Sempre achei o politicamente correto um porre, enfim...
ResponderExcluirOs filmes de Tarantino são pura adrenalina, comédia assumida, o humor negro é presente desde Cães de Aluguel e reescrever a história como o fez brilhantemente em Bastardos Inglórios e agora com Django (o terceiro poderia se passar na América dos anos 30. Gangsteres e lei seca, né?) pelo ponto de vista e estilo Q.T. , bom, é uma delícia, rs!
Vingança é outro tema decorrente. O melhor ainda é KILL BILL.
Acho Spike Lee um pedante, chato de galochas, credo! Will Smith perdeu uma boa oportunidade na carreira. Nunca fará um filme do Tarantino (este que tem ego e é rancoroso) , nem se ele fazer um filme sobre Os Panteras Negras (eis outro tema para o terceiro desta trilogia, rs) ou "Blacula" de William Crain!
Outra coisa: Jonah Hill faz aquela pontinha no filme ainda, né?
Abraço.
Rodrigo: Obrigado meu Rodrigo. Sim, Hill saiu, mas voltou. Ele tem uma ponta no filme sim. Ótimas ideias para o desfecho dessa trilogia informal do Tarantino sobre vingança. Pois é, não sei se será um ícône como Neo, mas Will Smith passa cada uma, né? rsrs
ResponderExcluirAbração
Ótima matéria como sempre.
ResponderExcluirA palavra “nigger” desde Pulp Fiction. Mas, ela é usada no filme por racistas e há tantos elementos que nos fazem ver o horror que é o racismo que acho que é até absurdo chamar esse filme de racista.
E assim como Tarantino, acho que o filme não leva Oscar algum, hehe. Talvez Christoph Waltz, mas como a academia não gosta de repremiar com tanta facilidade...
bjs
Amanda: é absurdo chamar esse filme de racista. Prova genuína de que ignorância nem sempre é fruto de desinformação...
ResponderExcluirAgora, o filme não merece ganhar nenhum Oscar mesmo, né?
Bjs