Crise criativa é algo intrínseco ao próprio sistema
hollywoodiano. É um sintoma indesviável do gigantismo do maior símbolo da
indústria cultural de nossos tempos. Portanto, soa repetitivo afirmar que as
adaptações de HQ são boias salva vidas para a indústria do cinema americano.
Mas são isso mesmo. De quebra, por meio de cineastas inventivos e vanguardistas
como Christopher Nolan, Bryan Singer e Sam Raimi, se tornaram também modelos de
cinema comercial com vocação artística. Impossível não detectar, por exemplo,
profunda ressonância filosófica no Batmam de Chistopher Nolan; ou deixar de
identificar um bem articulado comentário político em alguns filmes da franquia
mutante. Dramas essencialmente humanos podem ser vistos em sombreamentos
distintos em filmes como Homem-aranha ou Homem de ferro. Sem escapar à
percepção artística de filmes como Marcas da violência e Estrada para a
perdição, também eles adaptações de quadrinhos.
O que ocorre é que, de uns anos para cá, Hollywood constatou
que não residia apenas na literatura uma fonte fidedigna para adaptações.
Outras mídias, além de universos igualmente fascinantes, ofereciam base
consolidada de fãs, potencial comercial expansível e possibilidades narrativas
inexploradas. Dentre essas novas fontes (videogames, peças, músicas), as HQs se
apresentam como as mais ricas em variações estéticas e discursivas – ainda que
tematicamente possam parecer uniformes.
Isso porque os super-heróis são valiosos espelhos para
nossas aflições cotidianas e ainda mais interessantes do ponto de vista
catártico. Dessa maneira, a partir do momento em que se dominou o conceito de
super-herói no cinema, nada mais previsível do que industrializá-lo.
Chris Evans, o Capitão América do cinema, e Stan Lee, o criador de boa parte dos heróis da Marvel, no set de Os vingadores: Marvel tenta levar para o cinema a dinâmica narrativa de seus quadrinhos
Mais e melhor?
Quantidade, já diz o famoso dito popular, não se relaciona
necessariamente, com qualidade. Mas nessa produção em escala, os erros são
imperiosos para que se possa convertê-los em acertos. A Warner
não retomaria o personagem Batman tão cedo e o confiaria a um diretor pouco
experimentado comercialmente como Christopher Nolan, se a Fox não tivesse tido
a mesma ousadia, e sido bem sucedida, com Bryan Singer no primeiro X-men
(2000). A Sony não daria o sinal verde para Homem-aranha, que tinha um roteiro
assinado por ninguém menos do que James Cameron rodando por Hollywood há pelo
menos dez anos, se não tivesse percebido que havia potencial criativo para um
personagem como Peter Parker, garoto que de uma hora para outra descobre que
grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Conforme atesta essa seção
Tira-teima, publicada em abril de 2011 no blog, desde os anos 2000 já foram
feitos mais de 20 filmes baseados em
HQ. Nem todos, é bem verdade, primam pela qualidade. O
recente Motoqueiro fantasma – espírito de vingança, é forte candidato a pior
filme dos últimos cinco anos. Mas existe, e não tão veladamente quanto alguns
podem supor, a percepção de que os filmes de super heróis podem vocalizar
muitas contradições humanas. Nesse sentido, a forma como Christopher Nolan
percebe Batman e suas reminiscências instituiu um novo patamar de qualidade
para esse perfil de produções. Passa por aí a baixa tolerância a fitas como
Motoqueiro fantasma atualmente. Nolan, Raimi e alguns outros mostraram que não
é preciso uma abordagem superficial para fazer milhões. É possível atender aos
anseios dos estúdios, agradar aos fãs, satisfazer o público e conquistar a
crítica ao explorar nuanças investidas na própria origem desses personagens.
Uma prova de que essa maturidade veio com o tempo é a recepção pouco amistosa
que o Hulk de Ang Lee recebeu em 2003. Lee fez um drama psicológico com toque
shakespeariano e nem público e crítica estavam preparados para isso. Nolan e
Raimi foram mais sutis e econômicos nessa constante decantação.
O britânico Christopher Nolan mudou definitivamente a percepção de indústria e crítica sobre as possibilidades narrativas de um filme de super-herói
2012, por muitas razões, será decisivo para a maturação
desse gênero cinematográfico – o filme de super- herói. Primeiro pela estreia
de Os vingadores – filme que é resultado e de certa forma prefácio – do mais
ousado projeto narrativo já instituído por um estúdio de cinema (Marvel
Studios). Que no caso não era nem mesmo estúdio antes desse projeto começar.
Segundo porque o Batman de Christopher Nolan terá seu
capítulo final e o desfecho da trilogia pode arrematar com chave de ouro todas
as conquistas a ela creditada ou por tudo em cheque. Terceiro
porque a Sony apresenta sua jogada de risco: um reboot da franquia Homem-aranha, que é a mais rentável da história do estúdio. São apenas dez anos
do filme original e a proposta nasceu, na verdade, de discordâncias com o
diretor Sam Raimi a respeito dos rumos da série. Se vingar, prova de vez as
imensas possibilidades narrativas proporcionadas por esses personagens tão
ricos. Se der errado, poderá comprometer toda essa estrutura erigida que o
presente artigo ilumina.
A expectativa é de que tudo transcorra bem. Mas existe a
possibilidade de os maias, pelo menos, derrubarem os super-heróis.
Dos três apenas o reboot do Homem-aranha ainda não me empolgou, achava melhor que a Sony tivesse devolvido o personagem à Marvel para ele estar em Os Vingadores, mas vamos ver.
ResponderExcluirOutro fator que ajuda no surgimento dos heróis na tela é também a tecnologia, né? Agora, eles podem ser feitos de uma maneira mais realista, apesar disso não ser fator determinante para um bom filme e uma boa história, vide o antigo Super Homem.
bjs
Perfeito seu texto, Reinaldo. Eu acho que os filmes protagonizados por grandes herois possuem uma natural tendência ao sucesso porque a gente adora esse tipo de história. Especialmente se ela tem um conflito humano muito bem delineado. Para o ano de 2012, além de "Os Vingadores", estou ansiosa pelo capítulo final da franquia "Batman" como imaginada por Christopher Nolan (foi dele o papel fundamental para a consolidação e para a elevação do padrão desse gênero cinematográfico) e para a reinvenção de "O Homem Aranha".
ResponderExcluirBeijos!
Cada vez melhores? Acho justamente o contrário. Já até desisti de ver filmes do gênero. Minha última experiência foi com "Capitão América", e que decepção! =/
ResponderExcluirAmanda: Belo complemento Amanda. De fato, o avanço tecnológico - ainda que não seja essencial - possibilitou um aprimoramento narrativo nesse subgênero que não pode ser desprezado.
ResponderExcluirBjs
Kamila: Obrigado Ka. Tb estou ansioso pelos três filmes. Mas muito desconfiado deles para ser sincero. Principalmente do rebbot do Homem-aranha.
bjs
Matheus Pannebecker: Aí é uma questão de percepção e afinidade, né Matheus? Me parece inegável que os filmes adaptados de HQ atingiram um grau de maturação impensável há coisa de cinco anos. Veja o reboliço que O cavaleiro das trevas fez promoveu na academia!
Como atento no texto, existe uma industrialização do gênero. É quase que uma comédia romântica, para alinhar aos clichês. Daí a importância de gente como Nolan e Raimi. Mas vamos ver o encaminhamento que 2012 dará ao conceito com esses três filmes em particular.
Abs
Sparrow: Sim foram mais de 30 Sparrow, o número foi conservador... rsrs
ResponderExcluirAbs