quinta-feira, 12 de abril de 2012

Causos de cinema - Os vingadores




Roberto sempre foi nerd, mas só recentemente aceitou essa condição plenamente. Isso porque Roberto vem de uma época em que ser nerd não era exatamente pop. Mudou a sociedade, mas não mudou Roberto. Para todos os efeitos ele é um PHD em ‘nerdice’. E PHD em nerdice que se preze, precisa se refugiar em HQs. No caso do Roberto, os quadrinhos de heróis. Ele se lambuzava, metaforicamente por favor, com as histórias do Super-homem, do Batman, do Homem-aranha, dos X-men...
No aniversário de 20 anos de Roberto estreava nos cinemas brasileiros o primeiro X-men. Foi um acontecimento. É difícil precisar a euforia de Roberto. Foram noites mal dormidas, conversas pela neandertal rede social ICQ com outros nerds que como ele pouco dormiam às vésperas do lançamento do filme e muita expectativa. Roberto estava entusiasmado com o promissor mercado para as adaptações de HQ no cinema americano. Durante a faculdade de Letras foram lançados Homem- aranha 1 e 2, Hulk, X-men 2 e Demolidor. Cada filme era um evento social na vida de Roberto. O equivalente a um casamento ou mesmo a aprovação em um concurso público. Era tamanha a ansiedade que os familiares temiam que o rapaz ficasse diabético ou hipertenso. Sabe como é, a vida tem das suas ironias e Roberto era nerd, não super-herói.
Mas curioso mesmo foi quando Roberto começou a dar aulas. Lembre-se: ele sempre foi nerd! Emendou a graduação em simultâneos mestrado e doutorado. E ainda tinha tempo de devorar seus gibis!
Pois bem. O doutor Roberto se tornou docente de uma prestigiada universidade paulista, em regime exclusivo, como prega a moda européia. Não declinaremos a universidade para não incorrermos em propaganda. Fato é que Roberto, aos poucos, foi se tornando um super vilão. Ainda que algumas alunas vissem nele um “quezinho” de Tony Stark. Ah, essas alunas!
Roberto, para começar, era especialmente ardiloso com os alunos valentões. Aqueles que costumam espezinhar nerds como Roberto. Mas Roberto agora era professor e essa autoridade, aparentemente, transformava a nerdice em charme. O folclore que movia as aulas do professor Roberto é que todas, de alguma maneira, se relacionavam a super-heróis. E, naturalmente, quem apresentava maior desenvoltura no tema se tornava imediatamente protegido do professor Roberto. Homem afável e atencioso com quem sabia de cor todos os lanternas verdes do universo ou a história de Krypton, mas sombrio com quem não era capaz de indicar o nome do diretor de Quarteto fantástico.
Bartolomeu era quem mais sofria nas mãos do professor Roberto. Muito nerd, Bartolomeu quebrava a corrente da qual Robert descendia. Não entendia, ou pior, não fazia a menor questão de entender bulhufas de HQs e todo o seu universo. Bartolomeu estudava horas e mais horas para conseguir conceitos medianos com o professor. Ele e Roberto promoviam verdadeiros debates histéricos a respeito da concepção sociológica econômica vigente, mas na verdade discutiam veladamente sobre se quadrinhos eram ou não artisticamente relevantes. O grupo teatral da faculdade de comunicação até encenou uma peça sobre os dois. Tudo com licença poética é claro. O título da peça? Os vingadores. Pois é, os nerds aprenderam a ser populares. 
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Causos de cinema é um conto ficcional e tem periodicidade mensal em Claquete. Sempre brincando com personalidades do cinema, grandes filmes, curiosidades cinéfilas e afins. Deixe sua opinião e sugestões.

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