Roberto sempre foi nerd, mas só recentemente aceitou essa
condição plenamente. Isso porque Roberto vem de uma época em que ser nerd não
era exatamente pop. Mudou a sociedade, mas não mudou Roberto. Para todos os
efeitos ele é um PHD em ‘nerdice’. E PHD em nerdice que se preze, precisa se
refugiar em HQs. No
caso do Roberto, os quadrinhos de heróis. Ele se lambuzava, metaforicamente por
favor, com as histórias do Super-homem, do Batman, do Homem-aranha, dos
X-men...
No aniversário de 20 anos de Roberto estreava nos cinemas
brasileiros o primeiro X-men. Foi um acontecimento. É difícil precisar a
euforia de Roberto. Foram noites mal dormidas, conversas pela neandertal rede
social ICQ com outros nerds que como ele pouco dormiam às vésperas do
lançamento do filme e muita expectativa. Roberto estava entusiasmado com o
promissor mercado para as adaptações de HQ no cinema americano. Durante a
faculdade de Letras foram lançados Homem- aranha 1 e 2, Hulk, X-men 2 e
Demolidor. Cada filme era um evento social na vida de Roberto. O equivalente a
um casamento ou mesmo a aprovação em um concurso público. Era tamanha a
ansiedade que os familiares temiam que o rapaz ficasse diabético ou hipertenso.
Sabe como é, a vida tem das suas ironias e Roberto era nerd, não super-herói.
Mas curioso mesmo foi quando Roberto começou a dar aulas.
Lembre-se: ele sempre foi nerd! Emendou a graduação em simultâneos mestrado e
doutorado. E ainda tinha tempo de devorar seus gibis!
Pois bem. O doutor Roberto se tornou docente de uma
prestigiada universidade paulista, em regime exclusivo, como prega a moda
européia. Não declinaremos a universidade para não incorrermos em propaganda. Fato
é que Roberto, aos poucos, foi se tornando um super vilão. Ainda que algumas alunas
vissem nele um “quezinho” de Tony Stark. Ah, essas alunas!
Roberto, para começar, era especialmente ardiloso com os
alunos valentões. Aqueles que costumam espezinhar nerds como Roberto. Mas Roberto agora era professor e essa autoridade, aparentemente, transformava a
nerdice em charme. O
folclore que movia as aulas do professor Roberto é que todas, de alguma
maneira, se relacionavam a super-heróis. E, naturalmente, quem apresentava
maior desenvoltura no tema se tornava imediatamente protegido do professor
Roberto. Homem afável e atencioso com quem sabia de cor todos os lanternas
verdes do universo ou a história de Krypton, mas sombrio com quem não era capaz
de indicar o nome do diretor de Quarteto fantástico.
Bartolomeu era quem mais sofria nas mãos do professor
Roberto. Muito nerd, Bartolomeu quebrava a corrente da qual Robert descendia.
Não entendia, ou pior, não fazia a menor questão de entender bulhufas de HQs e
todo o seu universo. Bartolomeu estudava horas e mais horas para conseguir
conceitos medianos com o professor. Ele e Roberto promoviam verdadeiros debates
histéricos a respeito da concepção sociológica econômica vigente, mas na
verdade discutiam veladamente sobre se quadrinhos eram ou não artisticamente
relevantes. O grupo teatral da faculdade de comunicação até encenou uma peça
sobre os dois. Tudo com licença poética é claro. O título da peça? Os
vingadores. Pois é, os nerds aprenderam a ser populares.
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