Verdade e poesia!
Além de ser uma raridade dentro da produção cinematográfica
brasileira, um filme como Heleno (Brasil 2012) se apresenta, também, como
raridade dentro do esquete de filmes biográficos. Isso porque privilegia não a
iconografia que leva às telas de cinema, no caso do jogador de futebol Heleno
de Freitas, mas a humanidade escondida atrás de tal iconografia. Contudo, não
renuncia a certa veia poética que, tanto o tema periférico, o futebol, quanto à
época retratada, os anos 40 e 50, favorecem. Isso tudo adornado por uma
reconstituição de época primorosa e por uma fotografia em preto e branco não
menos do que espetacular - assinada pelo maior fotógrafo do cinema nacional em
todos os tempos, Walter Carvalho.
José Henrique Fonseca foi corajoso ao evitar, ao investigar
Heleno de Freitas, enveredar pelas vias fáceis da bajulação ou da condenação
compulsória – tão constante no tocante a figuras polêmicas, como era o caso de
Heleno.
Jogador genial e genioso, Heleno teve a primazia de ser o
primeiro jogador problema da história do futebol brasileiro. Mas há muita
tragédia em sua trajetória que o torna um personagem irresistível. Só jogou 25
minutos no Maracanã, notoriamente o maior palco de futebol do mundo. Não
disputou as copas do mundo em que tinha tudo para ser o grande destaque. Morreu
só e jovem em um hospício afetado por uma sífilis que se recusou a tratar. É
uma bagagem e tanto para ser lapidada em um filme de duas horas. Fonseca, com o
apoio incondicional de um Rodrigo Santoro soberbo, cumpre essa árdua tarefa.
Realiza um filme triste, mas solar. Festivo, mas sensível. Histórico, mas
livre. O pênalti que Heleno perde em uma partida decisiva, por exemplo, não
ocorreu. Mas a dimensão dramática alcançada por aquele evento elevou Heleno, o
filme, a outro patamar. É dessa conjunção muito bem elaborada entre realidade e
ficção que Heleno, o filme, se vale para construir o retrato de um homem
naturalmente complexo. O maior reconhecimento que se podia prestar a um jogador
que poderia ter sido muito maior do que se permitiu ser é iluminar suas qualidades
sem obscurecer seus defeitos. Heleno consegue isso e muito mais. É um filme que
consegue ser justo com seu biografado, por vezes até mesmo duro com suas incorreções,
mas não deixa de lhe ser atencioso. A atuação de Rodrigo Santoro, nesse
sentido, é providencial para que o público se lembre que Heleno de Freitas era
sim muito humano. Talvez até demais!
Texto muito bom. Ainda quero ver Heleno, mas pelo visto tem dividido opiniões. Já li pessoas reclamando do estilo de narrativa. Só vendo para tirar as conclusões. Abs.
ResponderExcluirTô com boas expectativas... só leio comentários positivos, uns até fazendo uma comparação com Touro Indomável!
ResponderExcluirE às vezes uma licença poética vai bem mesmo!
O pênalti não existiu? hehehe, me enganou direitinho. E é isso, mesmo, o filme privilegia a emoção desse anti-herói instigante. Gostei bastante tb. Belas palavras!
ResponderExcluirbjs
Excelente crítica! Estou para conferir este com Santoro também. Deste diretor, gosto bastante de "O Homem Do Ano" aquela fita com Murilo Benício que mata um badido barra pesada e vira herói do bairro e depois matador profissional.
ResponderExcluirO trabalho do Walter Carvalho é de tirar o chapéu, acredito que tanto na área como diretor de cena como na de fotografia.
Preciso assistir!
Abs.
Celo:Pois é, o filme tem dividido opiniões mesmo.Mas a grande maioria o percebe de forma positiva.
ResponderExcluirAbs
Bruno Knott: O próprio José Henrique Fonseca admitiu que "touro indomável" era uma influência. De fato há muitas similaridades entre as obras, mas Touro indomável é mais ousado esteticamente e narrativamente mais coeso.
Abs
Amanda: Obrigado Amanda. Pois é, o cinema oferece reivenções que permitem fidelidade ao personagem, não é mesmo?
Bjs
Rodrigo Mendes: Pois é, "Heleno" é o segundo longa dele. No interín, ele foi responsável pela ótima série Mandrake, adaptação da obra do pai, para a HBO. E obrigado pelos elogios!
Abs