domingo, 20 de novembro de 2011

Insight

Afinal, David Fincher quer ou não quer um Oscar?


É sabido que David Fincher é dos cineastas mais cultuados da Hollywood atual. Seu cinemal cerebral foi altamente celebrado pela crítica no final dos anos 90 e começo da década passada com filmes como Seven (1996), Clube da luta (1999) e Zodíaco (2007). O refinamento técnico de Fincher lhe valeu a fama de perfeccionista irritadiço. São célebres e famosas suas inclinações a longos e repetidos takes. Gente como Jesse Eisenberg, Elle Fanning, Kristen Stewart, Rooney Mara e o amigo Brad Pitt já discorreram sobre a predisposição do diretor de capturar o máximo de material para dispor na sala de edição. Fincher já se viu impelido a justificar-se sobre essa “característica” em variadas entrevistas.  A mais detalhista foi uma concedida às vésperas do Oscar 2011, no qual concorria pela direção de A rede social, em que comentou, entre outras coisas, sobre sua forma de trabalhar e o por que da necessidade de fazer exatas 97 tomadas da cena inicial de A rede social.
Agora, às vésperas do lançamento de Os homens que não amavam as mulheres, David Fincher volta à bateria de entrevistas promocionais. Recentemente foi tema de um perfil lisonjeiro do amigo Aaron Sorkin, com quem colaborou no oscarizado A rede social, na revista Vanity Fair. Seu novo filme, que é ventilado –ainda que timidamente - para o Oscar 2012, é capa da edição de 18 de novembro da revista Entertainment Weekly e o diretor se vê, mais uma vez, no centro da constante boataria sobre os possíveis indicados ao Oscar.
Com uma filmografia curta, mas com filmes cada vez mais constantes, de extrema coerência e qualidade, David Fincher é tido, também, como um sujeito arrogante. Há quem diga em Hollywood que ele só participa de entrevistas e eventos promocionais por força contratual. O perfil de Sorkin na Vanity Fair, que pode ser lido aqui, não desmente tais boatos. Os relativiza. Outro rumor que sonda David Fincher é um possível desdém pelo Oscar. Vez ou outra o diretor se refere ao prêmio, tanto a amigos como em entrevistas, como algo supervalorizado. Não foi diferente na nova Entertainment Weekly. Perguntado se alimenta esperanças sobre uma possível indicação ao Oscar, seria a terceira de sua carreira e em um espaço de cinco anos, Fincher minimizou: “Não vejo razão para tanta consternação. Até entendo o conceito do Oscar e se o filme ou meus colaboradores vão ser celebrados, acho válido, mas não estou nessa pelos prêmios”, declarou à publicação. Sorkin escreveu que Fincher queria ganhar o Oscar mais para não ouvir as condolências de colegas do que por qualquer outra razão. A ilação de Sorkin não se verifica no discurso algo agressivo preparado por Fincher em caso de vitória, que ele confidenciou a Sorkin. O curto texto dizia “finalmente respondemos a pergunta, maçãs ou laranjas?”, em uma alusão a dificuldade de julgar o melhor entre trabalhos tão diversos. Mas o David Fincher que recebeu o Globo de ouro em janeiro de 2011, ainda que marcado pelo ar superior que lhe é característico, não parecia descontente com o prêmio que acabara de receber.

Fincher e Justin Timberlake: todo mundo espera o momento em que o diretor será agraciado com uma merecida estatueta do Oscar 

Fincher e seu discurso de agradecimento pelo prêmio de melhor diretor no último Globo de ouro: arrogante, como esperado...


A pergunta que se coloca é: David Fincher quer ganhar um Oscar? Merecer, ele merece. É dos cineastas mais inventivos da atualidade. Visualmente arrebatador, demonstra perícia em termos de linguagem e astúcia narrativa. O Oscar é mais do que um selo de legitimidade. É um símbolo vivo e perene de imortalidade artística. David Fincher sabe disso. Sabe também que a espera pode ser ingrata. Está aí Martin Scorsese para provar. Sabe também que o reconhecimento prescinde do Oscar. Hitchcock e Kubrick podem ser aventados nesse segmento. Mas é através de seu desdém, em tom cada vez mais agressivo, que pode-se tangenciar uma resposta mais provável e a velha máxima do “quem desdenha quer comprar” se aplica aqui.
Muitos estranharam quando David Fincher renunciou ao “filme cerebral” para rodar o emocional, ainda que muito contido, O curioso caso de Benjamim Button -  que lhe valeu sua primeira indicação. Foi justamente nessa época, quase que como resposta instintiva às ilações da imprensa, que Fincher começou a dar de ombros para a honraria máxima do cinema. Não que ele tenha feito O curioso caso de Benjamin Button para ganhar o Oscar, mas não dá para excluir as variantes da escolha. O próprio perfil que Sorkin fez do amigo, com uma inclinação óbvia de campanha em prol de Fincher no Oscar, revela que o descaso não é tão efetivo assim. A vaidade não permite que Fincher admita sua ansiedade, mas ela está lá. Arisca e cortejada por todos que a pressentem.

7 comentários:

  1. David Fincher é um grande diretor, com filmes com características bem próprias e bem autorais que merece ganhar o Oscar. E a experiência me diz que quem desdenha mais do prêmio, como ele mesmo fez, dando declarações recentes sobre este assunto, é quem mais quer ganhar a estatueta dourada. Acho que ele deu foi uma indireta à AMPAS. rsrsrsrs

    Beijos!

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  2. Se ele quer ou não, realmente não sei, hehe, mas de fato merece. Agora não sei se será com "Os homens que não amavam as mulheres", o gênero não édos mais propícios, mas posso estar enganada. Aliás, espero que ele consiga traduzir o frisson que foi ler o livro, coisa que a versão cinematográfica sueca não conseguiu produzir em mim.

    bjs

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  3. Hoje eu tenho descaso com o Oscar. Admito sua importância apenas comercial para um filme e envolvidos, mas é também uma festa que deixa os cinéfilos sempre atentos. Pra mim, o prêmio em si não significa nada em termos de qualidade. Quantos filmes mereciam e foram injustiçados? Quantos artistas mereciam e foram igualmente injustiçados? Na verdade nada muda a importância da obra e dos autores e vc cita importantes mestres do cinema.

    Fincher precisa deter esse ar arrogante. Impressão esquisita, mas tb não conheço o cara pessoalmente. Só o que lemos e assistimos sobre ele ainda me é distante. Evidente que gosto de seus filmes, já tem obras-primas na carreira e é admirável que ele tenha começado por baixo até assinar grandes produções Classe A que se justificam como filmes excelentes (até o B Quarto do Pânico).

    Status sempre me incomodou Reinaldo, mas tb faz parte do pacote do show business, não é? Já Kubrick nem se esforçava e ficava quieto no canto dele. Só saia de casa pra fazer O FILME! Admiro isso. E Hitch era um poço de simpatia reservada. Admiro isso (2)! Outro cara que admiro é Terrence Malick. Da pra ver que não sou fã de exibições, rs (Tarantino e Almodóvar adoram isso...os flashes). Por mim Fincher nesta altura da sua filmografia não precisa querer mais nada, apenas comer mais feijão com arroz para envelhecer bem como Kubrick e Hitchcock. Falta chão....opa...muitos tapetes vermelhos!

    Abs.

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  4. Kamila: É óvio que Fincher quer ganhar um Oscar. Além de sinalizar isso com os projetos que escolhe e os colaboradores aos quais se cerca, tanto desdém aponta para isso. Vc não vê, por exemplo, Chris Nolan batendo tanto nessa tecla.
    Bjs

    Amanda: tb não acho que o Oscar venha por Os homens que não amavam as mulheres, mas uma indicação pode pintar...
    Bjs

    Rodrigo Mendes: rsrs. Vc com esse "descaso" com o Oscar. Discordamos forte aí. Eu ADORO o Oscar. sim ele tem uma porção de injustiças, sim é um jogo que tempera política e marketings, mas é irresistível. Eu adoro. Mas entendo o seu descontentamento. Diferentemente da época de Kubrick e Hitch, dá para vc perceber - apenas como observador midiático - se tal artista faz questão ou não de um Oscar. Por exemplo, Daniel Day Lewis - que já tem dois - me convence quando diz que não liga para o Oscar. David Fincher não.
    Abs

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  5. Me fiz a mesma pergunta esses dias, Reinaldo. O artigo de Aaron Sorkin plus o próprio comentário do diretor de que seu próximo filme, "Homens que Não Amavam as Mulheres", é out-Oscar por conta de cenas pesadas... eu não afirmaria que seja arrogância, acho que o "desdém" de Fincher ao Oscar é bem genuíno. Acredito que ele queira um, mas não veste a camisa Ron Howard para desesperadamente abocanhar uma estatueta.

    Quem não quer um Oscar? Deve fazer um beeeem pro ego rs, mas como afirmei, não acredito que Fincher se esforce para ganhar um, embora ele já tenha merecido uns pares =) Pra mim, um dos melhores diretores contemporâneos que temos, como tu bem cita, rigor técnico em dia e narrativa racional, objetiva, direta e incômoda por vezes.

    abs!

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  6. Elton: O desdém é genuíno? Tb acho. Toda dor de corno é genuína Elton. rsrs. Pode anotar aí. Ele quer MUITO um Oscar. Só que é arrogante demais para admitir isso. Ele não vai mudar o discurso. Como vc bem comparou, não é um Ron Howard ou um Martin Scorsese. Ainda que tenha feito um filme (Benjamin Button) que esses dois poderiam ter feito (mas fez de um jeito Fincher lógico)rsrs.
    Aquele abraço

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  7. Oi, Reinaldo, parabéns pelo seu post. Acho que é a primeira vez que leio algo tão verdadeiro sobre David Fincher. Amo os filmes do cara, aliás amo também seus clipes. Sim, ele ostenta uma postura arrogante/defensiva? diante das cada vez menos raras entrevistas que ele concede. Arrogância, geralmente, é sinal de insegurança, mas numa coisa eu concordo: o Oscar é superestimado demais pelo cinema norte-americano. É como se os artistas lá (inclusive todos os responsáveis técnicos por uma produção) se sentissem na obrigação de ganhar a estatueta. É mais ou menos assim: se você não ganhá-la, não pode fazer parte do clube. Isso é típico deles. Muitos diretores não precisam dele. Inclusive o Fincher. Grandes diretores foram ignorados e não morreram por causa disso. A única coisa que me decepcionou no Fincher é que ele está mudando. Ele está cedendo à pressão. Primeiro, com a refilmagem (dispensável) do filme suéco. Agora parece que ele vai topar refilmar Cleópatra. Ele não precisava disso. Ele ganhou milhões de fãs no mundo por fazer exatamente o contrário. Na minha opinião, ele sempre se pareceu com os personagens de Clube da Luta, alguém que remava contra a maré. E isso era legal nele, o cara demonstrava uma p... personalidade, mas agora parece que ele cansou de ser visto como, digamos, um Alien. Ele quer sim, mais do que nunca, fazer parte do clube. O cara que um dia gritou para todos ouvirem: "Para mim, é incrível saber que a Fox é o estúdio número um do País com o maior número de idiotas", agora se comporta como um. Triste!
    Abraços.

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