domingo, 13 de novembro de 2011

Insight

As arestas de J.Edgar

Certamente o leitor já ouviu falar de J.Edgar, a cinebiografia que Clint Eastwood fez do fundador do FBI, uma das personalidades mais controvertidas da cena política americana no século XX. Desde anunciado, o projeto chamou a atenção. Marcaria a primeira colaboração de Eastwood com o ator Leonardo DiCaprio, cada vez mais gabaritado, a partir do roteiro de Dustin Lance Black que acabava de conquistar um Oscar pelo texto de Milk- a voz da igualdade.
O pedigree de J. Edgar só foi aumentado a medida que o projeto ganhava forma. A sensação de A rede social, Armie Hammer, foi contratado para o elenco que ainda dispunha das não menos interessantes Judi Dench e Naomi Watts.
Contudo, na semana em que entra em cartaz nos EUA (no Brasil a estréia está programada para o final de janeiro), o filme encontra, além de forte resistência de setores da crítica e da indústria, alguns dissabores de ordem social.

Clint Eastwood, Leonardo DiCaprio e Dustin Lance Black no lançamento do filme no AFI fest na última semana em Los Angeles: do hype a desconfiança


Tudo começou com a postura pouco amistosa do roteirista Dustin Lance Black que, sempre que podia, rebatia com certo grau de intolerância as perguntas sobre como a possível homossexualidade do protagonista seria abordada no filme. Leonardo Di Caprio, que dá vida a J.Edgar, embora lacônico nas respostas, sempre se mostrou mais atencioso e bem tratado. Outro ponto que chacoalhou o marketing do filme foi a manifestação pública de altos executivos do FBI externando preocupação com o “forte componente difamatório” que o filme poderia veicular. O FBI chegou, inclusive, a procurar a Warner Brothers (estúdio responsável pelo filme) e Clint Eastwood para expressar essa apreensão. Ainda que essa expressão possa ser percebida como achincalhamento.
Eastwood e DiCaprio afinaram o discurso e disseram que tudo que está no filme a respeito da sexualidade de J.Edgar Hoover e sua vida privada está disponível no vasto material biográfico sobre a controvertida figura do fundador do FBI.
Afora essa questão, o primeiro trailer do filme que desde 2010 era apontado como certeza no Oscar 2012 não cativou. O academicismo do material promocional antecipava um daqueles filmes de estúdio desalmados e calculados para figuração na temporada de premiações. Situação esta que não melhorou após as primeiras exibições do filme para a crítica. A ideia da Warner era esconder o filme e mostrá-lo a críticos selecionados capazes de colocar o filme em posição privilegiada na corrida pelo Oscar. O plano não deu certo. Ainda que a fita conte com o endosso de prestigiados veículos como o New York Times e o Los Angeles Times, o consenso geral é de que se trata de um filme mediano, frequentemente evasivo, e por vezes desinteressante. É um duro golpe para um filme que conta com a assinatura de Clint Eastwood, que, ainda que em queda em relação ao momento que viveu no meio da década passada, é um cineasta de profunda reverberação. Analistas indicam o sufrágio de J.Edgar na temporada de premiações antes mesmo da largada. Há quem considere que o filme só tem chances válidas nas categorias de ator e ator coadjuvante, maquiagem e figurino. São prognósticos inquietantes.

Um envelhecido Leonardo DiCaprio em cena do filme: o ator e o trabalho de maquiagem são os "pontos fortes" segundo consenso da crítica americana


Outra preocupação do estúdio é tornar a fita vendável após tantas pancadas. Depois de esconder o filme durante meses a fio, J.Edgar será lançado sob uma saraivada de críticas negativas e um forte humor de descontentamento. Além do mais, seu tema é menos atraente do que o de outros possíveis candidatos ao Oscar como Uma semana com Marilyn, Os homens que não amavam as mulheres e Tão forte e tão perto. Há quem diga que o estúdio já considera investir pesado na campanha em prol de Leonardo DiCaprio no Oscar para evitar um revés financeiro maior.
É inegável que J.Edgar estréia sob dúvidas que ninguém imaginava possíveis há um ano atrás, quando da divulgação de sua produção. Agora, é observar como essa intrincada trama irá se resolver. 

6 comentários:

  1. Realmente, o filme prometia muito. Este caso lembra um outro filme de Eastwood recente e que ainda não assisti, "Além da Vida". Achei que desta vez, o marketing da Warner foi meio vagabundo para "J. Edgar". Mesmo com as críticas mistas, quase todas são unânimes com relação a DiCaprio.

    Beijos! ;)

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  2. Eu fiquei muito surpresa com a recepção fria que "J. Edgar" recebeu. Parecia ser um daqueles filmes que arrasaria nas críticas. Não entendo o que aconteceu, talvez, quando assistir, eu compreenda as críticas. Mas, ainda acho que Leonardo di Caprio terá um importante papel na disputa do Oscar de Melhor Ator, em 2012.

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  3. Que coisa em Reinaldo?(!) Acredito que por mais interessante que o marketing possa ser, se a fita tem problemas, ela tem problemas e ponto. Creio tb que tudo isso se deve a própria figura história. J.Edgar Hoover, que foi um homem um tanto odiado. Alguns filmes que eu vi retratando ele (ex.: a cinebiografia de Chaplin com Robert Downey Jr.) ele sempre aparece como vilão. Mas veja, Oliver Stone foi corajoso ao fazer NIXON, outra figura controvérsia, mas o filme foi bem recebido pelo que sei, além de ser bom.

    Mas tudo ainda, ao menos para mim, é relativo. Preciso é ver o filme independente dos problemas que ele teve em sessões prévias e descontentamento comercial que apenas se inicia.

    Tb já estou tão desanimado (e farto) com essa coisa de Oscar... que para mim não mede a qualidade de um filme, só no que diz respeito a publicidade do mesmo e que certamente interessa mais ao estúdio e aos envolvidos do que ao público, sempre passivo as estréias e ao evento do glamour.

    Abs.

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  4. Admiro Clint demais, mas estou muito decepcionado com o seu cinema nos últimos anos. 2 ou 3 obras se destacam, na minha percepção. "J. Edgar" surgiu sem me empolgar muito considerando a veia sentimentalista que Eastwood vem exercendo na sua filmografia recente. Acho que ele não está conseguindo mensurar tudo isso, não consegue o limite e tudo extrapola o humanismo das obras e soa piegas, exagerado, melodramático.

    O elenco é de babar - ele sempre está apoiado por atores de peso, com exceção de "Gran Torino", porque né... -, mas não sei. Estou com muito pé atrás. Quanto a Oscar, acho que só DiCaprio poderá ser indicado, e olhe lá, pois a concorrência neste ano é grande.

    abs!

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  5. Desde o começo eu achei desinteressante, mas pocha, tem direção de Eastwood e DiCaprio como protagonista... Só isso que me chama a atenção. Se fosse outra dupla, eu certamente nem ligaria para esta produção.

    Abs.

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  6. Mayara: Gostei de "Além da vida" Ma. É um bom filme. Superior a "Invictus", por exemplo.
    bjs

    Kamila:É lógico que precisamos ver o filme para ter uma correta dimensão do fato, mas é das recepções mais desestabilizadoras que um filme de Eastwood já recebeu no período recente.
    Bjs

    Rodrigo: E eu continuo sem entender esse seu desânimo com o Oscar viu?! De qualquer jeito, estou ansioso por J.Edgar.
    Abs

    Elton: Não tem jeito. "Gran Torino" será uma de nossas grandes discordâncias. eu o acho um filme supremo. Dos melhores de Clint e dos melhores da década passada. J. Edgar, para mim, surgiu como um projeto inusitado para Clint, mas ainda sim interessante. Apesar dos pesares, mantenho minha curiosidade aguçada pela fita.
    Abs

    Alan: Rsrs. Já eu achei o projeto interessante desde o início. Hoover é uma figura bastante atraente e esse time responsável pela fita é dos mais respeitáveis. Vamos ver como esse rolo vai se "desenrolar"
    Abs

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