quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Crítica - O palhaço

Em busca da própria graça!

A ideia do palhaço triste é algo que, além de extremamente metafórico, permeia uma produção artística que se  pretende revisionista. Não á toa, Selton Mello escolheu a cena circense e esse personagem tão bucólico para elaborar (e superar) uma crise que vivenciava com a própria profissão. O palhaço (Brasil 2011), segunda incursão de Selton atrás das câmeras, se apresenta também como uma homenagem a um tipo de entretenimento desgarrado do século XXI: o circo. Mas o alcance da fita excede o caráter reverente com que acena para os profissionais do riso.
Benjamin é o responsável pelo circo Esperança, um circo itinerante que se apresenta por cidades do interior mineiro. Benjamin também é artista. No palco, que divide com seu pai – vivido pelo grande Paulo José - é o palhaço Pangaré. Pangaré e Puro Sangue (seu pai) desfrutam de uma química que não se reproduz fora dos palcos na relação pai e filho. Benjamim parece atordoado por uma melancolia cada vez mais forte. O sonho de poder comprar um ventilador e o fato de “não ter tempo” para tirar os documentos de identidade surgem como poderosos elementos sobre os quais a realização estipula toda a força da narrativa que se desenvolve. A partir desses ganchos, O palhaço vai se construindo como um filme cujo protagonista procura desesperadamente sua identidade. Sua razão de viver.
O palhaço é, portanto, uma viagem ao íntimo de um artista que descobre que se justifica e vive por meio de sua arte. Um memorando alçado em simplicidade e poesia pela eficiente lógica visual que Mello emprega em seu filme. Desde os olhares embevecidos das crianças, à inocência de personagens que parecem pertencer a outra era (e a um outro cinema).

Mello em cena do filme: ecos fellinianos que estipulam a arte como objeto da vida


Os artifícios narrativos de O palhaço só comprovam o acerto da realização na conjugação orgânica que propõe dos temas. A introspecção de Benjamim; a união arisca dos integrantes da trupe; o conformismo doído de Puro Sangue e a constatação de que, às vezes, é preciso se perder de certas ambições e permitir-se ser feliz.
O palhaço, por fim, revela um cineasta capaz de filtrar experiências pessoais e imprimi-las de maneira rica e vivaz em seus filmes. Em seu segundo filme, Selton Mello apresenta também uma notável evolução no ofício de cineasta. Mostra-se um diretor capaz de trabalhar emoções genuínas e provocar reflexões amargas e adocicadas enquanto homenageia uma arte esquecida. O palhaço confirma as expectativas. Respeitável público, este é um dos achados de 2011.  

6 comentários:

  1. Nossa, eu estou super a fim de ver esse filme. Ainda mais depois dessa sua crítica. Espero que ainda esteja em cartaz...

    Beijos,
    Aline

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  2. Fui adiando... adiando, que acabou ficando pro DVD. Infelizmente.

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  3. Achei este segundo longa metragem de Selton como diretor uma obra-prima! Aquele filme realmente bem feito em cada centímetro de película. Cuidadoso e emocionante.

    Assisti no cinema e me senti frente a um picadeiro.

    Abs.

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  4. Lindo o filme, não é mesmo? Aquele final emociona tamanha beleza, o espetáculo final. Gosto de muitas sutilezas de "O Palhaço", como tu mesmo apontou, Reinaldo, de ele não ter tempo de fazer os documentos, não ter RG, e estar na procura de sua própria identidade. A figura do ventilador também desempenha papel importante e tal... é uma homenagem à arte popular brasileira, com a presença de humoristas conssagrados, como Loredo e Moacyr Franco.

    Engraçado pela sua inocência e encantador pela sensbilidade, Mello já se confirma como um cineasta consolidado do nosso cinema o//


    abs!

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  5. Aline: Está em cartaz sim Aline. Vai que vc vai gostar.
    Bjs

    Alan: Mas vai valer a pena. Na telona ou na telinha.
    Abs

    Rodrigo: Excelente comparação Rodrigo. Olha, não sei se é uma obra-prima. Mas é um filme belíssimo.
    Abs

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