terça-feira, 30 de agosto de 2011

Crítica - Amor a toda prova

No ponto certo!


Não é difícil rememorar comédias românticas que excedam expectativas. São poucas. Para ficar nos últimos anos podemos citar Terapia do amor (2005), Separados pelo casamento (2006) e Eu meu irmão e nossa namorada (2007). É com o protagonista deste último que Amor a toda prova (Crazy, stupid, love EUA 2011) conta. Steve Carell é, sem risco de errar, a alma do novo filme dos diretores Glen Ficarra e John Requa – do excelente O golpista do ano.
No filme, Carell vive Carl, um homem tímido, pouco articulado que reage com catatonia ao pedido de divórcio da mulher, Emily (vivida com afetuosidade por Julianne Moore), também ela desorientada em uma relação marcada por uma rotina intrusa.
Sem parecer ter muita disposição para aprender a ser solteiro novamente, Carl chama a atenção de Jacob (Ryan Gosling), um profissional da conquista que simpatiza com o flagelo emocional de Carl. Enquanto Jacob ensina seu “mojito” a Carl, Amor a toda prova transpira leveza e comicidade. Mas essa leveza não pode ser confundida com falta de profundidade. E são as histórias paralelas que agregam esse valor ao filme. O filho de Carl (vivido pelo gracioso Jonah Bobo) se descobre apaixonado por sua babá (Analeigh Tipton), que por sua vez tem uma quedinha por Carl. Emily tenta, sem muita convicção, se acertar com David (Kevin Bacon)-o polarizador da separação de Carl. Desses recortes, Amor a toda prova se viabiliza como um filme que não buscar amparar-se em clichês, mas prover-lhes substância. Poucas vezes se viu em uma comédia com pegada tão popular tamanha maturidade no trato desse sentimento tão insano como o amor. Justiça seja feita, o titulo original captura perfeitamente o estado de espírito da obra: discutir sem viés moralista os entornos de um sentimento que muda de cor conforme a vida avança. Talvez por isso o personagem mais obstinado e entusiasmado do amor seja um pré-adolescente.
A necessidade de se vincular a alguém, a liberdade de se desprender, a vontade de voltar, a força impositora do hábito no cultivo de uma relação desgastada são temas arranhados pela obra com alguma desenvoltura. A proposta não impede o otimismo tão caro a comédias românticas, mas Ficarra e Requa – que constroem uma filmografia interessantíssima – não se intimidam com essa outra imposição: a do final feliz.

Photoshop kind a guy: Ryan Gosling oferece muito mais ao espectador do que exibe seu charmoso personagem


O final feliz de Amor a toda prova não deixa de ser um recomeço. Os personagens não seguirão o caminho azulado da paixão. Um filme que busca a reflexão e adverte para o risco de nos fecharmos em nós mesmos só podia atrair um elenco tão refinado como este. Ryan Gosling, Emma Stone, Julianne Moore, Kevin Bacon, Marisa Tomei e Steve Carell respondem a altura das expectativas e ajudam a sofisticar um filme que, em si, já seria auto suficiente.
Com diálogos inteligentes e situações arquitetadas com o requinte dos destemperos da realidade, Amor a toda prova merece a distinção de adentrar àquela restrita galeria de comédias românticas que excedem às expectativas.

5 comentários:

  1. "Amor a toda prova merece a distinção de adentrar àquela restrita galeria de comédias românticas que excedem às expectativas".

    Com certeza, merece.
    Pretendo postar meu texto sobre o filme ainda nessa semana.
    Vi algumas pessoas classificando o filme como "comédia romântica para homens", mas eu discordo TANTO dessa visão. Pra começar, já quer dividir os gêneros pessoais, o que já acho uma imbecilidade, e embora a primeira parte seja reforçe o relacionamento dos protagonistas e aquele lance de conquista, com reforços ao 'machismo', o filme quebra essa ideia na segunda parte e se torna "meigo e sexy ao mesmo tempo" hehe.

    Vi 2 vezes já. O elenco não poderia estar melhor. Adoro Marisa Tomei nesse filme, daquelas personagens coadjuvantes que mereciam um spin-off só pra ela rs.

    abs!

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  2. É um otimo filme mesmo, com boas atuações, feito para divertir, piadas inteligentes e personagens cativantes. Otimo texto! Grande Abraço!

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  3. Esse filme já estreou por aqui, mas uma forte gripe me impede de enfrentar o ar condicionado pesado do cinema. Espero que ele continue de cartaz nesta semana.

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  4. E sem falar que o roteiro nos surpreende em vários momentos, no jardim mesmo esperava um final melancólico para tudo aqui. Gostei muito do resultado geral.

    bjs

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  5. Elton Telles: E vc me deixou sem ter o que acrescentar a sua precisa intervenção.
    Abs

    Celo Silva: Obrigado.
    Abs

    Kamila: Quisera eu que o ar condicionado dos cinemas paulistanos fosse forte... rsrs
    Mas melhoras da gripe viu Ka.
    Bjs

    Amanda: Pois é, o final é otimista sem deixar de ser honesto. Uma raridade em termos de romances hollywoodianos...
    Bjs

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