Entre muitos sensos comuns na comédia romântica americana, dois se destacam. O primeiro versa sobre o público alvo: as mulheres. O segundo, mais complexo, delimita a estrutura e a moral do gênero que resiste a sexualização itinerante – e as quebras de certos tabus inerentes - pela qual passou a sociedade nas últimas décadas.
O virgem de 40 anos (The 40 year old virgin, EUA 2005) derruba essas convenções com certa desenvoltura. O primeiro longa metragem de Judd Apatow é debochado, jovial, maduro, engraçado, romântico e sexualizado do começo ao fim. A sinopse já antecipa a ação. Steve Carell faz Andy, um sujeito tímido, mas atencioso, que trabalha em uma loja de eletrônicos. O que a gente logo descobre é que Andy é virgem. Algo que seus amigos, igualmente na casa dos 40, julgam inconcebível. Seth Rogen, colaborador de Apatow desde os tempos da tv, Paul Rudd e Romy Malco fazem os amigos em questão.
Em seu primeiro momento, O virgem de 40 anos brinca com as expectativas do público em observar o cotidiano desse cara gente boa, mas que não tem lá muita ginga. A figura do nerd, atualmente em alta na cultura pop, foi celebrada com carinho por Apatow em seu filme. É aqui o marco zero do movimento que culminaria no sucesso estrondoso de séries como The big bang theory e Glee.
Mas a contribuição de O virgem de 40 anos não se limita a extinguir o bullying cultural que a figura do nerd tanto sofria. A fita é uma comédia de situação que evolui para uma comédia romântica masculina sem se fissurar. Provar que o público masculino aprecia sim comédias românticas, desde que com o termostato (ou açúcar se preferir) ajustado, talvez seja a grande realização de Judd Apatow. Não à toa, foi com Apatow que surgiu uma nova definição de comédia – o bromance. Nesse tipo de comédia, festeja-se “o amor entre amigos de fé e irmãos camaradas”, para se referenciar em algo que a música brasileira já havia descoberto em Erasmo e Roberto anos antes.
Foi a turma de Apatow que deu seguimento ao recém-nascido gênero. Filmes como Superbad – é hoje e Eu te amo cara rezam a cartilha de O virgem de 40 anos, ainda que apresentem conflitos diferentes e que não versem sobre o amor romântico.
A importância da fita estrelada por Steve Carell ainda não se reduz a todos esses elementos listados acima. O oxigênio que Judd Apatow bombeou na comédia americana – que lhe valeu o topo na lista da revista americana Entertainment Weekly como a pessoa mais influente de Hollywood na década passada à frente de figuras como Will Smith, Steven Spielberg e Tom Hanks – cristalizou a necessidade de se investir em novas frentes. Mais gente da TV se experimentou no cinema (Tina Fey, Jason Sudeikis, Tracy Morgan e Charlie Day para citar alguns) e a instituição comédia romântica percebeu que podia ser mais sacana. Trazer os namorados para debaixo dos lençóis também.
O virgem de 40 anos não é a descoberta da pólvora, como o entusiasmo pode fazer parecer, mas é a combinação mais rarefeita de talento, timing e oportunidade. E em Hollywood esses três fatores também costumam dar samba.
adoro esse filme e acho que o seu texto fala muito bem sobre o que ele é. hollywood, mas esperto.
ResponderExcluirabraços!
Também adoro, humor realmente inspirado.
ResponderExcluirhttp://cinelupinha.blogspot.com/
Ciro Hamen: Valeu Ciro. O espírito é esse mesmo.
ResponderExcluirAbs
Rafael W.: Muito inspirado.
Abs