terça-feira, 17 de agosto de 2010

Crítica - O bem amado

Fanfarrice à brasileira!

Existem textos sagrados. Mesmo que caiam em domínio público. Se Shakespeare é o primeiro nome que lhe vem à mente, na esfera nacional, Dias Gomes certamente ocupa lugar de destaque. O vigor de uma de suas mais famosas obras, O bem amado, ainda impressiona. O cerne da crítica de Dias Gomes permanece imutável pelo brilhantismo com que o mesmo capturou a classe política brasileira. Mesmo que circunscrita a uma época, a prosa de O bem amado é itinerante em sua aura machadiana. Depois de ser adaptada para a TV (tanto em uma bem sucedida novela quanto em uma minissérie notável) e seguir para o teatro, O bem amado (Brasil 2010) ganha os cinemas. O diretor Guel Arraes, que tem familiaridade tanto com a linguagem televisiva e teatral quanto com a cinematográfica, incumbiu-se de adequar o texto de Gomes ao cinema e, ainda mais importante, a uma platéia mais escaldada em tempos de mensalão e congêneres.
Arraes sai-se moderadamente bem da tarefa auto imposta. Não é fácil restringir um material tão vasto quanto esse. Ainda mais complicado é apresentar algo essencialmente novo, que não fora visto antes. É essa a grande aflição do filme. Arraes preocupou-se em delimitar esquerda e direita, apenas para pincelá-las como farinha do mesmo saco. Embora faça justiça aos fatos, essa opção que descaracteriza levemente a visão de Gomes, faz de O bem amado um filme que passa ao espectador a pretensão de se levar a sério. Não que a seriedade seja malquista aqui, mas por vezes a sensação que se tem é que ela se sobrepõe a piada. E não se pode tomar como certo, dada a ambientação e o trabalho do elenco, que essa fosse a ideia inicial.
Marco Nanini, por sua vez, vive com invejável fôlego o prefeito populista de fala atravessada Odorico Paraguaçu. O ator que já havia encarnado o personagem no teatro dá um baile com sua convicção cênica. Outro que está especialmente aprazível é José Wilker. Seu Zeca Diabo é de um naturalismo que encanta em um painel que às vezes esbarra na superficialidade.



O show é dele: as irmãs cajazeiras e o público se rendem ao vigor de Marco Nanini

6 comentários:

  1. É, não sou tão empolgada com a atuação de Nanini quanto você, achei exageramente caricatural, talvez Paulo Gracindo continue em minha memória, mas realmente não achei a melhor coisa do filme.
    Agora concordo plenamente com você, Dias Gomes é maravilhoso ontem, hoje e sempre.

    bjs

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  2. É um filme que até certo tempo atrás eu não tinha nenhuma vontade de conferir, mas agora depois de ler coisas ao seu respeito, não posso negar a minha curiosidade em vê-lo, creio que para quem viu a novela, talvez seja mais difícil aceitar a atuação de Nanini, já que Gracindo imortalizou o político, maaaas veremos! HAHAHAHA.

    Abs.

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  3. Acho que ao ver esse filme é inegável as comparações
    !!!

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  4. Ouvi dizer que o filme não era legal, que não era nada parecido ao seriado que víamos no início dos anos 80. bom, sei lá, ainda não vi, preciso ver pra crer..rsrsrsrsr

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  5. É fato que o Nanini dá show como Odorico Paraguaçú, mas eu acho que esta adaptação tem alguns erros sérios. Admiro a vontade de Guel Arraes dar a sua própria interpretação ao material original, mas, como você disse, não se mexe com alguns textos. E esse é o caso de "O Bem Amado". Não gostei da descaracterização das Irmãs Cajazeiras, por exemplo.

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  6. Amanda: Acho que a performance de Marco Nanini é caricatural na medida certa. Veja bem, toda a encenação no filme é fortemente caricaturarizada. É ele( e José Wilker) quem conseguem fazer disso algo natural... daí meu destaque... bjs

    Alan: Dá para ficar coma experiência da nolvela e da minissérie Alan. Se vc partir desse referencial, é batata que não aprovará a versão de cinema. É preciso analisar as coisas em seu devido contexto... abs

    Marcelo: É natural do ser humano comparar. É saudável até. Desde que respeite os devidos parâmetros. abs

    Silvia Freitas: Primeiramente deixe-me agradecer pela visita e pelo comentário. Volte sempre. Olha, não é tão diferente assim do seriado em termos estruturais. Como pontuo na crítica, há adaptações que precisam ser feitas quando se muda de mídia (no caso da TV para o cinema), mas o que me preocupou foram as mudanças mais específicas, relacionadas a narrativa. Como essa que mencionei sobre a esquerda de Gomes e a de Arraes e da esquizofrenia entre a crítica e a piada...

    Kamila: Pois é, apesar de que eu acho que a mexida nas irmãs cajazeiras foi menos problemática do que o tempo perdido em "igualar" esquerda e direita.
    bjs

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