Fanfarrice à brasileira!
Existem textos sagrados. Mesmo que caiam em domínio público. Se Shakespeare é o primeiro nome que lhe vem à mente, na esfera nacional, Dias Gomes certamente ocupa lugar de destaque. O vigor de uma de suas mais famosas obras, O bem amado, ainda impressiona. O cerne da crítica de Dias Gomes permanece imutável pelo brilhantismo com que o mesmo capturou a classe política brasileira. Mesmo que circunscrita a uma época, a prosa de O bem amado é itinerante em sua aura machadiana. Depois de ser adaptada para a TV (tanto em uma bem sucedida novela quanto em uma minissérie notável) e seguir para o teatro, O bem amado (Brasil 2010) ganha os cinemas. O diretor Guel Arraes, que tem familiaridade tanto com a linguagem televisiva e teatral quanto com a cinematográfica, incumbiu-se de adequar o texto de Gomes ao cinema e, ainda mais importante, a uma platéia mais escaldada em tempos de mensalão e congêneres.
Arraes sai-se moderadamente bem da tarefa auto imposta. Não é fácil restringir um material tão vasto quanto esse. Ainda mais complicado é apresentar algo essencialmente novo, que não fora visto antes. É essa a grande aflição do filme. Arraes preocupou-se em delimitar esquerda e direita, apenas para pincelá-las como farinha do mesmo saco. Embora faça justiça aos fatos, essa opção que descaracteriza levemente a visão de Gomes, faz de O bem amado um filme que passa ao espectador a pretensão de se levar a sério. Não que a seriedade seja malquista aqui, mas por vezes a sensação que se tem é que ela se sobrepõe a piada. E não se pode tomar como certo, dada a ambientação e o trabalho do elenco, que essa fosse a ideia inicial.
Marco Nanini, por sua vez, vive com invejável fôlego o prefeito populista de fala atravessada Odorico Paraguaçu. O ator que já havia encarnado o personagem no teatro dá um baile com sua convicção cênica. Outro que está especialmente aprazível é José Wilker. Seu Zeca Diabo é de um naturalismo que encanta em um painel que às vezes esbarra na superficialidade.
Arraes sai-se moderadamente bem da tarefa auto imposta. Não é fácil restringir um material tão vasto quanto esse. Ainda mais complicado é apresentar algo essencialmente novo, que não fora visto antes. É essa a grande aflição do filme. Arraes preocupou-se em delimitar esquerda e direita, apenas para pincelá-las como farinha do mesmo saco. Embora faça justiça aos fatos, essa opção que descaracteriza levemente a visão de Gomes, faz de O bem amado um filme que passa ao espectador a pretensão de se levar a sério. Não que a seriedade seja malquista aqui, mas por vezes a sensação que se tem é que ela se sobrepõe a piada. E não se pode tomar como certo, dada a ambientação e o trabalho do elenco, que essa fosse a ideia inicial.
Marco Nanini, por sua vez, vive com invejável fôlego o prefeito populista de fala atravessada Odorico Paraguaçu. O ator que já havia encarnado o personagem no teatro dá um baile com sua convicção cênica. Outro que está especialmente aprazível é José Wilker. Seu Zeca Diabo é de um naturalismo que encanta em um painel que às vezes esbarra na superficialidade.
O show é dele: as irmãs cajazeiras e o público se rendem ao vigor de Marco Nanini
É, não sou tão empolgada com a atuação de Nanini quanto você, achei exageramente caricatural, talvez Paulo Gracindo continue em minha memória, mas realmente não achei a melhor coisa do filme.
ResponderExcluirAgora concordo plenamente com você, Dias Gomes é maravilhoso ontem, hoje e sempre.
bjs
É um filme que até certo tempo atrás eu não tinha nenhuma vontade de conferir, mas agora depois de ler coisas ao seu respeito, não posso negar a minha curiosidade em vê-lo, creio que para quem viu a novela, talvez seja mais difícil aceitar a atuação de Nanini, já que Gracindo imortalizou o político, maaaas veremos! HAHAHAHA.
ResponderExcluirAbs.
Acho que ao ver esse filme é inegável as comparações
ResponderExcluir!!!
Ouvi dizer que o filme não era legal, que não era nada parecido ao seriado que víamos no início dos anos 80. bom, sei lá, ainda não vi, preciso ver pra crer..rsrsrsrsr
ResponderExcluirÉ fato que o Nanini dá show como Odorico Paraguaçú, mas eu acho que esta adaptação tem alguns erros sérios. Admiro a vontade de Guel Arraes dar a sua própria interpretação ao material original, mas, como você disse, não se mexe com alguns textos. E esse é o caso de "O Bem Amado". Não gostei da descaracterização das Irmãs Cajazeiras, por exemplo.
ResponderExcluirAmanda: Acho que a performance de Marco Nanini é caricatural na medida certa. Veja bem, toda a encenação no filme é fortemente caricaturarizada. É ele( e José Wilker) quem conseguem fazer disso algo natural... daí meu destaque... bjs
ResponderExcluirAlan: Dá para ficar coma experiência da nolvela e da minissérie Alan. Se vc partir desse referencial, é batata que não aprovará a versão de cinema. É preciso analisar as coisas em seu devido contexto... abs
Marcelo: É natural do ser humano comparar. É saudável até. Desde que respeite os devidos parâmetros. abs
Silvia Freitas: Primeiramente deixe-me agradecer pela visita e pelo comentário. Volte sempre. Olha, não é tão diferente assim do seriado em termos estruturais. Como pontuo na crítica, há adaptações que precisam ser feitas quando se muda de mídia (no caso da TV para o cinema), mas o que me preocupou foram as mudanças mais específicas, relacionadas a narrativa. Como essa que mencionei sobre a esquerda de Gomes e a de Arraes e da esquizofrenia entre a crítica e a piada...
Kamila: Pois é, apesar de que eu acho que a mexida nas irmãs cajazeiras foi menos problemática do que o tempo perdido em "igualar" esquerda e direita.
bjs