segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Crítica - Cabeça a prêmio

Uma história bem contada!

É revigorante assistir um filme, cuja grande preocupação de seu diretor é fazer com que o público o entenda; que sinta a história. O filme em questão é Cabeça a prêmio (Brasil 2010) e o diretor é Marco Ricca, debutando na função.
Talvez por ser ator, talvez pelo convívio com um diretor que foi melhorando a cada trabalho na relação com seus atores (no caso o cineasta Beto Brant), Marco Ricca confia plenamente na capacidade de seus atores de contarem a história. Através de olhares, gestos e expressões poderosas que surgem em suas faces na hora e meia de filme. Ricca se mostra um diretor respeitoso também. Tem apreço pela imagem (além dos closes contemplativos em seus atores, focaliza as paisagens do Mato Grosso brasileiro com curiosidade e compaixão) e senso de ritmo. Embora haja o prenúncio de tragédia durante o transcorrer de seu filme, o diretor não se apressa. Não cede a impulsos estilísticos, tão pouco incide em um mal do cinema moderno, mastigar as sensações para a platéia.
Em Cabeça a prêmio temos Mirão (Fulvio Stefanini), um pecuarista envolvido no tráfico de drogas que se ressente do caminho tomado. Sem um bom dialogo com a mulher e com a filha, papel de Alice Braga, Mirão se afunda em si mesmo. Paralelamente, testemunhamos a relação amorosa entre o piloto que transporta as drogas (vivido pelo uruguaio Daniel Handler) e a filha de Mirão, a cobiça de seu irmão para com os negócios da família e a visão de mundo conflitante de dois de seus capatazes (esplendidamente interpretados por Cássio Gabus Mendes e Eduardo Moscovis).
A trama se desenrola candidamente e Ricca em momento algum se sobrepõe ao trabalho dos atores. Eduardo Moscovis está especialmente inspirado. Brito, seu personagem, é um tipo irresoluto. Pacato. Um homem que não gosta de sua natureza, mas receia rejeitá-la por não saber ser outra coisa. Um comentário sutil, mas de muita força, que se materializa no decorrer da fita e ganha verniz com a solução de seu personagem.
Contudo, o grande nome do elenco é mesmo Fulvio Stefanini. Seu personagem é o eixo da trama, mas curiosamente é o menor de todos. O ator sabiamente potencializa suas cenas com uma expressão corporal que dá a dimensão exata da dor de seu personagem. É em Fulvio, que a força do cinema de Ricca - e o que parece ser uma de suas diretrizes enquanto cineasta – resplandece. Privilegiar o ator. Focar em sua capacidade de colocar a platéia onde o diretor deseja. Por valorizar essa opção, Ricca demonstra ser um cineasta intuitivo e o fato de Cabeça a prêmio ser um filmaço, mostra que essa é uma opção valorosa para cineastas que já estão por aí há um bom tempo.

11 comentários:

  1. Olha, pelo visto você gostou mesmo do filme. Eu já tinha lido algo sobre o filme, a maioria das críticas negativas ficam por conta da sua trama devagar. Eu claro, fiquei com uma puta vontade de ver, hahaha. Gosto de filmes com o ritmo mais lento...!
    Abs.

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  2. O cinema brasileiro está em uma fase no minimo interessante, mas, ainda precisa escolher melhor seus projetos. Não conferi o filme ainda, faço quando o filme chagr nas locadoras.

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  3. Concordo plenamente com o Reinaldo.
    Realista, simples, verdadeiro. Todos os atores foram respeitados e deram vida as personagens, sem rebuscamentos.

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  4. Puxa, quantos elogios bacanas! Fiquei interessado por ver. Achei que se tratasse de bomba... puro preconceito meu...

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  5. Dae Reinaldo!
    Muito boa a sua crítica, meu caro. Ótimo texto. Em poucas linhas, tu consegue manter a coesão do texto e enumerar os pontos positivos sem ser categórico. Meus parabéns!

    Dificilmente esse filme vai passar por aqui, mas gosto muito e Marco Ricca e acho até um pouco injusto tantas pessoas só falarem em Lázaro Ramos, Selton Mello, Matheus Nachtergaele e esquecer de Ricca como um dos grandes caras do cinema nacional. Acho ele muito talentoso e quero conferir se seu trabalho atrás das câmeras prima pela qualidade de quando desaparece em um personagem. E tem Alice Braga =), motivo mais que suficiente rs.


    abraço! o/

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  6. Oi, moço,

    Gostei muito do filme, mas algo me diz que vc já sabe disso, rsrsrs
    O Ricca fez um trabalho explêndido com os atores, principalmente o Fulvio Stefanini, que vem de uma sequência de fanfarrões na tv. Foi ótimo ter a oportunidade de redescobri-lo.
    Bjs

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  7. Alan: Não achei o filme lento não Alan. O ritmo é para lá de oportuno. Não gostou do filme quem está viciado em tramas policiais urbanas... abs

    Cleber: E como vc tem bom gosto, tenho cereteza que vai gostar. Grande abraço!

    Naede: Obrigado pela visita, pelo comentário e pela concordância.

    Fernando: O filme é bom Fer, vai por mim. Abs

    Elton:Grande Elton, valeu pelos elogios meu brother. Concordo com vc. Ricca é ótimo ator, mas diferentemente dessa galera aí, só enveredou pelo cinema comercial uma vez no fraquinho O casamento de Romeu e Julieta. Muito pouco para gerar buzz. Mas para forçar na comparação, sua estréia na direção foi superior a tb boa de selton Mello em Feliz natal. Abs

    Aline: É verdade. Stefanini foi redescoberto aqui. Bjs

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  8. Assisti o filme quinta-feira agora... E gostei bastante, as imagens do meu Estado então perfeitas. E só uma ressalva em sua crítica, Mato Grosso do SULLLLL por favor!!! Na capital Campo Grande e no interior em Corumbá, Sidrolândia e Bonito. Bjocas.

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  9. Finalmente chegou em Salvador. Também não achei o filme lento, talvez longo, mas no tempo que a narrativa pedia. A força está mesmo nos atores...

    Ah, não tinha ficado com tanta certeza de que o negócio da família era drogas, poderia ser qualquer contrabando, não? Perdi algum detalhe que deixou isso claro? Só lembro da cena em que Otávio Müller cheira uma carreira.

    bjs

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  10. Uma correção na sua crítica, boa parte do filme foi gravado no Mato Grosso do SUL!!!!

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  11. Sem dúvida um dos filmes que eu ponto como o meu favorito. O elenco é um ponto a seu favor, a peste ator César Troncoso, que é o personagem que eu reconheço realzia.Ahora continuo vendo na O Hipnotizador uma nova série, uma produção que dentro de dias de sua criação já está dando muito o que fala.

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