segunda-feira, 29 de abril de 2013

Espaço Claquete - Jovens adultos



Não é todo dia que se vê por aí um filme com a audácia de falar sobre a incrível dor que é crescer, no sentido emocional do termo. Amadurecimento é, no final das contas, a matéria prima de Jovens adultos (Young adults, EUA 2011), segunda parceria entre o ainda infalível diretor Jason Reitman e a roteirista Diablo Cody (a primeira foi no celebrado Juno).
Mavis (Charlize Theron) é uma ghost writer trintona e divorciada que passa seus dias entre o enfado e o alcoolismo. Quando recebe um e-mail alertando do nascimento da filha do namorado dos tempos de colégio, resolve voltar à pequena cidade de Mercury para reconquistá-lo. Para Mavis não importa se Buddy (Patrick Wilson) está casado e feliz. Ela vive constantemente encontrando justificativas para seu comportamento expansivo e desagradável. Reitman e Cody, aliás, não poupam sua protagonista de situações incômodas. Mas são essas situações que sinalizam o pardieiro emocional em que ela se encontra. Nesse contexto, surge de maneira providencial o fato de Mavis, que usa roupas caras e descoladas na mesma medida que frequentemente amanhece com a cara inchada, escrever uma série de romances para adolescentes. Está aí uma concatenação da realização menos sutil, mas ainda assim importante no desenho da personagem, do que o fato de tirar fios de seu cabelo por pura ansiedade ou de se aproximar de Matt (o ótimo Patton Oswalt), com a mesma virulência de quando eram colegas de escola.
À medida que Mavis vai percebendo que há algo de errado com sua vida, mais ela mergulha no abismo de sua existência e está aí outro dos pontos altos desse belo e injustiçado filme (onde estão os prêmios?). Não há catarse. A vida nem sempre imita a arte. Não pelo menos quando se trata de ajustes tão profundos.
Há uma cena, de eloquência tremenda, em que Mavis conversa com a irmã de Matt. Ela diz que ser feliz para ela é complicado e que os outros fazem parecer tão simples. Que eles se sentem preenchidos. Sua interlocutora lhe diz que se ela não se sente feliz com o que tem... dando a entender que ela leva uma vida que poderia ser invejada. Ela devolve Mavis a seu estado de alienação emocional. Era o que Mavis queria ou o que ela simplesmente precisava para não desabar em despropósito? O público será o juiz. De qualquer maneira, não importa. O que importa, na lógica desenvolvida por este belo filme, é lamber as feridas e, se possível, crescer com o processo.

6 comentários:

  1. Infelizmente, ainda não tive a chance de conferir "Jovens Adultos". Parece ter sido um filme que passou completamente despercebido, tanto nos EUA, quanto aqui. Mas, além de ser uma parceria entre Jason Reitman e Diablo Cody, tem a elogiada atuação de Charlize Theron e a presença de um ator que eu gosto muito: o Patrick Wilson!

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  2. O filme me incomodou.

    Senti tanta vergonha alheia que eu sinceramente tive que para-lo várias vezes e refazer a pergunta, gente, quantos anos ela tem? Em que mundo a pessoa segue enfiando o pé na jaca depois de tantas coisas óbvias da vida ficarem pulando, feito pop-ups, durante a viagem, dramática, que ele acaba fazendo para a cidade da adolescência dela?
    O filme me lembrou um pouco a dramaticidade incômoda do seriado, esse sim premiado, Girls.

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  3. Não vi ainda, mas seu texto me deixou ainda mais curiosa para conferi-lo...

    E sim, crescer dói mesmo.

    bjs

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  4. Kamila: Não passou tão despercebido assim nos EUA, mas aqui só quem segue muito de perto o metiê prestou atenção nele... É um filme sem o frescor de "Obrigado por fumar" ou "Juno", mas muito recomendável...
    Bjs

    Patrícia: Acho bom que tenha incomodado. Esse desconforto, essa sensação de WTF é algo objetivado pela realização. E adorei sua relação com Girls, embora na ótima série a proposta seja de uma análise mais geracional. Gostei mais do filme do que imagineiq gostaria, principalmente pelo final anticlimático e francamente avesso às convenções hollywoodianas.
    Bjs

    Amanda: Let´s see Mrs. Amanda!
    bjs

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  5. É um filme brilhante na proposta Reinaldo, não o considero melhor que Juno, ainda assim, Diablo constrói uma narrativa incômoda propositalmente e que só é mais genial pela interpretação de Charlize que humaniza sua criança interior lindamente.

    Tb ainda prefiro Amor Sem Escalas dentre os filmes dirigidos pelo Reitman filho. Ótimo texto!

    Abs.

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  6. Rodrigo: Obrigado Rodrigo. "Amor sem escalas" não só é o melhor filme de Reitman na minha avaliação como um dos melhores filmes dos últimos cinco anos.
    Abs

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