Inquietos (Restless, EUA 2011) é um filme que se agiganta,
mas também padece, por ser um filme de Gus Van Sant. Notoriamente o cineasta
que melhor captura a efervescência adolescente em recortes que fogem à
linearidade pavimentada em narrativas convencionais, Sant realiza um filme
poético e sensorial, mas sem a reverberação de obras como Elefante (2003) ou
Paranoid park (2007). Subscrito, portanto, como um filme menor ante suas
potencialidades, Inquietos é um exame circunstancial do impacto da morte nessa
fase tergiversada da vida.
Enoch (Henry Hopper) é um jovem que em seu tempo livre
frequenta funerais. Rapaz introvertido e solitário, ele acaba conhecendo em um
desses funerais a também solitária Annabel (Mia Wasikowska), que se enche de
uma empatia, a princípio, indecifrável pelo rapaz. Annabel, de uma maneira bem
mais discreta, também tem sua obsessão com a morte. Desde a leitura volumosa
sobre Charles Darwin até à literatura mais obscura sobre espécimes distintos de
insetos. Logo descobrimos que Annabel está desenganada pela medicina e que seu
câncer lhe dá apenas mais três meses de vida e que Enoch é sobrevivente de um
acidente que matou seus pais.
Entre o lirismo inocente de duas almas trôpegas e
estranhamente solidárias a um certo fetiche pelo ideário de mortandade,
Inquietos apresenta dois personagens desconfortáveis com ritos sociais e
interjeições filosóficas, mas não propõe nenhum tipo de articulação, optando
pela contemplação pura e simples. É uma escolha anticlimática que se não torna
o filme menos interessante, reduz consideravelmente seu escopo dramático.
É aí que o fato de ser um filme de Sant passa a pesar
contra. Fosse uma produção de um cineasta novo, ainda tateando o cinema
independente e afinando uma visão de mundo, Inquietos seria uma obra cheia de
brasa e perspicácia, mas sendo um filme de Sant, é apenas uma pouco convicta
experimentação de um cineasta que já fez melhor sobre este universo em
particular.
Nessa trincheira de expectativas, salvam-se Henry Hopper,
dono de uma expressividade capaz de assombrar a figura do próprio pai (o já
falecido ator Dennis Hopper) e Mia Wasikowska, atriz que sempre impressiona
pela capacidade quase que sobrenatural de manter-se excelente mesmo em filmes
em crise, que revestem seus personagens da estranheza gentil que o roteiro
pede.
São eles que conseguem dimensionar a convulsionante ideia de
ter a morte como companheira. Um préstimo que independe da proposta primária do
filme.
Ah, jura que você não gostou, hehe. Não seja tão exigente com Van Sant. Eu gosto do filme exatamente por essa sensação anticlimática que você fala. Porque acho que Inquietos segue seu próprio ritmo. O ritmo da espera pela morte ou por um milagre que possa fazer os personagens compreenderem o sentido de tudo aquilo. O sentido da vida, o sentido da morte, o sentido do amor e do encontro de duas almas tão díspares.
ResponderExcluirbjs
Eu gostei Amanda. Não vejo problema no registro anticlimático. Inclusive digo que ele não torna o filme menos interessante. Apenas pontuo que é um filme menos reflexivo do que, podemos dizer, a embalagem promete e do que Van Sant já fez. Daí a dualidade presente em "Inquietos". É nitidmaente um filme bom, mas é também nítido que é um filme "menor" de Van Sant sobre o universo adolescente - onde ele acaba sendo uma referência.
ResponderExcluirBjs