quinta-feira, 25 de abril de 2013

Filme em destaque - O abismo prateado


Sem medo do abismo
 Alessandra Negrini é a protagonista do novo filme do cineasta de Madame Satã e O céu de Suely. Um filme que fala nos silêncios e investe sua narrativa no sensorial

Karim Aïnouz é um cineasta tão interessante que seu mais recente lançamento nos cinemas é um filme inspirado em uma música de Chico Buarque. O filme é O abismo prateado, pronto e exibido há dois anos no festival do Rio e também no festival de Cannes, e a música é “Olhos nos olhos”, composição original de 1976.
À revista Serafina deste mês de abril, o cineasta falou sobre a inspiração para o filme. "Nos meus trabalhos anteriores, a música tinha uma importância muito grande, mas entrava de uma forma meio intuitiva. Aí decidi fazer o contrário, criar um filme em cima de uma canção. E 'Olhos nos Olhos' é uma verdadeira 'love song'. Comecei a imaginar quem seria a protagonista da música e aí surgiu a personagem da Violeta. Minha história é baseada em uma carta de amor que virou uma canção com o Chico, e a Violeta seria a autora da carta. O filme não conta a história da música, se passa antes dela."

Violeta é a personagem de Alessandra Negrini, uma dentista na faixa dos 40 anos que um belo dia recebe uma mensagem no celular de seu marido terminando o casamento. O filme então passa a acompanhar a jornada existencial dessa personagem pelas ruas do Rio de Janeiro.
“Violeta não é especial”, diz Aïnouz. “Eu queria um personagem para falar da classe média, não da exceção. Ela é isso, tem 40 anos, acabou de se mudar, tem filho e um consultório. A graça é conseguir fazer um filme onde exista certa originalidade em como as experiências comuns são contadas. No exterior, você vê bons filmes que não têm nada de excepcional, com personagens comuns. A gente também pode fazer isso, acho que o nosso cinema tem que recuperar esses territórios."

Abandono
Mas O abismo prateado não deseja ser um filme de redescoberta do cinema brasileiro. Aïnouz quer falar na verdade de sua geração e também fazer um filme que aposta mais no sensorial. “Este é um filme sobre um abandono, mas ele não se entrega a essa condição, porque, no fundo, traz uma experiência utópica. É uma sensação da geração a que eu pertenço, meio largada, mas que nunca deixou de sonhar. Uma geração que viveu muito a liberdade, tendo o direito de ficar com uma pessoa aqui e outra acolá, mas sem deixar de alimentar uma visão ultrarromântica do amor. Há um sopro de crença de que o mundo ainda pode ser diferente. A personagem de Alessandra é assim”, explica o cineasta ao O Globo.
À Serafina, Aïnouz complementou: “O abandono é um ato que permite que você se reinvente, e não que se torne vítima dele. Ele não é uma experiência paralisante, permite que o personagem se transforme”.

Foto: Cineclick
Aïnouz, Alessandra e Chico: arte que inspira arte...

Confira a letra da música "Olhos nos olhos"

Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mas nem porque
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

Quando talvez precisar de mim
'Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz

6 comentários:

  1. Adoro a música que originou esse filme e, pra ser sincera, não sabia que Karim Ainouz tinha se inspirado nela para fazer seu novo longa. Fiquei interessadíssima, agora! Além disso, acho a Alessandra Negrini uma atriz muito competente em tudo que faz.

    ResponderExcluir
  2. Aguardando ansiosa que ele estreei aqui em Salvador... Não sou das maiores fãs de Chico, mas essa música é mesmo incrível, ainda mais na interpretação dele e de Bethânia, hehe. E ainda mais nas mãos de Karim Ainouz.

    bjs

    ResponderExcluir
  3. Estou muito curioso com este filme. Tenho amigos que tiveram a chance de assistir em festivais e mostras e só ouço elogios. E a parceria Aïnouz + Negrini só eleva o "expectômetro" nas alturas hehe.
    A ver pelos envolvidos no projeto, "O Abismo Prateado" tem tarimba para ser um dos melhores filmes nacionais que teremos em 2013.

    Abs!

    ResponderExcluir
  4. Reinaldo,

    A música é linda e mais do que ser cinema nacional, é reconhecido. Só lembrar da quinzena dos realizadores do Festival de Cannes.
    Boas expectativas sobre o filme, mas não espero que estreie por aqui. Cinemas errando feio norte a dentro.

    Bjs

    ResponderExcluir
  5. Reinaldo, me deixa te contar uma coisa: ri à beça com a 1ª frase, pois permite uma dupla interpretação. Li todo teu texto mas não reconheci claramente a tua posição, ou seja, que respaldasse a ironia implícita na minha primeira leitura. Apesar disso, a frase ainda tem seu poder de incitar esse terrível gostinho de maldade/curiosidade nos leitores mais perspicazes (principalmente naqueles que não consideram Chico um cânone da música brasileira - isso é possível? hehehehheeh). Além de que é curioso o fato de um roteiro surgir de uma música, mas não digo que obras-primas não possam surgir daí, exemplo disso é o inesquecível A Viagem de Chihiro. Enfim, eis a dita frase:
    "Karim Aïnouz é um cineasta tão interessante (!) que seu mais recente lançamento nos cinemas é um filme inspirado em uma música (!?) de Chico Buarque. "
    kkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Abraço grande Reinaldo, e ótima semana.

    ResponderExcluir
  6. Kamila: Música e Negrini funcionam às mil maravilhas.
    Bjs

    Amanda: Tb não sou grande fã de Chico, o acho superestimado, mas ele tem seus momentos e Aïnouz sabe torná-los ainda melhores.
    Bjs

    Elton: É um dos melhores filmes do ano Elton. Nacional é o melhor até aqui disparado!

    Patrícia: O filme é ótimo Pati. Vc vai gostar! Quanto a esse erro dos "cinemas do norte adentro" é fogo, né? A cultura no Brasil ainda precisa ser disseminada de maneira mais efetiva...
    Bjs

    Cássio: Agora que vc mencionou reparei que a frase favorece uma interpretação dúbia. Mas na verdade evoco o repertório do leitor (algo que não deveria fazer) tanto em matéria de Chico Buarque como em Karim Aïnouz. Deveria ter sido mais explicativo e menos sugestivo. rs. A título de curiosidade, tb não vejo Chico como um cânone da música brasileira, mas ele é tido dessa amneira, o que torna "O abismo prateado" ainda mais interessante!
    Abs

    ResponderExcluir