O castelo de cartas do amor
O novo filme da dinamarquesa Susanne Bier é um périplo de
forças diversas. Tanto na feitura do filme, que uniu na produção países como
Dinamarca, França, Suécia, Alemanha e Itália - país em que a trama se desenrola
parcialmente - como na abordagem de seus temas centrais: amor, família, luto e a
capacidade de viver.
Em Amor é tudo o que você precisa (Den skaldede frisor,
DIN/FRA/SUE/ALE/ITA 2011), Ida (Trine Dyrholm) é uma cabeleira que compõe a
classe média baixa dinamarquesa. Flagramos a personagem em um momento delicado
de sua existência. A filha está para se casar e ela acaba de se recuperar, e
ainda não se sabe se plenamente, de um câncer que a obrigou a retirar uma mama.
Não obstante, Ida ainda descobre que seu marido, em um misto de insensibilidade
e pura alienação, lhe foi infiel. Ida é uma personagem solar, altruísta e
cativante a sua maneira. Mas que não recebe amor. Se ressente, ainda que não
formule dessa maneira, de não ser amada. Em outra frente temos Philip (Pierce
Brosnan), britânico que construiu um verdadeiro império na indústria alimentícia
e reside na Dinamarca, sede de sua empresa e onde fixou residência – ainda que
viaje bastante – após a morte de sua esposa. Philip optou pela amargura como
alicerce de sua sobrevivência e jamais abandonou o luto. Esses dois personagens
se encontram em virtude do casamento da filha de Ida, Astrid (Molly Blixt
Egelind) e Philip, Patrick (Sebastian Jessen), no sul da Itália. O sul da
Itália traz memórias a Philip de como foi se apaixonar e ele se ressente de não
ter alguém para amar. Alguém que, na sua visão de mundo, se alimente desse
amor.
É do encontro da necessidade de amar com a necessidade de
ser amado que Amor é tudo o que você precisa, romance que adorna tão bem a
comédia quanto o drama, tira sua força.
Ida e Philip se atraem em virtude das machucaduras que percebem um no outro no tocante Amor é tudo o que você precisa
Susanne Bier pega mais leve do que de costume em sua
cinematografia marcada pelos intensos Brothers (2004), Coisas que perdemos pelo
caminho (2007) e Em um mundo melhor (2010) ao pincelar o surgimento de um
sentimento tão belo e rarefeito em meio a uma fogueira de vaidades como a que
assola as duas famílias reunidas para o casamento. Se o tom é mais leve e o
foco é o amor, Bier não nega suas características ao alinhavar as agruras da
vida como percalços para o cultivo do amor que surge das miudezas. Tampouco
alivia o “carma” de seus personagens. Philip, em seu mergulho de
autocomiseração, contribuiu para que seu filho crescesse sentindo-se incumbido
de devolver a felicidade ao pai, negando os próprios desejos e Ida, com sua
autoestima esmagada, inseriu nos filhos uma noção desproporcional do que merecem
para suas vidas.
No final das contas, Amor é tudo o que você precisa é um
testamento de que o amor não sana as desgraças da vida, mas a azeita de maneira
a torná-la muito mais poética.
Que poético, Reinaldo!
ResponderExcluirSe o filme fazer valer 1/3 das tuas belas palavras, já terá valido a pena!
É uma pena que não exista nota nas críticas do blog. Conheço pessoas deixam de entrar aqui por causa disso (embora não seja este o meu caso). Entendam que não se pode presumir que se leia textos de várias linhas sem uma nota prévia. Além de ser cansativo.
ResponderExcluirNo mais... parabéns ao blog.
Abraços
Susanne Bier fazendo filme "mamão com açucar" (de novo).
ResponderExcluirEstou querendo ver, hehe
Cássio: Opa, obrigado pela deferência e referência.
ResponderExcluirabs
Anônimo:Obrigado pelo comentário e pela disposição em ler os textos de Claquete. No meu entendimento, a crítica propõe uma avaliação do filme muito mais plural e complexa do que um sistema de notas pode capturar. Na verdade, me oponho até mesmo à clasificação de bom ou ruim em um filme. Classificá-los como tal, sem a devida contextualização e embasamento, é de uma pobreza ímpar.
Abs
Alan: Rsrs. O filme merece ser descoberto.
Abs