sábado, 13 de abril de 2013

Crítica - Amor é tudo o que você precisa


O castelo de cartas do amor

O novo filme da dinamarquesa Susanne Bier é um périplo de forças diversas. Tanto na feitura do filme, que uniu na produção países como Dinamarca, França, Suécia, Alemanha e Itália - país em que a trama se desenrola parcialmente - como na abordagem de seus temas centrais: amor, família, luto e a capacidade de viver.
Em Amor é tudo o que você precisa (Den skaldede frisor, DIN/FRA/SUE/ALE/ITA 2011), Ida (Trine Dyrholm) é uma cabeleira que compõe a classe média baixa dinamarquesa. Flagramos a personagem em um momento delicado de sua existência. A filha está para se casar e ela acaba de se recuperar, e ainda não se sabe se plenamente, de um câncer que a obrigou a retirar uma mama. Não obstante, Ida ainda descobre que seu marido, em um misto de insensibilidade e pura alienação, lhe foi infiel. Ida é uma personagem solar, altruísta e cativante a sua maneira. Mas que não recebe amor. Se ressente, ainda que não formule dessa maneira, de não ser amada. Em outra frente temos Philip (Pierce Brosnan), britânico que construiu um verdadeiro império na indústria alimentícia e reside na Dinamarca, sede de sua empresa e onde fixou residência – ainda que viaje bastante – após a morte de sua esposa. Philip optou pela amargura como alicerce de sua sobrevivência e jamais abandonou o luto. Esses dois personagens se encontram em virtude do casamento da filha de Ida, Astrid (Molly Blixt Egelind) e Philip, Patrick (Sebastian Jessen), no sul da Itália. O sul da Itália traz memórias a Philip de como foi se apaixonar e ele se ressente de não ter alguém para amar. Alguém que, na sua visão de mundo, se alimente desse amor.
É do encontro da necessidade de amar com a necessidade de ser amado que Amor é tudo o que você precisa, romance que adorna tão bem a comédia quanto o drama, tira sua força.

Ida e Philip se atraem em virtude das machucaduras que percebem um no outro no tocante Amor é tudo o que você precisa

Susanne Bier pega mais leve do que de costume em sua cinematografia marcada pelos intensos Brothers (2004), Coisas que perdemos pelo caminho (2007) e Em um mundo melhor (2010) ao pincelar o surgimento de um sentimento tão belo e rarefeito em meio a uma fogueira de vaidades como a que assola as duas famílias reunidas para o casamento. Se o tom é mais leve e o foco é o amor, Bier não nega suas características ao alinhavar as agruras da vida como percalços para o cultivo do amor que surge das miudezas. Tampouco alivia o “carma” de seus personagens. Philip, em seu mergulho de autocomiseração, contribuiu para que seu filho crescesse sentindo-se incumbido de devolver a felicidade ao pai, negando os próprios desejos e Ida, com sua autoestima esmagada, inseriu nos filhos uma noção desproporcional do que merecem para suas vidas.
No final das contas, Amor é tudo o que você precisa é um testamento de que o amor não sana as desgraças da vida, mas a azeita de maneira a torná-la muito mais poética.

4 comentários:

  1. Que poético, Reinaldo!
    Se o filme fazer valer 1/3 das tuas belas palavras, já terá valido a pena!

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  2. É uma pena que não exista nota nas críticas do blog. Conheço pessoas deixam de entrar aqui por causa disso (embora não seja este o meu caso). Entendam que não se pode presumir que se leia textos de várias linhas sem uma nota prévia. Além de ser cansativo.
    No mais... parabéns ao blog.
    Abraços

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  3. Susanne Bier fazendo filme "mamão com açucar" (de novo).

    Estou querendo ver, hehe

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  4. Cássio: Opa, obrigado pela deferência e referência.
    abs

    Anônimo:Obrigado pelo comentário e pela disposição em ler os textos de Claquete. No meu entendimento, a crítica propõe uma avaliação do filme muito mais plural e complexa do que um sistema de notas pode capturar. Na verdade, me oponho até mesmo à clasificação de bom ou ruim em um filme. Classificá-los como tal, sem a devida contextualização e embasamento, é de uma pobreza ímpar.
    Abs

    Alan: Rsrs. O filme merece ser descoberto.
    Abs

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