Não é todo dia que se vê por aí um filme com a audácia de
falar sobre a incrível dor que é crescer, no sentido emocional do termo.
Amadurecimento é, no final das contas, a matéria prima de Jovens adultos (Young
adults, EUA 2011), segunda parceria entre o ainda infalível diretor Jason
Reitman e a roteirista Diablo Cody (a primeira foi no celebrado Juno).
Mavis (Charlize Theron) é uma ghost writer trintona e
divorciada que passa seus dias entre o enfado e o alcoolismo. Quando recebe um
e-mail alertando do nascimento da filha do namorado dos tempos de colégio,
resolve voltar à pequena cidade de Mercury para reconquistá-lo. Para Mavis não
importa se Buddy (Patrick Wilson) está casado e feliz. Ela vive constantemente
encontrando justificativas para seu comportamento expansivo e desagradável.
Reitman e Cody, aliás, não poupam sua protagonista de situações incômodas. Mas
são essas situações que sinalizam o pardieiro emocional em que ela se encontra.
Nesse contexto, surge de maneira providencial o fato de Mavis, que usa roupas
caras e descoladas na mesma medida que frequentemente amanhece com a cara
inchada, escrever uma série de romances para adolescentes. Está aí uma
concatenação da realização menos sutil, mas ainda assim importante no desenho
da personagem, do que o fato de tirar fios de seu cabelo por pura ansiedade ou
de se aproximar de Matt (o ótimo Patton Oswalt), com a mesma virulência de
quando eram colegas de escola.
À medida que Mavis vai percebendo que há algo de errado com
sua vida, mais ela mergulha no abismo de sua existência e está aí outro dos
pontos altos desse belo e injustiçado filme (onde estão os prêmios?). Não há
catarse. A vida nem sempre imita a arte. Não pelo menos quando se trata de
ajustes tão profundos.
Há uma cena, de eloquência tremenda, em que Mavis conversa com a
irmã de Matt. Ela diz que ser feliz para ela é complicado e que os outros fazem
parecer tão simples. Que eles se sentem preenchidos. Sua interlocutora lhe diz
que se ela não se sente feliz com o que tem... dando a entender que ela leva
uma vida que poderia ser invejada. Ela devolve Mavis a seu estado de alienação
emocional. Era o que Mavis queria ou o que ela simplesmente precisava para não
desabar em despropósito? O público será o juiz. De qualquer maneira, não
importa. O que importa, na lógica desenvolvida por este belo filme, é lamber as
feridas e, se possível, crescer com o processo.
Infelizmente, ainda não tive a chance de conferir "Jovens Adultos". Parece ter sido um filme que passou completamente despercebido, tanto nos EUA, quanto aqui. Mas, além de ser uma parceria entre Jason Reitman e Diablo Cody, tem a elogiada atuação de Charlize Theron e a presença de um ator que eu gosto muito: o Patrick Wilson!
ResponderExcluirO filme me incomodou.
ResponderExcluirSenti tanta vergonha alheia que eu sinceramente tive que para-lo várias vezes e refazer a pergunta, gente, quantos anos ela tem? Em que mundo a pessoa segue enfiando o pé na jaca depois de tantas coisas óbvias da vida ficarem pulando, feito pop-ups, durante a viagem, dramática, que ele acaba fazendo para a cidade da adolescência dela?
O filme me lembrou um pouco a dramaticidade incômoda do seriado, esse sim premiado, Girls.
Não vi ainda, mas seu texto me deixou ainda mais curiosa para conferi-lo...
ResponderExcluirE sim, crescer dói mesmo.
bjs
Kamila: Não passou tão despercebido assim nos EUA, mas aqui só quem segue muito de perto o metiê prestou atenção nele... É um filme sem o frescor de "Obrigado por fumar" ou "Juno", mas muito recomendável...
ResponderExcluirBjs
Patrícia: Acho bom que tenha incomodado. Esse desconforto, essa sensação de WTF é algo objetivado pela realização. E adorei sua relação com Girls, embora na ótima série a proposta seja de uma análise mais geracional. Gostei mais do filme do que imagineiq gostaria, principalmente pelo final anticlimático e francamente avesso às convenções hollywoodianas.
Bjs
Amanda: Let´s see Mrs. Amanda!
bjs
É um filme brilhante na proposta Reinaldo, não o considero melhor que Juno, ainda assim, Diablo constrói uma narrativa incômoda propositalmente e que só é mais genial pela interpretação de Charlize que humaniza sua criança interior lindamente.
ResponderExcluirTb ainda prefiro Amor Sem Escalas dentre os filmes dirigidos pelo Reitman filho. Ótimo texto!
Abs.
Rodrigo: Obrigado Rodrigo. "Amor sem escalas" não só é o melhor filme de Reitman na minha avaliação como um dos melhores filmes dos últimos cinco anos.
ResponderExcluirAbs