Os óculos já não eram confortáveis e, a cada mês que passa e novo lançamento que chega, o 3D perde atratividade. Não é uma surpresa. Essa realidade já era esperada pelos executivos de estúdio. Até porque já aconteceu antes; na metade do século XX. Talvez James Cameron e alguns seguidores mais fervorosos do mago da tecnologia esperassem que o 3D, em sua nova encarnação, tivesse, como anunciavam, o “impacto do som” na evolução cinematográfica. James Cameron ainda continua engajado em provar a veracidade de sua profecia, que teve seus quinze minutos de viabilidade na esteira do mega sucesso de Avatar. Segundo Cameron, a avareza dos estúdios está pondo tudo a perder. Vira e mexe, o diretor de Titanic põe a boca no trambone a vociferar contra os filmes rodados em 2D e convertidos para o 3D na pós-produção. Segundo Cameron, esses filmes “sujam” a imagem do 3D e ajudam a cansar o público. O diretor, em entrevista a Entertainment Weekly em virtude do relançamento de Avatar nos cinemas no ano passado, declarou que o 3D não radicaliza a produção de cinema (contrariando um parecer próprio de alguns meses antes). “Assim como a cor não eliminou os filmes em preto e branco”, disse. Em 2008, quando Avatar estava em pós-produção, Cameron disse à mesma publicação que “tudo mundo estará fazendo filmes em 3D em 20 anos”.
James Cameron orienta seus atores no set de Avatar: Para o diretor, a revolução já foi maior do que será...
Tirado o componente marketeiro e o ócio dos fatos de cada declaração, as falas de James Cameron são sintomáticas de uma indústria (Hollywood e não o cinema) que agoniza em termos de renovação. Para se fazer um paralelo erudito, o ator Caco Ciocler, em entrevista ao Globo News em Pauta (programa do canal a cabo Globo News) afirmou que o stand up comedy é fruto de “uma crise criativa do teatro”. Para Ciocler, embora ele não veja o stand up comedy como teatro, ele entende que essa cada vez mais popular forma de entretenimento surgiu de uma crise da instituição teatral. É uma leitura interessante de se aproximar do que vivencia Hollywood diante do novo ocaso do 3D. O 3D, da perspectiva dos estúdios, representa um ganho financeiro maior com uma oferta de entretenimento que, em si, independe do filme. Do ponto de vista da realização, o 3D é mais uma alternativa narrativa. Foi o que fez o cineasta alemão Werner Herzog com o documentário Cave of forgotten dreams (2010). O filme, que foi lançado há três semanas nos EUA, mostra Herzog explorando cavernas francesas e fazendo uso do 3D. O alemão gostou da experiência. “O 3D adequou o sentido de profundidade que eu queria passar”, afirmou o diretor alemão ao New York Times. O problema é que o documentário de Herzog foi pouco visto. Pior, já foi concebido com essa limitação em mente. O 3D aqui, do ponto de vista da produção, é um recurso que apenas acresce ônus sem garantir retorno financeiro.
Essa dicotomia oficializa o fracasso do 3D como bote salva vidas de Hollywood. Salvo uma ou outra produção circunstancial, tal qual foi Avatar, o 3D não se cristalizará em lucro. Considerando as etapas de produção e a oferta em demasia de filmes no formato, resultará em um ônus cada vez maior. A pergunta que excede os caprichos de Cameron e o pragmatismo de Herzog é: Se não o 3D, o quê?
O alemão Werner Herzog, que esteve essa semana em São Paulo para um congresso sobre jornalismo cultural, inseriu o 3D no horizonte dos documentários. Outro alemão, Wim Wenders arrebatou o festival de Berlim com outro documentário no formato
A resposta não forma a unidade que favorece os preguiçosos. Manter Hollywood operante e altiva passa tanto pela aproximação do circuito de festivais (e plataformas como Veneza e Cannes nunca estiveram tão próximas), como pelo estreitamento do cinema comercial com um cinema mais pensante. Como provam o sucesso de filmes como Cisne negro e A origem, tão distintos em concepção e proposta, mas unidos pelo perfil do público a qual desejam se comunicar.
O Home Entertainment é um filão que os estúdios já manifestaram o desejo de explorar (para saber mais clique aqui). Em menos de quinze anos surgiram os DVDs, os Blu-rays, os streamings e os downloads digitais. A aparelhagem para se assistir cinema em casa evolui a passos largos e as salas de exibição perdem em matéria de atratividade com o alto custo dos ingressos. O cinema, com a democratização do acesso proposto pela internet, em um primeiro plano, e pela pirataria, em um segundo plano, passou a ser um programa de classe média para cima.
Cena de Thor, primeiro lançamento do verão americano de 2011: primeiro no mercado internacional...
A saída para Hollywood é conseguir motivar o público a pagar o ingresso para conferir um filme no cinema, tão logo isso seja possível. É lógico que alguns ajustes na distribuição precisam ser feitos pontualmente e a internet deve fazer parte desse entorno. Nos últimos três anos, os estúdios têm privilegiado o mercado internacional, nos lançamentos de seus principais blockbusters, em detrimento do mercado doméstico. A Marvel, por exemplo, lançou Homem de ferro 2 (2010) e Thor (2011) no mundo todo, para uma semana depois, lançar nos EUA. A geografia do marketing promocional também mudou. Hollywood aposta no mercado internacional como respiro de sua produção cinematográfica. É uma escolha acertada. Mas também não deixa de ser uma nuvem de fumaça. No final das contas, não há nenhuma tábua mágica de salvação. Precisa-se, apenas, de bons filmes.
É, os estúdios sempre buscarão alternativas para atrair o grande público aos cinemas, sem perceber que nosso maior anseio é por uma boa história. O 3D cansa, principalmente, como você disse, quando está ali apenas para seguir a onda. A imagem fica escura, os óculos incomodam e o resultado não se justifica. Fora que aumenta o preço do ingresso, outro grande problema das salas. Ir ao cinema é caro. Uma família não gasta menos de R$ 100,00. A falta de educação na apreciação coletiva também atrapalha, conversas, celulares, pés nas cadeiras. É mesmo complicado.
ResponderExcluirDiscussão ainda muito longa, Reinaldo, hehe, mas vamos ver se a industria encontra outra novidade para atrair o público.
bjs
Há muito tempo que Hollywood se preocupa em como vender mais, deixando a qualidade em segundo plano. O 3D é mais uma ferramenta usada para atrair o público, muitas vezes para desviar a atenção de um filme que sem esse detalhe passaria voando pelos cinemas.
ResponderExcluirQuando ao preço dos ingressos, infelizmente nosso país está passando por uma "elitização". Cinema, teatro, show, jogos de futebol, entre outros exemplos, estão cada vez mais caros para a população, o que afasta as classes C, D e E, que é obrigada a procurar alternativas.
Estas alternativas são DVDs e CDs piratas, gatonet e atrações gratuitas, que em SP se transformam em loucura em virtude da quantidade de pessoas que procuram estes eventos.
São temas para horas de discussão.
Abraço
William Castle usou e abusou do 3D na década de 50. Ultimamente eu nem vi filmes em 3D, meu último foi RIO.DE vez em quando é divertido. Imagine ver docs. em terceira dimensão?! Sou um cara de óculos e é um saco óculos em cima dos óculos. Rs!
ResponderExcluirAbs.
Rodrigo
Amanda: A discussão é longa e, como vc transpareceu, se bifurca em outras questões.
ResponderExcluirBjs
Hugo: Essa questão da elitização é um outro ponto que dois reportagens especiais aqui no blog há alguns meses abordaram. No Brasil essa condição é ainda mais flamejante.
Abs
Rodrigo:rsrs. Imagino que sobreposição de óculos deva ser realmente desagradável...
Abs