domingo, 22 de maio de 2011

Insight

Por que Meryl Streep ainda não levou seu terceiro Oscar?


É pacífico que Meryl Streep é uma das maiores atrizes de todos os tempos. As estatísticas a colocam na dianteira na disputa com suas contemporâneas e os números de bilheteria de seus filmes mais recentes lhe aferem força e regularidade que faltam a stars como Reese Whiterspoon, Sandra Bullock, Julia Roberts e Kristen Stewart. Os expoentes populares de gerações posteriores se inferiorizam ante a devassa que Meryl faz nas bilheterias com filmes como O diabo veste Prada (2006), Mamma mia (2008), Julie & Julia (2009) e Simplesmente complicado (2009). Meryl desafia preceitos da indústria a provar-se campeã de bilheteria no mesmo grau em que se enuncia digna de prêmios.


O segundo Oscar veio por A escolha de Sofia nos anos 80: a supremacia da atriz em seu ofício ainda estava por vir


Se seu currículo é abrilhantado com 16 indicações ao Oscar, recorde supremo entre atores, torna-se imediatamente manchado pelo dissabor de se materializar-se a grande derrotada nesse departamento. Ostentasse o recorde de Katherine Hepburn, quatro Oscars (todos na categoria principal), podia ter vinte indicações que ainda seria lembrada como uma vitoriosa. Mas Meryl Streep, embora demonstre fôlego invejável e talento de sobra, não ganha um Oscar desde 1983 (na quarta indicação) quando prevaleceu por sua soberba atuação em A escolha de Sofia. Os fãs e setores da indústria se embolaram em conjecturas, ao longo desses quase trinta anos, tentando intuir quando o terceiro Oscar sairia e se sairia.
Alguns advogam que Meryl Streep já foi plenamente reconhecida como a artista que é; e o recorde de indicações à estatueta avalizaria isso. Não deixa de ser um argumento prolixo. Outros, menos entusiasmados com a atriz, postulam que ela só obteve tamanho destaque porque, diferentemente do que se vislumbrava na era de ouro do cinema americano, não há grandes atrizes. Esse argumento, embora tenha um componente difamatório, também procede. De fato, hoje não existem estrelas que excedam o rótulo. Primeiro se justificou a falta de atrizes de talento esponjoso pela carência de papéis femininos de relevo. Paradoxalmente, a própria Meryl se incumbiu de defenestrar tal justificativa com seus sucessos de bilheteria e sucessivas indicações a prêmios. Logo se percebeu que havia estrelas de revista, mas não atrizes de grande fôlego dramático ou bom trânsito cômico. Meryl Streep, que esbanja nas duas vertentes, só fez pavimentar essa teoria.

Performance elogiada em As horas (2002) não lhe rendeu indicação ao Oscar. Foi a única do elenco que ficou de fora. No mesmo ano, no entanto, foi indicada por outro grande trabalho, Adaptação


Essas ponderações são importantes para responder a seguinte pergunta: Meryl Streep ganhará um terceiro Oscar? E a resposta não poderia ser mais imprecisa. Talvez. É fato que a academia considera premiá-la novamente. Uma atriz que obtém destaque dessa intensidade nessa fase da carreira merece ser laureada por isso. No entanto, a instituição já deu reiteradas demonstrações que prefere honrar atrizes de novas gerações em papéis únicos em suas carreiras. Dessa maneira, atrizes do gabarito de Sandra Bullock (2010), Helen Mirren (2007), Catherine Zeta Jones (2002), Hilary Swank (2000), Gwyneth Paltrow (1999), Cher (1988) e Geraldine Pine (1986), que não apresentam a regularidade de Meryl, prevaleceram sobre ela quando disputaram. Nos outros anos em que disputou e perdeu, Streep foi superada por adversárias tão eloquentes em termos dramáticos quanto ela, mas que ainda não tinham sido premiadas. Como Kate Wisnlet (2009), Susan Sarandon (1996) e Kathy Bates (1991).

A 15ª indicação ao Oscar, que estabeleceu a atriz como recordista absoluta entre atores e atrizes, veio em 2009 pelo filme Dúvida: derrota para Kate Winslet - que concorria por O leitor - outra grande atriz que carecia de reconhecimento

A atriz caracterizada como a ex-primeira
ministra britânica Margaret Thatcher
em The iron lady: fãs apostam
em nova indicação ao Oscar em 2012


Além dessa orientação da academia de prestigiar episodicamente, novas estrelas ou grandes desempenhos, e historicamente, quem quer que ainda não tenha sido laureado (e precisamos lembrar que academia ostenta muitas injustiças), é preciso ressaltar que Meryl Streep já tem dois Oscars e a academia tem se mostrado resistente a ampliar a galeria de atores com um número de estatuetas maior que dois: Katherine Hepburn tem 4 e Jack Nicholson tem 3. Abaixo deles, uma legião de monstros sagrados com duas estatuetas. O julgamento que a academia se lança sempre que Streep volta à disputa é se vale a pena alçá-la de posição. A resposta vai depender muito do tempo que a atriz ainda trabalhará e do nível de sua concorrência no ano em que for indicada. Repare que Jack Nicholson e Tom Hanks, mesmo merecendo, já não são sequer lembrados pela academia por desempenhos magistrais como os de Os infiltrados (no caso do primeiro) e À espera de um milagre, Estrada para a perdição e Jogos do poder (no caso do segundo). O fato de Meryl Streep continuar sendo lembrada abastece as esperanças de que o terceiro Oscar está no horizonte. Abastece, também, a teoria de que há poucas grandes atrizes em atividade no cinema americano hoje. Para o bem e para o mal, o terceiro Oscar de Meryl Streep se equilibra entre essas teorias.

8 comentários:

  1. Não há atriz mais versátil e completa como Meryl Streep, isso é fato. Atualmente, creio que ela ainda consegue ser a número 1 dentre todas as atrizes. Percebe-se que Meryl gosta do que faz e faz cm muita vontade, diferente de tantas outras... Claro que não dá para premiar Streep toda vez que ela concorrer ao Oscar, até porque ela sempre entrega um ótimo trabalho. Mas, existe aqueles questionáveis. Afinal, Streep merecia o Oscar 2010 em vez da Bullock... Enfim, coisas da academia.

    Acredita que ela ainda leve o terceiro. Tem muito filme ainda para Streep :D

    []s

    ResponderExcluir
  2. Obrigada por ter seguido aquela sugestão que te deixei no post que fiz sobre o mesmo assunto lá no "Cinéfila por Natureza". Seus argumentos são muito válidos. Eu acho que a AMPAS cogita, sim, em dar o terceiro Oscar para Meryl, por isso ela é constantemente lembrada, mas a sensação que eu tenho é a de que isso vai vir quando for uma confluência, um desejo do mercado, a vitória dela, uma vez que o Oscar se transformou num prêmio de indústria há muitos anos.... Ganha quem é de interesse da indústria. Quando Meryl for o nome da vez, será o nome da vez.

    ResponderExcluir
  3. Sem dúvidas, Reinaldo, Meryl Streep é a melhor atriz que temos em atividade e merece não apenas Oscar como todos os reconhecimentos possíveis, Mas, parece mesmo que a Academia a colocou meio como "hors concours", está sempre lá, mas nunca leva. Ainda tenho esperanças de outro Oscar, apesar de que depois da perda em Dúvida eu ter ficado menos animada.

    Ótima análise, só não gostei de você colocar Helen Mirren no time de Sandra Bullock e Gwyneth Paltrow. hehe. Gosto muito da classe da atriz.

    bjs

    ResponderExcluir
  4. Excelente texto. Acredito que, embora seja inegavelmente soberba em praticamente tudo que faz, os dois Oscar que Streep já tem pesam como fator contra em disputas com outras grandes performances nos anos em que concorre. Mas ainda haverá o momento em que, espero que apoiada por um grande filme, ela conseguirá o impulso necessário para seu terceiro prêmio da AMPAS.

    ResponderExcluir
  5. Achei muito bem fundamentada a sua análise! São poucos os atores que me fazem ir ao cinema sem qualquer "mas" em mente. Torço para que Meryl ganhe outro e outros Oscars. Acho que seria um incentivo para que outras atrizes importantes voltassem ao cinema e cobrassem papéis "desafiadores", como Diane Keaton, por exemplo.

    ResponderExcluir
  6. Ótimo insight, Reinaldo. Tema recorrente entre os cinéfilos quando o assunto é premiações. Ficaria muito feliz se Streep fosse agraciada com mais uma estatueta, porque ela é ímpar, tanto em termos artísticos como pessoal. Sem mais. Acho que aqui não tem nem o que discutir. Mas, por outro lado, acho um pouco desconfortável esse alarde que fazem em cima dela como se o Oscar tivesse a obrigação de outorgá-la mais uma estatueta. Torço, acima de tudo, para que a melhor vença - ainda que a melhor seja Hilary Swank de novo rs. Mas sei que não é assim que funciona.

    Sou um dos únicos, mas eu também não atribuiria a ela um 3 Oscar desde "A Escolha de Sofia". Está magnífica nos demais, mas sempre tinha uma ou duas - ou 4 - que estavam à sua frente, na minha humilde opinião. Dessa forma, não considero seu hiato como vencedora tão injusto assim.

    Mas, caro Reinaldo, me explica isso direito: "Outros [...] postulam que ela só obteve tamanho destaque porque, diferentemente do que se vislumbrava na era de ouro do cinema americano, não há grandes atrizes".

    Como não?
    I'll be back =)


    abs!

    ResponderExcluir
  7. Alan: Seus argumentos estão certíssimos meu caro. Só não acho que Meryl merecesse o Oscar em 2010. Julie e Julia além de ter sido a performance mais fraca do ano foi, seguramente, a mais fraca das contempladas com indicações da carreira da atriz. Agora, ñ estou dizendo que o Oscar deveria ir para Sandra... Carey Mulligan estava muito melhor...
    abs

    Kamila:Que isso Ka. Grato pela ótima pauta e por termos batido essa bolinha.rsrs. Pois é, quando for a vez, será a vez né?
    Bjs

    Amanda:rsrs. Tb gosto de Helen Mirren. Mas ela está ali pelo fato regularidade. O olhar da indústria e da crítica sobre ela mudou após A rainha. Antes sua carreira é bem irregular...(mas ela é tremendamente mais talentosa do que sua companhia naquela lista)
    Bjs

    Mateus Denardin: E vc disse tudo. Concordo plenamente!
    Abs

    Aline:Coitada da Diane Keaton... rsrs
    Bjs

    Elton: Grande Elton: Sempre ponderado e agregando valor aos textos aqui de Claquete. Por essa deferência te sou muito grato. Pois é, existe essa teoria, e não dá para negá-la completamente, de que há uma carência proeminente de grandes atrizes na atualidade. Tirando Kate Winslet, Helen Mirren,Kathy Bates e outras veteranas, restam poucas. Como vc bem sinalizou, não dá para colocar vencedoras recentes do Oscar como Nicole Kidman, Halle Berry ou Hilary Swank no panteão das grandes, né?
    Aquele abraço!

    ResponderExcluir
  8. Opa!
    Perdoe a ignorância da interpretação. Achei que você havia mencionado que na época de ouro de Hollywood, a indústria era escassa de grandes atrizes hehe. O que uma vírgula não faz? rs.

    No mais, concordo plenamente contigo. Talvez o tempo imortalize as demais - adoro Kidman, essa mulher destrói com um papel dramático em mãos - mas assino embaixo quando diz que não dá para juntá-la a outras mais consagradas. Ela ainda terá o seu tempo, embora já tenha excelentes trabalhos no currículo.

    grande abraço!
    e perdoe o mal entendido hehe.

    ResponderExcluir