quinta-feira, 3 de março de 2011

OSCAR WATCH 2011 - O saldo da temporada de premiações

A temporada do Oscar chega ao fim com um indefectível gosto agridoce. Além de dois filmes multipremiados, o que não acontecia pelo menos desde 2007 quando Pequena Miss Sunshine e Os infiltrados dividiram a maior parte das glórias na temporada e ainda teve Babel levando o Globo de ouro, a Oscar season 2011 acaba com um certo estranhamento. Como se já tivéssemos visto esse filme antes; gostado e, agora, na revisão não gostado tanto assim.
A consagração de O discurso do rei no Oscar já foi analisada, contestada e saudada a torto e a direito em todos os veículos midiáticos que se prezam, inclusive aqui em Claquete. O que parece escapar aos formadores de opinião é que a premiação agradou grande parte do público. Foi um voto conservador? Sem dúvida. Previsível? Totalmente. Mas não é só a academia que gosta de se refestelar sobre esses conceitos. O público médio também. Isso ajuda a explicar porque O discurso do rei vem tendo um crescimento de 30% por semana nas bilheterias internacionais e mantém-se estável nas bilheterias americanas mesmo estando em cartaz há quase três meses. O vencedor, por exemplo, que está em exibição nos EUA pelo mesmo período, teve sua bilheteria impulsionada pelas indicações ao Oscar, mas depois voltou a sua curva de crescimento normal. O filme tinha o seu público. O público de O discurso do rei (que antes do Oscar de domingo já totalizava uma bilheteria mundial de U$ 230 milhões) é muito mais amplo. Esse dado ajuda a entender a decisão da academia. É um filme clássico, que agrada uma platéia diversificada – justamente por não se experimentar tanto – e que tem em seu academicismo um trunfo que não se pode negar: o público que aprecia O discurso do rei identifica nele um material de Oscar. Ainda que a crítica não aceite, esse fator é preponderante. Afinal, seguindo critérios bem rudimentares, para se premiar um filme, é preciso gostar dele. Em seu conservadorismo ilibado não é possível desgostar de O discurso do rei enquanto filme, ainda que seja passível questioná-lo enquanto cinema.
O jornal O Globo, em matéria publicada na última terça-feira, apresentou forte descontentamento de integrantes de variadas frentes dentro da academia com o resultado do Oscar do último domingo. O que parece em sintonia com a crítica internacional pressupõe que os votos dos acadêmicos se concentraram em dois filmes: A rede social e O discurso do rei.

Os donos do Oscar: David Seidler e Tom Hooper, roteirista e diretor de O discurso do rei, exibem os Oscars recebidos no último domingo


O saldo, no entanto, se revela positivo. Ao agonizar entre propostas conservadoras (O discurso do rei) e arrojadas (Onde os fracos não têm vez e Os infiltrados), o Oscar se impõe na fronteira da mudança. Ação e reação. Assim como a guinada conservadora de 2011 é fruto dos resultados dos últimos anos, é prudente supor que surge nas entranhas da academia um embrião de mudança. Os quatro prêmios para A origem, os três de A rede social e a tentativa, ainda que malfadada, de rejuvenescer a cerimônia apontam para um movimento itinerante que, se o destino ainda é desconhecido, desanuvia-se como promessa de bons tempos. É necessário, contudo, que a safra ajude.
Por ironia, sai fortalecida dessa temporada a Hollywood Foreign Press association (HFPA) que distribui o Globo de ouro. Premiou um filme melhor que o Oscar (diferentemente do que ocorrera no ano anterior), teve um host melhor e não teve a crítica buzinando e iluminando seus desacertos. Para o Oscar, para o globo de ouro e para todos os cinéfilos que ficam em polvorosa nessa época, nada melhor do que um ano após o outro.

2 comentários:

  1. Boa análise, Reinaldo. Concordo que O Discurso do Rei tem agradado as platéias em geral, vejo isso até pela turma que levei para vê-lo. E temos que admitir que é um bom filme, bem realizado em todos os quesitos. Só acho que a Academia podia ousar um pouco mais.

    bjs

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  2. Amanda: Tb gostaria de ver a academia ousando mais Amanda. Mas tudo leva a crer que no ano que vem a escolha será mais satisfatória... Bjs

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