Semana passada repercutiu em Hollywood e na imprensa especializada na cobertura de cinema e de celebridades, uma declaração do editor chefe da Variety, Tim Gray, sobre o fluxo de informações no noticiário hollywoodiano. Segundo Gray, deveria existir uma hierarquia de informações. E os estúdios deveriam privilegiar as revistas e jornais de grande circulação (como a Variety) em detrimento dos sites.
A fala de Gray não desceu bem. Houve comoção generalizada no meio e repercussão negativa em blogs americanos, entre produtores de cinema e editores de outros veículos noticiosos.
É inevitável a constatação de que a fala do editor da Variety deriva de um mau momento financeiro e jornalístico da publicação. Fundada em 1905 em Nova Iorque, a Variety foi uma das primeiras revistas a cobrir cinema fora de Los Angeles. Em 1933, em plena era de ouro de Hollywood, a Variety expandiu-se para Los Angeles e passou a publicar uma edição diária em formato tablóide. Finalmente, em 1998, com a internet já consolidada, aderiu a nova ferramenta de notícias e lançou seu site.
A queixa de Gray é de que os estúdios estariam privilegiando sites como The wrap, em detrimento de revistas como Enterteinment weekly, Premiere e a própria Variety. A queixa procede, mas não se justifica. Não é de hoje que sites dedicados a cobertura de cinema se equivalem às revistas e jornais do mesmo segmento, com a vantagem do dinamismo da internet. Porém, justamente por conta disso, as revistas criaram seu sites. Para que possam dar os furos (jargão jornalístico para notícia inédita, bombástica) e depois repercuti-las em sua versão impressa. Esse cenário não é novo. É algo imposto pelo advento da internet e, a grosso modo, é a via crucis de qualquer notícia. O que de fato incomoda ao editor da Variety é estar sendo passado para trás. A publicação já não consegue mais material exclusivo (e é difícil acreditar que conseguirá novamente depois desse imbróglio) e está atrás de seus concorrentes na apuração dos bastidores de Hollywood. Outro fator que contribui diretamente para a birra de Gray é a questão financeira. Enquanto a Entertainment weekly faz parte do conglomerado de comunicações Time Warner (um dos mais poderosos do mundo e de cujo pool de empresas fazem parte a rede de TV CNN, o canal de filmes Premium HBO, o site american on line e o estúdio de cinema Warner Brothers), a Premiere tem uma marca global poderosa (tem revistas também publicadas em grande parte do mercado europeu), a Variety vive, exclusivamente, de seus anunciantes. Portanto, está mais vulnerável a crises do que suas concorrentes.
Anúncio pago pela produção de Guerra ao terror em edição diária da Variety: na briga pelo Oscar, um anúncio na Variety é crucial (será que continuará sendo?)
A barganha de Gray, portanto, deu-se por essas razões. Ele tentou capitalizar em cima da tradição da publicação e aborreceu todo mundo. Ainda por cima demonstrou falta de compreensão de mercado. Vociferou contra um modelo de negócios (a relação entre estúdios e imprensa) que na prática não mudou em nada. Mudaram (e já há algum tempo) as estâncias dessa relação, mas não a forma de se apurar e negociar uma notícia.
É, mesmo pegou mal essa declaração. E só com isso, ele só acaba de um certo modo, ruindo o que a Variety construiu nesses anos de existência...
ResponderExcluirPois é! Agora chegou a notícia de que demitiram o principal crítico da Variety. Fizeram uma proposta de freela para o cara e ele não aceitou. A Variety está mal das pernas (financeiramente falando) e isso não deixa de ser ruim para um negócio chamado cinema. Vamos aguardar! ABS
ResponderExcluirNossa Reinaldo então a coisa tá preta para a VARIETY, pelo visto o mais viável daqui para frente é a falência...
ResponderExcluirÉ, esperar pra ver
Realmente Alan, essa é uma possibilidade. Mas penso que algum grupo de investimento deva comprar a publicação, tentar recuperá-la, para mais adiante revendê-la(e obter lucro). Assim é o captalismo né?!!!
ResponderExcluirContudo, posso estar errado...