Porque se apaixonar é mágico...
Pode parecer publicidade oca, mas faz toda a diferença as
mentes criativas por trás de Ruby Sparks – a namorada perfeita (Ruby Sparks EUA
2012) serem dois casais em fases diferentes da vida e da relação. Isso porque,
em um primeiro momento, Ruby Sparks fala sobre expectativas que gravitam uma
relação amorosa e, em um segundo momento, sobre o peso do desenvolvimento de
uma relação amorosa.
Posto de maneira simples, o que Ruby Sparks – a namorada
perfeita propõe é um choque entre o conto de fadas – de onde o filme tira sua
fascinante premissa – e a realidade – que vai sendo pincelada com contornos
cada vez mais sombrios. Ainda assim, Ruby sparks se mostra um filme solar,
meigo e engraçado. Não à toa, os responsáveis são Jonathan Dayton e Valerie
Faris – que há seis anos chamaram a atenção à frente do indie Pequena miss
sunshine. O outro vértice que provê equilíbrio a essa tese disfarçada de comédia
romântica que é Ruby Sparks é Paul Dano e Zoe Kazan. Namorados na vida real,
eles esbanjam química e não fazem questão de esconder o viés terapêutico da
obra, cujo roteiro é assinado por Zoe.
Dano, com inesperado desembaraço cômico, vive Calvin. Um escritor refém de seu primeiro sucesso. Mas se o único problema de Calvin fosse a
dificuldade de inspiração para escrever seu segundo livro, ele estaria bem.
Abandonado pela namorada após a morte do pai, Calvin alimenta forte tendência
antissocial e preocupa desde o irmão até o terapeuta. Este último lhe sugere um
exercício, do qual Calvin acaba extraindo inspiração: começa a escrever sobre a
garota de seus sonhos. Só que ele se descobre apaixonado por ela. Algo que
torna a lhe jogar em conflito, o que é potencializado quando Ruby, a garota que
começou a escrever depois de sonhar, se materializa em sua frente. A princípio
desconfiado, ele acaba constatando que essa materialização de seu subconsciente
é real. Real o suficiente para interagir com outros além dele. A lua de mel, então, tem
início. Calvin nunca fora tão feliz.
Ela é real: Calvin custa a acreditar que "criou" uma mulher e custa a acreditar que sua criação pode não amá-lo incondicionalmente
Mas o segundo ato do filme desconstrói esse mar de rosas.
Não há relação que resista ao desgaste e no interessante contraponto que
oferece ao colocar a mãe de Calvin (Annette Bening) e seu padrasto (Antonio
Banderas) na trama, Ruby Sparks avaliza dois comentários de naturezas opostas:
por um lado chama a atenção para o fato de que nenhuma relação amorosa
sobrevive sem um esforço diário para que isso aconteça e, por outro, atenta
para o ímpeto dominador que algumas pessoas apresentam em uma relação. Exigindo
que o/a parceiro (a) se molde às suas vontades.
Justamente por capturar tão bem essa ambiguidade, e ainda
tirar um final feliz extremamente poético e encantador da cartola, que Ruby
Sparks – a namorada perfeita é um filme tão interessante. Certamente não é o
arroubo de originalidade e acidez que é Pequena miss sunshine, mas é uma obra
que não se furta a iluminar sombras que preferimos esconder. Ruby Sparks – a
namorada perfeita é um filme sobre as diferentes faces do amor, mas é, antes
disso, um filme sobre como o ato de amar pode nos tornar pessoas melhores.
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