A discussão é eterna. Como os diamantes. É impossível
desviar-se de certa subjetividade na avaliação que se faz dos intérpretes de
007. Mas alguns critérios e balizas podem ser adotados para a aferição de um
resultado mais objetivo.
É comum a constatação de que Sean Connery, o primeiro a dar
vida a James Bond, é o melhor. Será mesmo? Recentemente, Roger Moore, que
sempre foi tido como o maior desafiante a essa hegemonia de Connery, declarou
que o atual Daniel Craig foi quem “melhor encorpou Bond, lhe aferindo força
física e profundidade emocional”. O voto de Moore pode ter segundas intenções.
Ele pode estar interessado em naufragar a corrente que atribui a Connery o
posto de “James Bond definitivo”.
É inegável que o peso de ter sido o primeiro joga a favor de
Connery. Afinal, ele ajudou a fundar os cânones de 007 e moldou sua
representação no cinema com seu charme, beleza rústica e carisma indomável. O
humor escocês de Connery, uma variação bem urdida do sarcasmo inglês, também
ajudou na engenharia do personagem. Foi Connery quem fez de James Bond uma mania.
Além de lhe somar generosos pontos, esse fato contribui para que Connery se
estabeleça como referência, tornando inglório o objetivo de relegá-lo a um
segundo plano na historiografia de Bond.
No entanto, pesa contra Connery o desapego que ele vira e
mexe mostra para com Bond, coisa que os outros dois interpretes que costumam
frequentar a preferência de fãs em todo mundo não manifestam. Tanto Roger
Moore, que chegou a escrever duas autobiografias que tem Bond no título, como
Pierce Brosnan convivem muito bem com o estigma de Bond. Daniel Craig, por sua
vez, até melhorou como ator depois de vestir o smoking do espião.
Reinado em disputa: Sean Connery é o Bond definitivo. Mas definitivo até quando?
Os pingos nos is
Se Sean Connery fez de Bond um símbolo de masculinidade, foi
Roger Moore quem consolidou o personagem libertando-o justamente da sombra de
Connery – depois da mal recebida participação de George Lazemby. Com Moore, a
franquia se consolidou e pôde finalmente aspirar eternidade. Moore trouxe humor
para 007 e sua fase foi das mais prolíferas com os filmes se enfileirando. Não à
toa, é o ator que mais viveu 007 em filmes oficiais (sete) e foi Bond por doze
anos. Para se ter uma ideia, Daniel Craig já detém o título há seis e ainda vai
para o terceiro filme.
Roger Moore tinha beleza e elegância a seu favor, mas não a
rudeza e o charme indevassável de Connery. O humor ajudou a tornar mais
tolerável essas diferenças e o público aceitou bem a mudança.
O galês Timothy Dalton, de formação shakespeariana, não teve
a mesma sorte. Na verdade, Dalton já foi segunda opção. O irlandês Pierce
Brosnan era a primeira opção dos produtores. Com esse feedback, Dalton amargou
a pior época para ser Bond. Com o fim da guerra fria, o personagem estava
aparentemente sem sentido e o mundo estava perplexo com o surgimento da AIDS o
que incidiu também na característica predadora de Bond. Resultado? Dalton, que
só ficaria mais charmoso dos anos 2000 para cá, amargou o título de pior Bond.
Isso por que em defesa do australiano Lazemby podem argumentar sobre a pressão
de substituir Connery e o fato de não terem lhe dado uma segunda chance. Dalton
tem poucas desculpas a seu alcance.
Roger Moore trouxe humor e sofisticação para a série e a libertou da sombra de Sean Connery
Pierce Brosnan trouxe classe ao personagem e soube equilibrar as virtudes de todos os seus antecessores
Nos anos 90, com o avanço da tecnologia, os orçamentos dos
filmes ficando mais gordos e o maior hiato da história para os filmes de 007
(sete anos), tudo parecia conspirar a favor de Pierce Brosnan. E ele não
decepcionou. Classudo, cheio de charme e bonitão, Brosnan conseguiu conciliar
as melhores características das versões de Connery, Moore e até Dalton. Parecia
ser o Bond perfeito. De fato, o ator se apoderou do personagem de tal maneira
que foi difícil imaginar 007 pós- Brosnan. Talvez isso ajude a explicar a razão dos produtores terem vendido o peixe do reboot quando confirmaram Daniel Craig
como seu substituto. Craig foi bastante questionado. Eram questões legítimas.
Seria o primeiro Bond loiro, baixo e, vá lá, feio. Descrição completamente
distinta das bases propostas por Ian Fleming. Mas Craig também é charmoso, sexy
e seria o primeiro Bond com tórax definido.
No final das contas, Daniel Craig se beneficiou do momento
que vive o cinema de ação e como isso influenciou a nova safra dos filmes de
Bond. Bom ator, imprimiu um estilo pessoal que faz lembrar as origens de Bond
com Connery, mas se permite aprofundar emocionalmente o personagem. Algo que
não ocorria com Connery, em parte porque o objetivo não era esse.
Daniel Craig talvez disponha do melhor James Bond. Essa
seria uma definição mais acurada. Roger Moore é o principal responsável por
esse Bond ter chegado a Daniel Craig. Connery é a referência suprema e, talvez,
Pierce Brosnan mereça mais justiça. Se não tivesse vingado como Bond, com o
personagem fora dos cinemas há sete anos, tudo teria acabado ali. Em 1995.
Daniel Craig em registro dos sets de Operação Skyfall: Moore já declarou apoio para elegê-lo o melhor Bond de todos os tempos, mas cabe à história julgar
"A discussão é eterna. Como os diamantes..." e você começa o seu texto lindamente meu caro. Ótimo artigo!
ResponderExcluirEu acho que cada ator deu a Bond uma característica e foram bem na proposta e época que viveram. Qual outra série do cinema tem isso?
Eu sei que você não aprecia Dalton, já havia comentado quando postava a sessão trailer 007. Discordo. Acho Dalton subestimado e concordo que ele pegou uma época maldita. Ainda assim, tinha pontos fortes como Bond. Sabia que o Cubby gostava muito dele, né?
Lazenby foi egoísta e caiu fora logo, certo de que é o mais estranho no papel e toda vez que assisto "A Serviço Secreto de Sua Majestade" noto um ponto negativo dele como ator (ele daria melhor fazendo papel do Tarzan) e olha que o filme nem é tão ruim.
Craig está aí arrasando, no começo levei um susto quando o selecionaram. Ele é o Bond que Connery, Moore e Brosnan jamais seriam e vice-versa para cada um entre eles.
Abs.
Rodrigo Mendes: Obrigado meu caro. Que bom que gostou do texto. Na verdade, busquei fazer a análise mais imparcial possível. Não desgosto de Dalton. Até gosto bastante do ator. Mas para mim, ele é um Bond um tanto decepcionante sim. Lazemby então é um fiasco. Mas são detalhes menores. Concordo plenamente que cada intérprete trouxe muito de positivo ao personagem e, sem dúvida,Craig está promovendo - com o préstimo de todo esse contexto que aventamos - as mudanças mais profundas.
ResponderExcluirAbs
"Connery estabeleceu os parâmetros do 007" e Craig "se beneficiou do momento que vive o cinema de ação". Muito bom. Concordo totalmente.
ResponderExcluirNo primeiro filme com Daniel Craig, foram tamanhas as mudanças, que achei que estava vendo não o James Bond, mas outros JB's, como Jason Bourne ou Jack Bauer. Com os outros filmes chegando, fui compreendendo melhor o aprofundamento emocional do personagem.
PS: revendo os primeiros 007 essa semana no TCM, confirmo que Connery é imbatível. E que Craig é mesmo perfeito para o atual momento revisionista dos heróis.
Connery é o melhor poque deu vida ao personagem, Ja o DAlton e o Lazemby foram decepçôes , Moore conseguiu fazer o publico esquecer de Connery, e quando tudo parecia acabado Brosnan consegiui unir traços de Connery e o humor de moore
ResponderExcluirJá Craig no primeiro filme cassino royale foi perfeito, mas em quantum of solace alguns laços emocionais fugiram da caracteristica que estamos acostumado, e no novo filme skyfallvemos um 007 ruim como agente, mas craig é muito bom como james bond
A pergunta deve ser feita de outra forma deveria ser assim "DEPOIS DE SEAN CONNERY " quem foi o melhor James Bond?
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