Já está pacificado que o Oscar 2012 agrega grande componente nostálgico e demonstra grande potencial globalizante. Mas quais são os registros a serem feitos a respeito da 84ª edição do Oscar? O primeiro deles, certamente, é que a safra do Oscar 2011 poderia ser muito melhor se melhor peneirada pela academia. Muitos ótimos filmes ficaram de fora e outros, lembrados em categorias menores, tiveram passe negado na mais almejada disputa: a de melhor filme.
Outra observação inerente é que, ao contrário do que pregam seus detratores, o Oscar mostrou que é mesmo a arte que mais lhe interessa em matéria de cinema. Prova disso é a configuração da principal categoria da noite (como pode ser visto no post "A peleja dos filmes").
E quem deve ser o grande vencedor do Oscar? Salvo uma grande mudança de rumos, O artista deve ser consagrado. O filme de Michel Hazanavicius é uma carta de amor a tudo que Hollywood já foi e sonha em voltar a ser. É um lobby pronto para ser premiado. Nem precisaria da ajuda do megamarqueteiro Harvey Weinstein. Mesmo assim ainda contou com sua providencial expertise na campanha pelo Oscar. E que campanha! O artista levou praticamente todos os prêmios possíveis e deve coroar a performance invejável com o Oscar. É mesmo o melhor filme entre os nove concorrentes. A invenção de Hugo Cabret é, de fato, quem mais lhe ameaça. É uma opção de estúdio ao charme nostálgico representado por O artista, dirigido pelo cada vez mais pop Martin Scorsese e legitima o 3D como ferramenta autoral. Seria uma forma de academia premiar o que O artista significa e manter o ouro em casa (já que a fita de Hazanavicius, apesar de algum investimento americano é francesa). Os descendentes seria uma terceira e honrosa via. Contudo, o filme está desconectado do clima que parece conduzir o Oscar 2012.
Cena de Os homens que não amavam as mulheres, que assim como Tudo pelo poder, Drive e Margin call- o dia antes do fim, merecia maior atenção no Oscar
A disputa pelo troféu de melhor direção reprisa a batalha pelo Oscar principal. Scorsese já foi favorito outras vezes a ganhar o Oscar e, novamente, é apontado por setores da crítica como o provável vencedor. No entanto, o Oscar deverá ir merecidamente para a estante de Michel Hazanavicius. Mas o prêmio a Scorsese não seria de maneira alguma injusto.
As atuações
George Clooney é um artista completo. E um astro completo também. Fica difícil o Oscar se desviar dele e, em Os descendentes, o ator torna tudo ainda mais complicado com uma atuação soberba. Mas Jean Dujardin é outra história. Tão charmoso quanto Clooney, perigosamente estrangeiro e, sim, melhor do que o americano em O artista, o francês deve “roubar” o Oscar do outrora favorito. Justiça por justiça, os dois merecem muito, mas Dujardin desfruta de um timing que lhe é mais favorável.
E timing é o que Meryl Streep procura a 29 anos. E não deve ser em 2012 que ela levará para casa o sonhado terceiro Oscar. Viola Davis, que deve converter o favoritismo em prêmio, tão pouco merecia. Rooney Mara, por Os homens que não amavam as mulheres é a melhor atriz do ano. Talvez só encontrasse rival em Tilda Swinton que escandalosamente ficou de fora pelo trabalho realizado em Precisamos falar sobre o Kevin.
Entre os coadjuvantes, como nos últimos anos, a disputa já chega à cerimônia definida. Seria gratificante se houvesse surpresas aqui, mas é muito improvável que isso ocorra. O veterano Christopher Plummer, que defende um personagem carismático em Toda forma de amor, não merecia sequer a indicação, mas vai levar o Oscar em virtude de uma homenagem torta que a academia deve lhe prestar. Já Octavia Spencer está muito bem em Histórias Cruzadas e, apesar de não ser a melhor da categoria, seu triunfo não caracterizaria uma injustiça.
Viola Davis e Octavia Spencer em foto do mês passado: ambas devem vencer o Oscar neste domingo por seus trabalhos em Histórias cruzadas
O melhor do resto
O melhor roteiro adaptado do ano é o de O homem que mudou o jogo. O justo seria Aaron Sorkin, que venceu na categoria ano passado por A rede social, levar o Oscar novamente; dessa vez em companhia de Steve Zaillian. Mas a tendência é que a academia opte por premiar Os descendentes nessa categoria. Uma espécie de compensação para um filme aclamado e que, merecidamente, não ganhará muitos prêmios.
Entre os originais, Woody Allen deve prevalecer pelo texto de Meia-noite em Paris. A separação é uma potencial surpresa e o roteiro de O artista pode sair vitorioso no caso de um entusiasmo desmedido em relação ao filme.
Esse panorama deixa A invenção de Hugo Cabret confinado às categorias técnicas. Aqui o filme deve prevalecer em direção de arte e edição de som. Talvez som e fotografia, mas Os homens que não amavam as mulheres e A árvore da vida, respectivamente, são os “vencedores morais” dessas categorias.
A melhor trilha sonora do ano é de O artista e qualquer resultado diferente, além de criminoso, é zebra. O artista também deve ganhar os Oscars de montagem e figurino, totalizando sete prêmios na noite.
A separação e Rango devem ser escolhidos entre os estrangeiros e as animações respectivamente.
Abaixo, um escalonamento das principais categorias pelo crivo de Claquete:
Filme
Vai ganhar: O artista
Deveria ganhar: O artista
Faltou na lista: Os homens que não amavam as mulheres
Direção
Vai ganhar: Michel Hazanavicius
Deveria ganhar: Michel Hazanavicius
Faltou na lista: David Fincher (Os homens que não amavam as mulheres)
Roteiro original
Vai ganhar: Meia-noite em Paris
Deveria ganhar: Margin call – o dia antes do fim
Faltou na lista: 50%
Roteiro adaptado
Vai ganhar: Os descendentes
Deveria ganhar: O homem que mudou o jogo
Faltou na lista: Os homens que não amavam as mulheres
Ator
Vai ganhar: Jean Dujardin
Deveria ganhar: Jean Dujardin
Faltou na lista: Ryan Gosling (Drive ou Tudo pelo poder)
Atriz
Vai ganhar: Viola Davis
Deveria ganhar: Rooney Mara
Faltou na lista: Tilda Swinton (Precisamos falar sobre o Kevin)
Ator coadjuvante
Vai ganhar: Christopher Plummer
Deveria ganhar: Nick Nolte
Faltou na lista: Jeremy Irons (Margin call – o dia antes do fim)
Atriz coadjuvante
Vai ganhar: Octavia Spencer
Deveria ganhar: Jessica Chastain
Faltou na lista: Shailene Woodley (Os descendentes)
Boa análise e palpites, discordamos apenas na categoria de melhor atriz, acho que Meryl ainda tem chances e merece, apesar de Rooney Mara estar mesmo incrível. Já nos coadjuvantes, Nick Nolte me surpreendeu e ficaria feliz de vê-lo (apesar de quase impossível) com essa estatueta nas mãos, mas Max Von Sydow acabou me conquistando no soar do Congo.
ResponderExcluirbjs
Reinaldo, estou bastante surpresa em ver que você acha que a Rooney Mara deveria ganhar. É, sem dúvida um trabalho diferente, mas, num ano de atuações femininas tão fortes, a dela até parece muito "pálida" se comparada a das outras.
ResponderExcluirDiscordamos somente em Melhor Atriz. Vou de Meryl na aposta e estou ansiosa para essa categoria, mas confiante na vitória dela. Porém, se Viola vencer, não ficarei triste. :)
O que eu mais gosto na edição do Oscar desse ano é que temos uma seleção de filmes de muita qualidade e algumas categorias estão bastante imprevisíveis. Que tenhamos uma ótima noite de premiação!
Beijos!
Eeeeita, só errou pela querida Viola, hein! Dammit!
ResponderExcluireu tbm nao gabaritei aí porque apostei em uma surpresa em Roteiro Adaptado para "Moneyball", mas naufraguei também.
Mts reclamam da previsibilidade do Oscar. Pra mim, foi uma alívio porque o melhor filme realmente foi agraciado. Digo, entre os indicados, porque têm varios outros que são melhores que "O Artista", mas a vitória do p&b mudo me deixa muito, muito satisfeito.
abs, man!