quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Critica - A vida íntima de Pipa Lee

Sobrepondo o vazio da existência!

A rotina familiar, e todo o caos inerente a ela, é algo que sempre fomentou o cinema de Rebecca Miller. Sempre partindo da perspectiva feminina, a diretora e roteirista, elabora um painel sobre o deslocamento do que somos e do que objetivamos ser. Ela retoma essa questão em A vida íntima de Pippa Lee (The private lives of Pippa Lee, EUA 2009). Se em O tempo de cada um (2002) e O mundo de Jack e Rose (2005), os personagens eram flagrados em momentos de decisão, no novo filme, a decisão é evitada ao máximo. Vive-se da postergação da necessidade de se tomar certas decisões. A protagonista de A vida intima de Pippa Lee interioriza tudo, não à toa, descobre-se sonâmbula, um reflexo direto de seu estado de ansiedade.
O filme de Miller é um comentário, algo tenaz, sobre a luta cotidiana para preencher nossas vidas de sentido. Seja do homem de terceira idade que se aproxima da morte, seja da mulher que cada vez mais se identifica com a figura materna que tanto tentou se distanciar, seja da filha que se retira em uma zona de guerra para não conviver com a mãe de quem se ressente. A vida íntima de Pippa Lee versa sobre os insuspeitos rumos da vida. Sobre escolhas que não fazemos, sobre escolhas que fazemos, sobre a culpa que sentimos, sobre a que não sentimos, sobre a que não precisaríamos sentir, mas não conseguimos evitar; enfim, é um filme que assim como sua protagonista se divide em muitos. É justamente aí que A vida intima de Pippa Lee esmorece. O texto de Miller, que adapta obra de sua própria autoria, é muito bom, fluído, tem diálogos de muita força, mas sua direção é algo hesitante, desconexa, contemplativa. Cabia-lhe, no oficio de diretora, ser mais ativa em relação a alguns momentos de seu filme. Reforçar o sentido de algumas cenas e condensar outras. O filme estende-se na rememoração dos eventos que conduziram Pippa Lee a ser quem ela é no momento que a fita se inicia. A princípio, os flashbacks cativam e instigam, mais adiante, parecem apenas apêndices protocolares. Essa inconsistência deve-se a opções, equivocadas, da direção de Miller.
Na fita, testemunhamos Pippa Lee (Robin Wright, na fase adulta, Blake Lively, na adolescência, e Madeleine McNulty, na infância) se adequando a nova mudança que faz em sua vida (mais uma indesejada). Muda-se com o marido, Herb (Alan Arkin) um editor de livros bem mais velho do que ela, para uma cidadezinha mais tranqüila, para que ele possa descansar mais. A partir desse prelúdio, somos convidados a compartilhar da angústia dessa mulher que se descobriu dona de casa, sem ter de fato se questionado o que gostaria de ser quando crescesse. É na performance sutil e comedida de Robin Wright que toda a força do filme se assenta. Sem a contextualização proposta pelo desempenho da atriz, A vida intima de Pippa Lee não seria bem sucedido no comentário que pretende fazer.

Robin Wright e Keanu Reeves em cena do filme: Como foi que chegamos aqui?

No fim das contas, o filme de Miller poderia ser muito melhor do que é. Isso não implica rotular o filme como ruim, é um filme triste, romântico (não no sentido amoroso do termo) e muito honesto. Procura dar voz a um sem número de mulheres que se encaixam perfeitamente na vida de Pippa. Por essa disposição e pela atuação louvável de Robin Wright, o filme torna-se obrigatório.

5 comentários:

  1. O Keanu tem essas tatuagens ai não é? Tenho vontade de conferir esse filme.

    Reinaldo, topa me ajudar em um especial de Natal? Estou pedindo a blogueiros um pequeno texto sobre seu filme natalino preferido, ai postarei no blog e darei créditos. O que acha?

    Abraço!
    Feliz Natal e um ótimo 2010 ;]

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  2. Oi Reinaldo!

    Já havia comentado com vc antes, fiquei interessada em ver este filme e assim que sair em vídeo aqui na minha terra pretendo pegar para ver.

    Sabe porque gosto tanto do seu blog? Simples. Vc faz uma coisa que eu gostaria muito de fazer, mas a falta de tempo e as atividades como dona de casa, mãe, trabalhadora, construtora (to terminando de construir minha casa) e irmã não me permitem.
    Vc consegue se manter antenado com as notícias mais atuais sobre o mundo cinematográfico, sejam, filmes, atores, diretores, roteiristas, premiações, não importa, vc consegue ler e falar sobre isso de uma forma gostosa e leve. Eu admiro essa capacidade que tens para escrever bem e falar sobre tantas coisas.

    Por isso leio cada texto com muito carinho e atenção. Gosto e gosto de verdade.

    Em 2010 estamos ai, juntos para comentar sobre os filmes e prêmios que farão sucesso no ano que se iniciará.

    Bem, agora aproveito para lhe desejar um feliz e alegre natal!!!

    Um beijinho carinhoso.

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  3. Ah ia me esquecendo, adoro as fotinhos que vc coloca. Está então mais uma que tá ótima. Concordo contigo, realmente foi a melhor iniciação sexual do ano e Kate Winslet tá bem pra caramba.

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  4. Thiago: Demorou! Fico muito feliz pelo convite e pela lembrança! como eu faço para te entregar o texto? Sobre a tatuagem do Keanu, não é de verdade não, mas vamos combinar: ficou bem louca não...
    Abs

    Cintia: Mil obrigados. Não sei nem o que dizer. Pode não parecer, mas é um esforço danado manter isso aqui funcionando... Fico super feliz de te cativar assim. Gosto muito das suas obeservações e fico movido pelo seu carinho.
    Em 2010 estamos aí, com certeza absoluta promovendo essa paixão em comum que é o cinema.
    Feliz Natal para vc tb com muita paz, saúde e realizações.
    Bjs, bjs e mais bjs

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  5. Achei o filme, obrigada por comentar sobre esse link.

    Concordo com o fato do filme ser contemplativo sob o ponto de vista de como foi dirigido, mas acho isso positivo, acho que há uma serenidade no caos existencial do adiamento dessas decisões que permite a gente olhar e se identificar com Pippa Lee de uma forma contemplativa mas não menos eficaz. Aliás, o filme é muito honesto e eu me identifiquei com ela em muitos momentos. Achei também interessane a postergação das decisões, tanto que ela não tomou a decisão da separação, ela se viu no papel de mulher traída, enfim também acho que há alguns momentos da vida que a gente age por reação e naõ ação.

    Bjs,

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