Cartaz promocional de Toy Story 3, que estréia esta semana nos EUA: Por que não em 3D?
Cristiane Costa, editora do blog Madame Lumière, acrescenta um dado a essa engenhosa equação. “Para quem ama cinema como um espectador, é compensador perceber que há um interesse da indústria em tornar a experiência cinematográfica mais vívida, mais evocativamente sensorial como um híbrido momento de realidade e fantasia, independente de propósitos comerciais. Por outro lado, como crítica de cinema, penso que o 3D tem sido usado de forma exagerada sem prezar pela qualidade da tecnologia para um dado filme, e principalmente, sem avaliar criteriosamente se um longa-metragem deve ou não ser rodado em 3D”. Cristiane se refere a corrida ensandecida que alguns estúdios tem se lançado para converterem filmes rodados no tradicional 2D para a terceira dimensão. A Warner é o caso mais excepcional. O estúdio adiou o lançamento de Fúria de Titãs em quase um mês para que as cópias fossem convertidas para o 3D. Os dois últimos capítulos da saga de Harry Potter também estão sendo convertidos para o formato tridimensional. A Disney foi outra que enveredou pelo mesmo caminho. Os ingressos do 3D ajudaram a tornar Alice no país das maravilhas o quinto filme a superar a barreira do bilhão de dólares nas bilheterias mundiais. Alex Gonçalves, do blog Cine Resenhas, gostou do que viu em Alice no país das maravilhas. Para ele, o filme de Tim Burton “encontra vida dentro do 3D”. Mas Alex Gonçalves faz uma valiosa ressalva: “ há diretores como James Cameron que estudam possibilidades de revolucionar o cinema 3D como testemunhado em Avatar. O problema se encontra na abertura dada para que estúdios se deem ao trabalho de somente converter aquilo que foi filmado com uma estratégia de lançamento diferente. É preciso saber fazer com que as ações vistas na tela grande consigam encontrar interatividade com aqueles que as contemplam em suas poltronas.”
Os ingressos em 3D ajudaram a Disney a arrecadar mais de U$ 1 bulhão nas bilheterias com o filme de Tim Burton
A editora do Madame Lumière, por sua vez, não aprovou o que viu em Fúria de Titãs. “Havia erros bizarros de perspectivas de imagens que se tornaram confusas na tela, ou seja, foi como assistir um filme retalhado às pressas para ser exibido em 3 D”. Cristiane continua: “A sensação é que fui enganada por um produto que não se dispõe a entregar o que deveria”.
Outra preocupação latente originada pela popularização do 3D (a cidade de São Paulo que há três anos tinha 10 salas habilitadas para exibir filmes no formato, hoje já conta com 35) é a homogeneização da produção cinematográfica americana. Setores da crítica argumentam que o 3D pode prejudicar severamente a produção independente americana, já que seria mais difícil os estúdios distribuírem ou comprarem esses filmes com a procura pelo 3D em ebulição. A editora do Madame Lumière não acredita nessa possibilidade. “Não acho que o 3 D possa prejudicar produções independentes porque o cinema é um calidoscópio de imagens que podem ser enfocadas e dirigidas de formas distintas exatamente para não alienar o expectador da sétima Arte. Há lugar para todos e o papel do cinema não é somente entreter mas também formar opinião crítica”. Para Cristiane Costa depende dos profissionais de cinema (diretores e equipes de produção) a articulação de soluções criativas para que a produção americana não fique engessada pelo deslumbre com o 3D.
Chris Nolan orienta Aaron Eckhart nos sets de Batman - o cavaleiro das trevas: o diretor bateu o pé com a Warner e garantiu que o terceiro filme do homem morcego sob seu comando não será em 3D
E quanto a salvação do cinema? O 3D é o caminho? Os blogueiros consultados por Claquete diferem em suas opiniões. “Honestamente penso que o Cinema não precisa ser salvo, muito menos pelo 3 D. O Cinema está além de artefatos meramente técnicos e é evidente perceber que os grandes blockbusters das últimas temporadas renderam o retorno financeiro sem apelar somente para o 3 D. O 3 D é um produto e como todo produto lançado com fins também comerciais, ele é baseado em uma tendência de consumo”, declara com convicção Cristiane Costa. Já Alex Gonçalves pondera que as inovações tecnológicas são responsáveis pela prosperidade do cinema. “O cinema sempre confere inovações tecnológicas, que vão desde aparelhos para reprodução de mídias até o próprio cinema 3D. Porém, todos esses avanços possuem data de validade, como o VHS que foi superado pelo DVD e que agora encontrou no Blu-ray seu provável substituto. O que quero dizer é que enquanto os estúdios não forem capazes de se sobressaírem dentro deste recurso, e não encará-lo somente como forma de potencializar a venda de seu produto, o público logo se cansará de investir mais no valor do ingresso”. Para o editor do Cine Resenhas, dentro deste cenário, o 3D é uma salvação para o cinema, mesmo que por um período determinado.
Cristiane Costa encerra a discussão sobre o 3D com uma frase que talvez sintetize o pensamento de todo apaixonado por cinema: “O que faz um bom Cinema é muito mais criar um éden de emoções humanas através de histórias genuinamente coerentes, profundas e verdadeiras do que um éden de recursos tecnológicos”.
Acho que o que nos leva ao cinema é a paixão de contar histórias. Quando os irmãos Lumiere criaram a tecnologia, pensaram que não iria durar, porque era apenas mais um invento científico. Foi preciso Robert Flatherty criar um formato de história para um documentário ficar interessante (Nanook, o esquimó) e Georges Melies levar a ficção para as telas, para o experimento virar paixão. Todas as técnicas estão a serviço desse fim: contar uma boa história. Ela só funciona se ajuda nesse objetivo.
ResponderExcluirAcho válido a indústria tentar burlar a pirataria e tentar ganhar um dinheiro extra com os ingressos mais caros, mas o problema é banalizar. Filmes como Fúria de Titãs perdem o 3D no boca a boca, facilmente.
abraços
Uma pena que nessa discussão eu não possa entrar, afinal nunca vi um filme em 3D, mas na minha concepação, acrdito que o 3D não é tão útil assim, pois ele funciona em poucos filmes, alguns deles que está saindo em 3D é visivel que não há necessidade, apenas estraga o filme que pode muito bem se virar em 2D.
ResponderExcluirMuito bacana o texto e também adorei a participaçao da Madame L. (nem imaginava que ela se chamava Cristiane Costa).
Parabéns a você Reinaldo e a vc Cristiane!
Abs.
Parabéns pelo texto. Sou um dos poucos produtores brasileiros que produz 3-D e digo que no Brasil existe um movimento para acompanhar esta tendência, mas ainda necessitando de um pouco mais de maturidade. Infelizmente (ou felizmente dependendo do ponto de vista) é praticamente impossível fazer cinema sem visar o lucro, e o lucro hoje está no 3-D. Por isso aparecerão filmes bem pensados como Os Fantasmas de Scrooge e Avatar, e bombas como Furia de Titãs e Alice (desculpem-me quem gostou, mas o 3D é dispensável)... Seguimos fazendo que chegaremos lá. Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirO 3D é uma forma de tecnologia que o cinema encontrou de tentar concorrer com os downloads. Mas, como toda tecnologia, é algo que Hollywood ainda está tentando encontrar a maneira correta para trabalhar. Existem casos em que há o acerto ("Avatar" é um feliz exemplo disso) e existem casos em que há o erro (os efeitos 3D de "Premonição 4" são HORRENDOS!!!).
ResponderExcluiré uma boa discussão essa do 3D. É fato que esta tecnologia de efeito visual invadiu as salas no último ano, mas nota-se uma decaída drástica na qualidade do roteiro desses filmes. Aí, me pergunto: será mesmo o futuro do cinema? Acho que existem diferenças que devem ser pontuadas. Uma coisa é fazer cinema pensando o 3D no processo de criação, outra coisa bem diferente - e questionável - é a produção de filmes que não precisam de tal efeito e colocá-lo só no pós-produção a fim de arrecadar mais. Vamos ver como o público irá se comportar diante deste novo cenário.
ResponderExcluirMuito bom o texto, parabéns Reinaldo e Madame Lumiere!
ResponderExcluirNão tenho nada contra a tecnologia 3D e acho muito legal a proposta, tanto pela intenção de acabar com a pirataria quanto por tornar a experiência cinematográfica mais vívida. O que eu acho que acontece é que o 3D ainda precisa amadurecer. Um dia vai deixar de ser uma novidade, e então os estúdios vão ser obrigados a aumentar a preocupação com a qualidade, tanto das histórias quanto do próprio uso do 3D.
Oi Reinaldo,
ResponderExcluirBelo texto, foi um prazer fazer parte do seu artigo e ter a honra do seu convite. Você cobriu o tema perfeitamente bem e gostaria de reforçar que eu realmente sou uma mente aberta ao 3 D contanto que bons roteiros não sejam realmente deixados para trás. Nem todo o filme também precisa ser adaptado em 3 D. Espero que realmente a indústria não prostitute a tecnologia, quem perde com isso é o público.
Bjs e vou pedir aos meus leitores para visitarem seu belo texto.
MaDam
Belíssimo texto, parabéns aos envolvidos!
ResponderExcluirTenho que confessar que nunca vi um filme em 3D, mas me encante com "Avatar" de qualquer jeito. rsrs. E para mim, o Cinema vive essa mudança toda, mas será que é uma magia nova ou só faturamento? rsrs.
Beijos! ;)
Obrigado a todos que participaram do debate. A seção Ponto crítico, cuja periodicidade é indefinida, sempre aborda (a partir do ponto de vista de gente ligada ao cinema) temas e assuntos que mexem com a sétima arte. Pedro Almodóvar e o cinema no ano de 2009 foram as seções anteriores em Novembro e Dezembro de 2009, respectivamente.
ResponderExcluirComo todo mundo opinou, vou deixar registrada minha opinião pessoal sobre o 3D. Não gosto. Acho um desperdício na verdade. Me alinho ao grande Roger Ebert que publicou em seu blog que a razão principal de não se entusiasmar com o 3D (entre tantas outras) é de que para o espectador, o filme já é percebido em profundidade. E é verdade. Ou seja, o 3D é redundante. Afora isso, acho que serve para encarecer a produção e o consumo de cinema, vai sufocar o cinema independente e padronizar o tipo de produção para o formato (o que tb é empobrecedor).
Enfim, já assisti muitos filmes em 3D. Na minha avaliação, nenhum ficou melhor por causa do 3D e na grande maioria ficaram até piores.
Contudo, creio que essa será apenas uma fase, como tantas outras atravessadas pelo cinema ao longo dos anos.
O DVD não foi superado pelo Blu Ray.
ResponderExcluirDVD está dez vezes melhor que o Blue Ray, com uma qualidade superior.
Mas Sander, eu não disse isso. Essa foi a percepção de um entrevistado no texto. É só vc ler com atenção.
ResponderExcluirE só para constar, para não evitar assunções equivocadas e qualquer mal entendido, reafirmo que esse texto(da seção Ponto crítico) é jornalístico. Não é opinativo nem mesmo colaboracional. Minha opinião acerca do 3D expressei aqui no espaço de comentários.
ResponderExcluirGrato