Por que Guerra ao terror ganhou o Oscar?
Alguns se surpreenderam, outros já antecipavam. Fato é que a vitória de Guerra ao terror no Oscar desse ano mexeu com todo mundo. “Como assim esse filme é o melhor do ano e eu nunca ouvi falar dele?”, alguns se indagaram. Outros observaram com acuidade: “Terceiro filme independente seguido a ganhar o Oscar de melhor filme”. Alguns mais apaixonados exclamaram: “Pelo menos não ganhou a bosta de Avatar” ou “Como assim Bastardos inglórios não venceu?”.
Há uma explicação para tudo, diria Sherlock Holmes. Obviamente, há uma, ou até mesmo algumas, para entender porque Guerra ao terror saiu-se vencedor na noite de 7 de março de 2010.
Primeiramente é preciso reconhecer que o filme tem méritos artísticos e técnicos que lhe credenciam ao Oscar, mas é preciso reconhecer que somente esses não garantem o prêmio máximo a filme nenhum.
um, dois, três, quatro, cinco e... cadê o sexto Oscar que estava aqui?
É preciso estimular o “cinema alternativo”
A mais óbvia e, talvez por isso, mais premente razão dos principais Oscars da noite terem ido para Guerra ao terror, um filme pequeno que quase não viu a luz do dia e que foi renegado por produtores e distribuidores americanos, é justamente doutrinar o olhar de produtores e businessmen do cinema. Ano passado, com o reforço da euforia da era Obama e na esteira de uma forte crise econômica, a academia já havia adotado essa postura pedagógica (ao superpremiar um filme limitado, mas com trajetória de superação e que tratava de esperança). Contudo, as características em 2010 permitem depreender uma elevação no tom da mensagem. Não se premiou apenas um filme que só foi feito depois de aporte de dinheiro europeu, deixou-se de premiar o filme mais caro e de maior bilheteria da história do cinema. Só não lê nas entrelinhas, quem não quiser.
A vitória de Guerra ao terror, inclusive em categorias que não haveria como Avatar perder (caso das duas categorias de som), servem ao propósito de potencializar a mensagem pretendida pela academia. Esse filme é bom o suficiente para ganhar o Oscar de melhor som. E foi feito com 11 milhões de dólares. A academia sabia que ao conceder o Oscar de melhor filme para Guerra ao terror, estava logrando ao filme a pecha de ser o Oscar de melhor filme menos visto na história (arrecadou algo em torno de U$ 14 milhões nos EUA). Mas sabia também que se não agisse assim, produtores e executivos não responderiam a um sucesso de critica que na melhor das hipóteses era circunstancial.
Alguns se surpreenderam, outros já antecipavam. Fato é que a vitória de Guerra ao terror no Oscar desse ano mexeu com todo mundo. “Como assim esse filme é o melhor do ano e eu nunca ouvi falar dele?”, alguns se indagaram. Outros observaram com acuidade: “Terceiro filme independente seguido a ganhar o Oscar de melhor filme”. Alguns mais apaixonados exclamaram: “Pelo menos não ganhou a bosta de Avatar” ou “Como assim Bastardos inglórios não venceu?”.
Há uma explicação para tudo, diria Sherlock Holmes. Obviamente, há uma, ou até mesmo algumas, para entender porque Guerra ao terror saiu-se vencedor na noite de 7 de março de 2010.
Primeiramente é preciso reconhecer que o filme tem méritos artísticos e técnicos que lhe credenciam ao Oscar, mas é preciso reconhecer que somente esses não garantem o prêmio máximo a filme nenhum.
um, dois, três, quatro, cinco e... cadê o sexto Oscar que estava aqui?
É preciso estimular o “cinema alternativo”
A mais óbvia e, talvez por isso, mais premente razão dos principais Oscars da noite terem ido para Guerra ao terror, um filme pequeno que quase não viu a luz do dia e que foi renegado por produtores e distribuidores americanos, é justamente doutrinar o olhar de produtores e businessmen do cinema. Ano passado, com o reforço da euforia da era Obama e na esteira de uma forte crise econômica, a academia já havia adotado essa postura pedagógica (ao superpremiar um filme limitado, mas com trajetória de superação e que tratava de esperança). Contudo, as características em 2010 permitem depreender uma elevação no tom da mensagem. Não se premiou apenas um filme que só foi feito depois de aporte de dinheiro europeu, deixou-se de premiar o filme mais caro e de maior bilheteria da história do cinema. Só não lê nas entrelinhas, quem não quiser.
A vitória de Guerra ao terror, inclusive em categorias que não haveria como Avatar perder (caso das duas categorias de som), servem ao propósito de potencializar a mensagem pretendida pela academia. Esse filme é bom o suficiente para ganhar o Oscar de melhor som. E foi feito com 11 milhões de dólares. A academia sabia que ao conceder o Oscar de melhor filme para Guerra ao terror, estava logrando ao filme a pecha de ser o Oscar de melhor filme menos visto na história (arrecadou algo em torno de U$ 14 milhões nos EUA). Mas sabia também que se não agisse assim, produtores e executivos não responderiam a um sucesso de critica que na melhor das hipóteses era circunstancial.
Um Oscar doutrinador: A consagração (mais uma vez) de um modelo de cinema
Por que vamos a guerra?
Guerra ao terror, não é preciso dizer, é superior a Avatar. E o discurso que traz em seu cerne é muito mais arrojado e original. Enquanto o filme evita politizar a guerra, Avatar repete fórmulas ultrapassadas que se vão ao encontro de liberais arruaceiros se desgastam com a mesma velocidade. Guerra ao terror se concentra no que é humano. Avatar finge que se concentra no que é humano. Mas quer exibir tecnologia. Um pensamento bélico que se contrapõe a análise que Guerra ao terror oferece e que o momento pede. Ao invés de mostrar razões de um povo ou de um país, Guerra ao terror mostra porque um homem comum vai a guerra. E qual a relação dele com ela. Em Avatar não há analise, em Guerra ao terror é tudo que há. O fato de ser um filme apolítico (Avatar também o é, mas na superfície não parece), ajuda a conquistar o voto de democratas e republicanos que costumam rejeitar filmes que apresentem um discurso radical. Tanto o é, que em 82 anos de Oscar, Guerra ao terror é apenas o quarto filme de guerra a ganhar o Oscar de melhor filme. Um fato que contradiz a tese de que esses filmes são sempre certezas no Oscar. Fato é que há democratas e republicanos suficientes na academia para garantir que filmes de guerra com discursos ajustados a um outro ideário recebam indicações, mas não há número suficiente para impor a vitória de um filme assim. Kathryn Bigelow, evitando futucar feridas, agradou as duas linhas políticas que existem na academia. Essa política (sempre essa tão devassada arte das relações humanas) também foi preponderante para o triunfo de Guerra ao terror.
Guerra ao terror, não é preciso dizer, é superior a Avatar. E o discurso que traz em seu cerne é muito mais arrojado e original. Enquanto o filme evita politizar a guerra, Avatar repete fórmulas ultrapassadas que se vão ao encontro de liberais arruaceiros se desgastam com a mesma velocidade. Guerra ao terror se concentra no que é humano. Avatar finge que se concentra no que é humano. Mas quer exibir tecnologia. Um pensamento bélico que se contrapõe a análise que Guerra ao terror oferece e que o momento pede. Ao invés de mostrar razões de um povo ou de um país, Guerra ao terror mostra porque um homem comum vai a guerra. E qual a relação dele com ela. Em Avatar não há analise, em Guerra ao terror é tudo que há. O fato de ser um filme apolítico (Avatar também o é, mas na superfície não parece), ajuda a conquistar o voto de democratas e republicanos que costumam rejeitar filmes que apresentem um discurso radical. Tanto o é, que em 82 anos de Oscar, Guerra ao terror é apenas o quarto filme de guerra a ganhar o Oscar de melhor filme. Um fato que contradiz a tese de que esses filmes são sempre certezas no Oscar. Fato é que há democratas e republicanos suficientes na academia para garantir que filmes de guerra com discursos ajustados a um outro ideário recebam indicações, mas não há número suficiente para impor a vitória de um filme assim. Kathryn Bigelow, evitando futucar feridas, agradou as duas linhas políticas que existem na academia. Essa política (sempre essa tão devassada arte das relações humanas) também foi preponderante para o triunfo de Guerra ao terror.
Na mira de Guerra ao terror tudo aquilo que escapava aos outros filmes de guerra: O que nos move lá, afinal?
Foi um prêmio mesmo bastante merecido por tantos méritos que você incluiu em seu post. Porém não concordo quando diz que Guerra Ao Terror é apolítico. Ele tem sim suas manobras discursivas, por mais subiminares que pareçam ser para que no final sintamos complacência e até admiração de um homem que sente prazer ao estar na Guerra... então, não seria ele a personificação dos Estados Unidos? O país que parece sentir prazer em estar em conflitos com os outros e que apesar dos riscos sempre acaba se dando bem?
ResponderExcluiré apenas uma leitura do filme, mas pode ser encarada desta forma tb, não?
Abs, Fernando.
Sua ponderação tem pertinência sim Fernando. Isso é inegável.Aliás agradeço por fazê-la e enriquecer o debate aqui proposto. Contudo, não enxergo no filme essa disposição. Para mim, o prisma é mesmo o homem. O sargento James talvez seja o americano médio (sim, isso é bem possível), mas os dramas dos outros personagens dão uma perspectiva mais humana ao filme. Muitos filmes mostraram os traumas da guerra, mas nunca por esse prisma. A inadequação pode ser uma coisa indesejada até certo ponto, depois passa a ser tudo o que há. Como as pessoas reagem a ela, é que difere. E, penso, que é justamente aí que Guerra ao terror se diferencia. Não passa a mão na cabeça. A guerra é uma drog, diz o slogan. Sabiamente!
ResponderExcluirABS
Oi Reinaldo,
ResponderExcluirEmbora meu preferido era Bastardos Inglórios que também realiza uma reinterpretação de um momento político e histórico, penso que Guerra ao Terror tem suas virtudes para ter ganhado o Oscar, pelas razões que colocou e, principalmente, por ter o equilíbrio de não ser politizado. O mérito da fita é que Bigelow conseguiu contar um outro ponto de vista humano sobre o dia a dia e o impacto da guerra em um homem, mas não envolveu a presença de líderes e staff político no mesmo. De alguma forma, ela revisitou o cinema reflexivo de Guerra. Além disso, há um componente impactante em Guerra ao Terror que é a adrenalina que move à guerra. Por que um homem vê no inferno certo paraíso? Da mesma forma que a humanidade vê em seus vícios o prazer, mesmo que este seja destrutivo. Bem interessante esta abordagem e , com a câmera da competente Bigelow, o filme tem lá o seu primor.
Bjs!
É isso msm madame. E o seu favorito, era tb o meu.rsrs bjs
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