sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Cantinho do DVD

A seção destaca hoje outro filme que constou da lista de melhores de 2009 do blog e que não teve sua critica publicada aqui em Claquete. Dúvida é um filme de muitos predicados e nenhum texto critico sobre a obra pode fazer justiça a eles. Mas pode instigar o leitor a conhecer o filme.


Um jogo de opostos

Adaptado da peça vencedora do Pulitzer e de vários Tonys, Dúvida (Doubt, EUA 2008) é sob muitas perspectivas um triunfo. O filme, escrito e dirigido por John Patrick Shanley - a partir de sua própria peça, é obviamente eloquente em vários níveis. Primeiramente, o filme impressiona não só pelo elenco reunido, mas pela forma que este se apresenta.
Meryl Streep vive a freira Alouisius, diretora conservadora e centralizadora de uma escola do Bronx nos EUA dos anos 60. A madre, mão de ferro, identifica no padre Flynn (Philip seymour Hofman) que atende a paróquia da escola, um agressor sexual. Suas suspeitas arremedadas pela suscetível irmã James (Amy Adams) não se sustentam, mas a certa altura tornam-se incontornáveis.
Shanley preserva todo o cerne de sua obra. A discussão sobre a crise enfrentada pela igreja. Sob o advento da modernidade, há aqueles que entendem necessário redimensionar o papel da igreja (na figura do padre Flynn) e aqueles que entendem que a igreja deve ser imune a tais leviandades (na figura da irmã Alouisius). O diretor promove também um acalorado debate sobre como perspectivas conflitantes sobre um assunto espinhoso pode resultar em mais intolerância, fragmentações e marcas arrasadoras no intimo dos envolvidos.
Do ponto de visto dramático, Dúvida é excelente. O esmero narrativo, a engenhosidade do roteiro, as muitas camadas reveladas pacientemente por Shanley e por um conjunto de atores em estado de assombro, os diálogos ambiguamente escritos e nebulosamente proferidos pelos atores constituem uma atmosfera aterradora. Embora não se trate de um filme de terror, Dúvida causa impacto semelhante mais pela força do registro do que pela história propriamente dita.
Indicado a 5 oscars (Roteiro adaptado, Atriz para Meryl Streep, Ator coadjuvante para Philip Seymour Hofman, atriz coadjvante para Amy Adams e Atriz coadjuvante para Viola Davis), Dúvida teve seus maiores trunfos justamente lembrados pela acadêmia. Hofman e Streep brilham de forma intensa e Amy Adams consegue capitalizar toda a indulgência de sua personagem.
Dúvida se mantém afastado de maiores julgamentos. O debate e sua inflexão são o que interessam a Shanley. O alcance de seu filme é ampliado por essa escolha acertada. De manter o espectador no dilema experimentado por todos os seus personagens. Alguma conclusão pode até imergir, mas Shanley em um momento inspiradissímo, via um sermão do padre Flynn, já previra o efeito devastador das conclusões precipitadas.

7 comentários:

  1. Gostei muito do texto, Reinaldo. Além do elenco impecável, o grande triunfo de "Dúvida" reside plenamente na conduçao do roteiro e como Shanley é sagaz em duelar a verdade com o achismo, a real permanência da dúvida durante todo o filme. E tem cenas que são inesquecivelmente tensas, como a mãe interpretada por Viola Davis roubando toda a cena ou o confronto intenso entre Streep e Seymour Hoffman. É um grande filme, afiadíssimo!

    Criei um blog recentemente. Está engatinhando ainda, se quiser dar uma olhada...vou adicionar o seu blog na minha lista, ok?

    abraço!
    http://pospremiere.blogspot.com/

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  2. Prazer imenso em te conhecer meu brother. Gostei do teu blog tb. E Dúvida é realmente um primor.
    O melhor do sucesso para nossos projetos cinéfilos. Grande abraço!

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  3. Já apimentei ele até e renderam ótimas discussões e debates. O filme todo é um primor, atuaçoes e toda a premissa.

    E ainda repito: Meryl deveria ter levado o Oscar, não Kate Winslet por O Leitor - ali é coadjuvante, não principal.

    abs

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  4. Pois é Cris. O filme é um espetácuo. Por isso entrou na minha lista de melhores do ano. Quanto ao Oscar, concordo que foi uma interpretação divina de Meryl. Ala merecia ser indicada, mas as duas performances de Kate Winslet no ano eram imbatíveis na minha opinião. E quanto a indicação por O leitor ter sido na categoria principal, leia o meu último post "Por que Nine e Bastardos inglórios estão perdendo forças?" que vc vai saber pq isso ocorreu.
    Grande abraço!

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  5. Reinaldo, eu amo este filme e a atuação deste elenco e, de fato, a platéia absorve e vive este dilema, chega a ser assustador o como podemos julgar alguém. com certeza, em breve devo falar dele já está na minha lista de resenhas há um tempinho. beijo

    PS: A propósito, amei este teu texto! Conciso e essencial!

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  6. Obrigado madame. Vc é o meu luxo sabia?
    Beijos

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  7. Ai que lindo... e você é o meu! Te adoro assim, claqueteando sempre! bjs

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