sábado, 24 de abril de 2010

Contexto

Quando a adolescência é o foco


Mano e suas 1001 sensações são flagrados em As melhores coisas do mundo


Todo mundo sabe que os adolescentes formam o maior contingente dos frequentadores de cinema no mundo. Há toda um produção orquestrada para agradar seus gostos. De Crepúsculo a Homem-aranha. De American Pie a High School Musical. Os produtos voltados para o público adolescente são o carro chefe de estúdios que sabem que ali está o ouro que buscam nesse negócio chamado cinema. Porém, essa produção para adolescentes poucas vezes busca se comunicar e oferecer perspectiva ao mesmo. Ou seja, poucas vezes o cinema reproduz o universo adolescente de maneira fidedigna sem impulsos maniqueístas em seu entorno. As melhores coisas do mundo (Brasil, 2010) é, portanto, cinema de vanguarda dentro desse cenário. O fato de ser um filme brasileiro só aumenta o seu clamor.
A história de Mano (Francisco Miguez) é universal. Os dilemas do menino de classe média paulistana são os mesmos de 70% dos jovens nessa faixa etária e a maneira como Laís Bodansky dá voz a eles, é das mais acertadas. Visto na tela do cinema parece fácil, mas alcançar o nível de fidelidade e acuidade na reprodução do universo mostrado não é tarefa das mais simples. O flerte com o clichê é indesviável e a adesão a ele é tentadora. É justamente pela via mais fácil que caminham todos os filmes que exploram o universo adolescente, caso de grandes sucessos do cinema como American Pie (1999) e Clube dos Cinco (1985). Há caso de filmes que são bem sucedidos em abordar o universo adolescente, ainda que de maneira superficial, e também atingem sucesso comercial junto a seu público alvo. Como o clássico Curtindo a vida adoidado (1986) e o fofinho Amor ou amizade (2000).


O cinema teen embala a pergunta que aflige os adolescentes: Você namoraria o seu melhor amigo?



Justin Timberlake e Emile Hirsch em cena de Alpha dog: A incosequência é o pior dos pecados...

As ansiedades e neuras adolescentes já foram visitadas por diferentes cineastas e por variados primas. Nenhum foi tão ousado, experimental e questionador quanto Gus Vant Sant. Ele realizou dois “filmes de mestre” sobre a temática. Elefant e Paranoid Park se assemelham na tentativa do cineasta de entender o espaço tempo da adolescência. Mas seus filmes não foram feitos para adolescentes. Foram feitos para sociólogos e teóricos do cinema.

O clássico e o cult: um jovem Matthew Brodderick no clássico da sessão da tarde, Curtindo a vida adoidado e o jovem angustiado de Elefant no cult e premiado trabalho de Gus Van Sant


Por isso tudo, um filme como As melhores coisas do mundo se destaca. A fita de Laís Bodansky evita a pretensão sociológica inerente aos trabalhos de Van Sant e abraça seu público sem falso moralismo. Não cede a tentação de justificar seus personagens, nem tem para com eles uma postura paternalista. As melhores coisas do mundo é um cinema adolescente em estado bruto. É comercial, poético, questionador, surpreendente e, em certa medida, previsível. Solar, como deve ser essa fase da vida, e insidioso, como se espera de um jovem ansioso por descobrir o mundo. Bodansky certamente não descobriu a pólvora, mas parece ter descoberto uma fórmula que tanto o cinemão quanto o cinema independente não possuem por inteiro.


Ellen Page é Juno: um novo estereótipo de adolescente é descoberto pelo cinema

Se você gostou desse artigo e deseja repercutir o tema abordado a partir de variados pontos de vista, Claquete recomenda os seguintes filmes:

Houve uma vez dois verões, de Jorge Furtado (Brasil, 2002)
Aos treze, de Catherine Hardwicke (Thirteen, EUA 2003)
Amor ou amizade, de Robert Iscove (Boys and girls, EUA 2000)
Elefant, de Gus Vant Sant (EUA 2003)
Paranoid Park, de Gus Vant Sant (EUA 2007)
Juno, de Jason Reitman (Juno, EUA 2007)
Alpha dog, de Nick Cassavetes (Alpha dog, EUA 2007)

4 comentários:

  1. Pô Reinaldo ótimo post !
    Ainda não conferi "As Melhores Coisas do Mundo", mas o falatório está tão grande que fiquei curioso e vou conferir no cinema !
    Dos citados eu já vi Juno e Aos Treze.
    To doido pra conferir Paranoid Park e Elefante.
    Abs.

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  2. Que texto excelente! Espero poder conferir, em breve, "As Melhores Coisas do Mundo". Gosto do trailer e espero gostar muito do filme.

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  3. Oi Reinaldo!

    Confesso que quando vi o trailler do filme, pensei: "vai ser uma [novela] Malhação no cinema". Mas, até agora só li críticas positivas, o que aumenta ainda mais a minha curiosidade em torno do filme. Parabéns pela crítica!

    Abraço,

    http://cafecomnoticias.blogspot.com

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  4. Alan:Pois é Alan,vc chegou a comentar isso comigo na seção de comentários da crítica do filme. O filme é bom sim. Como eu coloquei, não é nenhuma revolução, mas sim um respiro em uma produção engessada. A produção que eu me refiro é a nacional e a do cinema com foco na adolescência como eu sublinhei nessa seção Contexto. ABS

    Kamila: Obrigado Ka. Valeu mesmo. Acho que vc vai gostar do filme sim. Bjs

    Wander:Obrigado Wander. Pois é, vc me adiantou isso lá nos comentários da critica do filme. O filme é bom sim. Na minha opinião, é o melhor nacional do ano até aqui. Essa seção Contexto sempre discute um tema ou conflito a partir de um filme em cartaz nos cinemas e estende a comparação para outros filmes que abordem o mesmo tema em seu escopo. A seção é mensal.
    Grande abraço!

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