quarta-feira, 21 de julho de 2010

Panorama - O segredo de Brokeback mountain


Existem filmes que polarizam atenções e tornam-se atemporais mais pela repercussão social que deflagram do que por sua própria qualidade. A princípio, poderíamos alinhar o décimo filme de Ang Lee, quinto rodado nos EUA, a essa conjuntura. Mas seria apequenar o filme e seu impacto. Para não dizer que estaríamos incorrendo em uma inverdade.
O segredo de Brokeback mountain é, a primazia, um elaborado e poderosíssimo estudo sobre a solidão, suas circunstâncias e vicissitudes. É um melodrama romântico clássico, à parte a particularidade de versar sobre um amor homossexual em uma América repressora, e é um drama sobre personagens às voltas com seus impulsos interiores.
O segredo de Brokeback mountain ajuda a entender, também, algumas obsessões de Ang Lee enquanto cineasta. A dualidade representada entre o desejo (majoritariamente vinculado a sexualidade) e a responsabilidade (seja ela civil, familiar, social ou de qualquer outra ordem). A questão é abordada em outros filmes de Lee, como em O banquete de Casamento (1993), Razão e sensibilidade (1995) e Desejo e perigo (2007), mas nunca é tão bem delineada quanto nesse drama romântico. Mas essa dicotomia não é o único aspecto humano que interessa a Lee e que pauta seu cinema. O cineasta tem um profundo interesse em cercar personagens às voltas com seus demônios interiores. Que se encontrem em conflito. Seja com suas convicções ou com sua própria natureza. Esse aspecto, já bastante visível em seu filme anterior, o blockbuster Hulk (2003), é realçado na figura de Ennis Del mar (Heath Ledger) que entra em litígio consigo mesmo na tentativa de refutar sua essência e a paixão por outro homem que o consome.
Por tudo isso é seguro afirmar que O segredo de Brokeback Mountain é, não só o melhor, mas o mais expressivo trabalho de Ang Lee no cinema. Ter gerado todo o buzz que gerou é uma contingência dos tempos em que vivemos, mas que não diminui a força do filme. Tão pouco o tira de seu esquadro.


15 comentários:

  1. Consigo reconhecer os méritos de "O Segredo de Brokeback Mountain", mas não consigo ser muito apreciador do filme. O meu principal problema com a história foi no sentimentalismo. Não consegui ver uma grande paixão entre os dois, e sim uma curiosidade ou uma atração muito forte. Amor de verdade a história não me passou...

    ResponderExcluir
  2. Concordo com Matheus, existe falta de amor de verdade entre os protagonista...ao contrário de todos, eu enxergo mesmo é um avassalador desejo, ou seja, um tesão mesmo entre eles...nada mais...é mais carne pedindo carne...homem clamando o outro...existia sim certo envolvimento sensivel, uma paixão talvez, mas não vejo este filme como exemplo de dignidade do amor ou, como muitos insistem em dizer, "o filme definitivo sobre gays"...pelo contrário, é mais um estudo sobre repressão, confusão, responsabilidade e vários outros mais questionamentos...

    Existem melhores dramas aí, mais tangíveis, consistentes, romanticos e até mais tocantes sobre o universo gls...recomendo que você procure mais.

    Brokeback Mountain é mais uma abordagem superficial e extremamente Hollywoodiana...

    ResponderExcluir
  3. Vou discordar dos meninos acima... Acho que justamente por Brokeback Mountain ter os predicados que o Reinaldo apontou foi que conseguiu vencer a barreira do "filme gay", conseguindo, inclusive, conquistar as mais diversas parcelas do público, dos mais jovens aos mais conservadores, se impondo pelo seu valor artístico.
    Qto à ausência de romantismo, gente, cowboy de bota cor de rosa, só nos quadrinhos, rsrsrs Aquela sociedade era (e ainda é) super repressora mesmo.

    ResponderExcluir
  4. Eu também acho que Ang Lee foi feliz ao criar um filme onde as pessoas assistiram, independente de preconceito. E foi ousado ao tuilizar um ícone do machão americano que é o cowboy. Mas, concordo com os meninos. Não é amor. A relação dos dois é muito mais carnal, obsessiva, muito pelo preconceito de ambos que não aceitam o que sentem, principalmente o personagem de Heath Ledger. E exatamente por isso, gosto e acho realista. Eles não se permitem sentir. Apenas deixa extravassar o desejo quando este não suporta mais ficar guardado. Isso existe tanto...

    bjs

    ResponderExcluir
  5. E quem disse que um homem rústico não pode ser um pouco sentimental? Quando se está apaixonado, até os mais "rigidos" tendem a, de alguma forma, demonstrar isso...

    Repito, há inúmeros bons filmes gls por aí, independentes, que externam e abordam motivações e enredos muitos mais densos e convincentes que Brokeback Mountain - não desprezo o filme, gosto até e acho que abriu portas e conquistou públicos distintos...

    Porém, há filmes gays muito, muito mais realistas...bem como os personagens...

    Eu vejo o filme de Ang Lee muito mais hetero que homossexual...eu acho que o filme aborda muito mais a repressão, o tesão gay, que o sentimento. E tenho dito.

    ResponderExcluir
  6. Concordo plenamente com a Aline.Adoro o filme e acho que a relação entre eles foi prejudicada pela sociedade repressora da época,sem contar a responsabilidade familiar que tinham.Manteram uma relação escondida por 20 anos,prova de que existia algo mais do que simples desejo carnal entre eles.Há pequenos detalhes durante o filme que fazem com que eu acredite nisso.E quanto a romantismo,é justamente o fato de não serem "afetados",que nos faz acreditar no sentimento verdadeiro e proporciona a medida certa de intensidade ao filme.É sutil.

    Mas essa é apenas a minha opinião.

    Bjs.

    ResponderExcluir
  7. Primeiramente, talvez seja necessário, faço um importante adendo sobre PANORAMA. Neste espaço eu analiso os filmes do ponto de vista da filmografia do cineasta. Por essa lógica, a análise aqui aventada diz respeito ao papel de Brokeback Mountain dentro do cinema de Ang Lee. Não há a pretensão de pormenorizar o filme e repercutí-lo. Isso eu faço nas críticas e, na nova seção, Claquete repercute. Isso posto, vamos aos comentários:

    Matheus: Pois é Matheus. Opinião é opinião. Contudo, acho que existem detalhes no filme que depõe contra sua convicção. Realmente há um sobrepeso no sentimentalismo, mas essa é uma caracteristica essencialmente melodramática e se ajusta, portanto, a proposta de Lee. Quanto ao amor, Lee justamente evita caricaturizar seus personagens. Acho que a mise en scnène é suficientemente satisfatória no sentido de mostrar os percalços de um sentimento que foge ao domínio, a ordem e tudo o mais.
    Mas vc sbe que prezo demais, além do merecido e obrigatório respeito, sua opinião.

    Cris: Cris, novamente nos deparamos com um tema polêmico. Entendo seu ponto de vista, mas penso que mais uma vez vc está cedendo a paixão e deixando a razão um pouco de lado. Brokeback mountain é sim um elaborado estudo sobre solidão, desejo e a força repressora que inerentemente é deflagrada. Contudo, não deixa de ser uma história de amor. É preciso entender os personagens. Acho que a Pat e a Aline ofereceram argumentos suficientemente cativantes nesse sentido.
    Além da sociedade repressora, os próprios personagens se reprimiam (em especial Ennis Del mar). Quanto ao componente do desejo, esse é outro mérito do filme que acompanha a transformação desse sentimento e não nega seu caráter mutável.
    Enfim, Brokeback mountain evita sodomizar seus personagens à uma política de clichês ou enveredando-se pelo cinema de afronta.
    Há de se pontuar,também, o desfecho do filme que sinaliza justamente para a glória do amor não vivido em sua plenitude. Enfim, pode-se dizer até que a história não cativou fulano ou sicrano, ou não correspondeu às expectativas de beltrano, mas não dá para dizer que o filme não mostra uma história de amor, trágica e intensa, entre dois homens.
    Abs

    ResponderExcluir
  8. Amanda: Entendo e compartilho do seu ponto de vista em quase tudo, mas me diz uma coisa: Como apenas esse desejo dura 20 anos e causa toda aquela dor em ambos os personagens? Existe a carne, existe a obsessão e existe a repressão. Não estou dizendo que só há amor, mas gnt, todos esses são componentes de um amor menos idealizado e mais real. Enfim, fica o registro sempre válido. Bjs

    Aline: Obrigado pela franca, pontual e precisa exposição de seu ponto de vista Aline. Foi muítissimo bem vinda. Bjs

    Pat: Sutileza é tudo nessa vida, não é mesmo Pat?! Obrigado pela pronta e coerente defesa. bjs

    ResponderExcluir
  9. Este filme foi de fato o divisor de águas do assunto. Eu captei o amor dos personagens, obviamente envolto num cenário machista e complicado.

    Eles sofrem demais ao longo da fita...e o que eles precisariam fazer pra provar este amor? Recitar william Shakespeare na sacada um do outro? Rs!

    Eles sentiram e demonstraram tudo: amor, tesão e repressão!

    Belo texto Reinaldo!

    Abs,
    Rodrigo

    ResponderExcluir
  10. O filme abordar uma temática homossexual, eu achei um mero "detalhe". Gays ou não, estamos diante de uma das mais belas trágicas histórias de amor. Delicado e comovente, "O Segredo de Brokeback Mountain" é um dos melhores trabalhos de Ang Lee, sem dúvidas - pra mim, perde apenas para "Razão e Sensibilidade".

    filme já virou clássico.


    abs, R. o/

    ResponderExcluir
  11. aliás, meu caro, te add no msn =)
    lá conversamos sobre nossos assuntos pendentes que seria para ser discutido num e-mail que virou lenda hahahaha!

    my bad! xD

    ResponderExcluir
  12. Rodrigo: Assino embaixo do teu comentário. Bem humorado e diretor ao ponto. Abs

    Elton: Mais uma para eu assinar embaixo. Obrigado pela pontual e precisa intervenção Elton. Só acho Brokeback Mountain superior a Razão e sensibilidade, mas aí são detalhes né?! rsrs
    Pois é, lendas ainda hão de virar realidade, pelo menos no cinema, né?! rsrs
    abs meu brother!

    ResponderExcluir
  13. Depois de tanta polêmica, fica difícil comentar algo que já não tenho sido dito. Me arrisco ao afirmar que esta obra de Lee retrata um homossexualismo recém descoberto e assim, define todo seu poder e força. Quando o desejo se exterioriza, podemos perceber uma fúria proeminente na primeira relação íntima dos dois, e o mais interessante, durante o ato sexual, eles não perdem a masculinidade. Um encontro corporal bem másculo que retrata com êxito a união de dois homens que viverão um bom tempo em estado de negação, pelas intolerâncias sociais. Até enxergo uma pitada de amor, principalmente quando os cowboys violam o casamento para reviverem alguns intensos momentos.

    ResponderExcluir
  14. Olá,

    Todo mundo já se expressou na sua particularidade, então assino embaixo nas últimas conclusões do Reinaldo, Rodrigo e Elton, lúcidas e na medida certa, e só acho que, ao falar sobre a questão homossexual de 'O segredo de Brokeback Mountain' tem que pensar na obra como:

    1) é um filme do circuito comercial (isso tem que ser levado em conta). Não tem a pretensão de ser cinema alternativo como outros filmes fundamentalmente gays, então não seria filmado desta forma e, portanto, não se torna menor por conta disso.

    2) algo fora do estereótipo gay porque como disse bem o Elton' isso é um mero detalhe', Ang Lee consegue universalizar o amor da obra, juntamente com o desejo sexual.

    3) expressiva no registro que, não se exime de mostrar também as dificuldades de realização desse amor. Por isso, a história é de todos nós, independente de orientações sexuais.


    Mas acima de tudo, é uma história de amor e, como toda história de amor, traz o sofrimento.

    bjs!

    ResponderExcluir
  15. Emmanuela: Primeiramente deixe-me dar as boas vindas a nova seguidora de Claquete. Prazer imenso te ter por aqui e espero que se entusiasme a voltar sempre aqui nesse cantinho cinéfilo. Excelente recorte o que vc fez sobre a fita, não preciso acrescentar mais nada. Bjs

    Madame:Intervenções sempre precisas e imbuídas de conteúdo e apelo agregadores. Só posso agradecer madame...
    bjs

    ResponderExcluir