terça-feira, 10 de novembro de 2009

Critica - Código de conduta

Quando a lei não é suficiente!

A vingança já foi abordada das mais variadas formas e com os mais legítimos interesses. Desde a simples e pretendida catarse até uma análise mais profunda das motivações e conseqüências da vingança. Já ganhou contornos pseudo-satíricos, como no mais recente filme de Tarantino, e o escopo de filmes de ação descerebrados. Código de conduta (Law abding citizen, EUA 2009) se situa na fronteira de tudo isso. O próprio diretor do filme, F. Gary Gray, já havia abordado, em trabalhos anteriores, a vingança como finalidade e também como alternativa. São seus o cool e badalado Uma saída de mestre (remake de Um golpe à italiana) e O vingador (em que Vin Diesel torna-se uma máquina de matar depois que sua família é morta por um traficante).
Em Código de conduta, Gerard Butler vive Clyde Shelton, um ex-militar cuja mulher e filha foram assassinadas brutalmente. Shelton não aceita a forma como o caso foi resolvido no tribunal. Um dos responsáveis pelo crime fez um acordo, para testemunhar contra o companheiro, e saiu com uma condenação curta. Para Shelton isso não estava correto, não importava o quanto o assistente da promotoria Nick Rice ( Jamie Foxx fazendo o estilo almofadinha) lhe dissesse que era o mais perto de justiça que poderiam chegar.
Shelton então passa 10 anos arquitetando um plano, ou uma lição como repete freqüentemente, para reconduzir os princípios de justiça às autoridades responsáveis por zelar por eles. Trocando em miúdos, Shelton começa a matar, a principio os responsáveis pela morte de sua família, que contaram com a leniência de um sistema imperfeito, depois contra os próprios responsáveis pelo funcionamento do sistema.

Nick Rice( Jamie Foxx) interroga Clyde Shelton (Butler): Controle,psicopatia e injustiça

Apesar de certas incoerências narrativas (principalmente com algumas soluções forjadas pelo roteirista Kurt Wimmer para justificar a expertise de Shelton), Código de conduta tem um discurso eloquente. Justamente aí, que Gray se distancia dos outros exemplares sobre vingança que dirigiu. Em O vingador, Diesel sai de controle, mas só mata “bad guys”. Em Uma saída de mestre, o articulado plano de Mark Wahlberg e Charlize Theron visa dar o troco em um traidor e assassino do pai da personagem de Theron. Aqui, tudo é em grande escala. Shelton, numa reação bem mais provável, segue um raciocínio lógico e se predispõe a corrigir um sistema falho e corrupto da forma mais dura e impiedosa possível. Perde a simpatia da platéia no curso do filme, algo que não acontece nos outros filmes. Sua cruzada não é apenas contra os assassinos de sua família, mas contra um sistema moralmente contraditório. Daí sai o segundo grande achado do filme (brilhantemente capturado pelo título original),ao introduzir a noção de alienação e sentimento de injustiça que a justiça de forma geral impõe aos cidadãos. Um jogo, um teatro que se resume a técnicas apuradas e conhecimento teórico. “O que aconteceu com o certo e o errado?”, pergunta Shelton em uma cena, das mais bem escritas e surpreendentes, do filme.
Ao fim do filme é interessante notar que para detê-lo foi necessário abandonar convenções jurídicas e lançar mão dos mesmos recursos que ele achou apropriado para provar seu ponto de vista. Shelton prevaleceu. O curioso, e premeditado por Shelton, é que no ínterim fez de Nick Rice, um promotor melhor.
Pela reflexão que propõe e pelo entretenimento que vem antes dela, Código de conduta é uma ótima pedida.

8 comentários:

  1. Como entretenimento, realmente, este filme é uma excelente pedida! Apesar do tema clichê, a abordagem do roteiro é bem diferente e isso me agradou. A única coisa que eu não gostei mesmo foi da performance do Jamie Foxx, canastrão até dizer BASTA!

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  2. Concordo com vc Kamila. Aliás, Jamie Foxx parece não conseguir evitar mais a canastrice. Vou ver se em O solista, que ele vem sendo elogiado, a coisa é diferente. Nesse filme, ele é engolido por Butler, embora tenha o papel que dá liga a trama.

    Beijos, Ka!

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  3. Gostei do filme ,Mas um filme sobre vingança e do Jamie foxx na canalhice , chegou um ponto que torci para seu personagem rsrs ,como diria Tarantino " A vigança move mais que o amor "
    O Gerard Butler impecavel !!!

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  4. Oi Reinaldo!

    Olha li seu texto sobre "os 10 astro da era de ouro de Hollywood" e meu caro, concordo com vc em gênero, número e grau. Todos são perfeitos e maravilhosos, principalmente Marlon Brando, Bust Lancaster e Frank Sinatra (meus preferidos). Se vc não se importa, acrescentaria mais dois: Gene Kelly e Rock Hudson que para mim são magníficos tb.

    Inclusive, o filme: A um passo da eternidade passou nesta semana no TCM e consegui ver. Embora no dia seguinte tenha ido trabalhar um bagaço, valeu a pena.

    Vc falou sobre Madonna. E olha ela ta se monstrando extremamente antipática, metida e egoísta. Nada haver com o que ela prega de ajudar ao próximo. Tenho escutado todos os absurdos que ela esta pedindo. Uma vergonha. E olha que sou sua fã, mas, estou meio decepcionada com suas atitudes. Enfim, celebridades são assim, as vezes.

    Quanto ao filme Código de conduta, assim que sair em vídeo pretendo assistir.

    Um abraço.

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  5. Luciana: Obrigado Lu por prestigiar Claquete e por eternizar sua opinião aqui. E bem, vc citou perfeitamente Tarantino e a frase que captura brilahntemente o estado de espiríto do personagem de Butler.
    Bjs e volte sempre!

    Cintia: Veja sim o filme pq vale a pena. Pois é Rock Hudson, Gene Kelley, Gary Grant, Dean Martin e muitos outros acabaram de fora da lista. É muita gente boa. Tive que condensar. Obrigado pelo gentil comentário.
    Pois é o TCM pode ser prejudicial a rotina profisional (rsrs). Assim como a programação de séries. Aliás, Glee, novidade da FOX, é uma que vale muito a pena. É um musical. É muito divertido, dá uma espiada.
    Bjs

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  6. desse filme eu gostei em algumas doses, hehe...
    a idéia dele atacar o sistema eu gostei...faz a gente pensar "onde tá o erro" afinal...pena que o diretor meio que se perdeu...e eu faria o final diferente..ah faria!!!

    abraços!!

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  7. Oi Reinaldo,

    retribuindo a visita.

    Eu vi o trailer desse filme, quando fui assistir "Substitutos". Sou fã do Bruce Willis :D
    E fiquei muito motivada! Agora mais ainda com o seu texto!

    Numa rápida olhada no seu blog... vi que é professor e inglês. Se ainda não viu o filme "Bon Cop, Bad Cop", assista.

    Volto outra hora.
    Beijos,

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  8. Fala Sapão! Pois é o final podia ser menos policamente correto, mas se vc pensar bem... era a única forma possível de Clyde provar seu ponto de vista. A justiça teve de recorrer ao mesmo expediente que ele estava usando.

    Lella: Obrigado por comparecer aqui. Vou continuar frequentando seu blog, do qual gostei muito. Espero que vc apareça aqui sempre.
    Tb sou fanzaço do Bruce Willis.
    Bjs

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