terça-feira, 24 de novembro de 2009

Critica - Coco antes de Chanel

Nos tempos do espartilho





Figuras históricas quando abordadas pelo cinema tendem a gerar controvérsias. Isso pode ser decorrente da disposição em desconstruir a personagem em questão, sendo assim o próprio filme combustão de polêmicas e indagações, ou pela postura reverente, e por vezes, enfadonha que se adota em alguns casos. Coco antes de Chanel (Coco avant Chanel, FRA 2009) se aproxima da segunda categoria.
A diretora Anne Fontaine (de ótimos filmes como Nathalie X e A garota de mônaco) sempre se interessou pela força do feminino. Natural que uma figura histórica tão importante para conquistas femininas despertasse o interesse da diretora. No entanto, seu filme peca não só pela adulação que faz a estilista (seria surpreendente, e talvez mal sucedido se não o fizesse), tão pouco pela omissão de importantes traços da trajetória de Gabrielle Chanel, como seu flerte e apoio ao regime nazista, o maior erro do filme é sugerir que as conquistas de Chanel não são realmente, ou inteiramente, suas.
No filme, acompanhamos Coco (como era chamada, em virtude de uma canção que cantava em parceria com sua irmã em uma boate) debater-se com sua inadequação á valores e costumes da França pré-primeira guerra mundial. Testemunhamos seu envolvimento com Balsen, homem rico que lhe cedera um teto em troca de favores sexuais. Fica claro no filme o inconformismo de Coco com uma nobreza de hábitos chulos e irresponsáveis. Mas sua atitude em nada rompe com isso, o que evidencia, a despeito da omissão do roteiro, seu gosto pela comodidade de certas situações (o que poderia ser potencializado se seu envolvimento com o nazismo tivesse sido abordado). Seu gênio para a costura é algo percebido pelo amante Boy, aristocrata inglês que mantém negócios com Balsen, por quem Coco se apaixona. É boy quem viabiliza a gênese da carreira de Coco. Uma mulher que embora se ressentisse da nobreza foi capaz de tudo para adentrar a suas hostes. Essa é a mensagem mais eloquente de Coco antes de Chanel. O triste é que não era para ser. Tudo o que poderia suscitar polêmica foi amenizado, ou simplesmente limado do roteiro. Contudo, na expectativa de emoldurar o retrato de uma mulher a frente de seu tempo, entrega-se um filme, que embora busque a adulação, deixa escapar a imagem de uma mulher mais oportunista do que com senso de oportunidade.
De qualquer maneira não deixa de ser regozijante ver uma história de triunfo real nas telas. Chanel manteve-se no topo, a despeito de alguns laços espúrios, por talento. Tal qual outra biografia de figura ilustre que promete render discussões semelhantes, Lula - o filho do brasil, Coco antes de Chanel esquivou-se dos elementos sombrios de sua biografada. A mulher que redefiniu o corte e costura e ajudou a redimensionar a posição social da mulher em uma sociedade, favorecendo - através de suas roupas, a individualidade de cada uma, recebeu um tratamento pouco satisfatório no cinema. O que há de mais notável em Coco antes de Chanel é mesmo Audrey Tautou, uma presença que de tão poderosa chega a emocionar, mesmo em um filme tão etéreo quanto um corte bem feito.

5 comentários:

  1. A minha maior curiosidade em relação a este filme é ver justamente como foi o retrato da Chanel, ainda mais numa época em que ela não era ainda a pessoa que nós conhecemos. E tem a Audrey Tautou, que eu adoro. Espero poder conferir o filme em breve.

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  2. Kamila: O filme vale a pena sim. Só que poderia valer muito mais. É quadradão e como apontei na crítica, apresenta muitos equívocos.
    Bjs

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  3. Embora com excelente fotografia da época e contar com Audrey Tautou, como forma de expressar quem foi Gabrielle Chanel, o filme foi um fiasco. O que interessa à audiência? A personalidade e as conquistas de Mademoiselle, principalmente as relacionadas ao império Chanel e que o ajudaram a construir a marca que é hoje. O que a diretora fez? Focou uma parte da história bem ANTES (como o próprio nome do filme já tinha a intenção de nos sinalizar sobre tal fato), sendo que nem neste prévio período da vida dela não foi colocado os comportamentos que fizeram de Chanel a lenda que ela é, logo Audrey Tautou não vibra como Gabrielle porque nem pôde fazê-lo com este enredo. Eu não gostei, inclusive foram uma das grandes frustrações em filmes mais recentes. Prefiro a série Lifetime com Shirley McLaine. Mais simples, mais direta, mais funcional!

    Beijos da Madame!

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  4. Confesso que não conheço a série Lifetime, mas se tem Shirley McLaine, certamente deve ser coisa boa. Como vc pode reparar pela minha critica, Coco antes de chanel tb não me satisfez. Acho que o filme além de demagógico é mal calculado. Acaba por desenhar uma mulher bem diferente do que se pretendia. É meio como o zagueiro que cabeçeia pensando estar jogando a bola para escanteio e faz um gol contra. Essa é a sensação que se tem ao terminar d ever o filme.
    Bjs madame!

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  5. Gostei da comparação!

    PS - escrevi um longo comentário na sua crítica de Amantes e não apareceu no seu blog. Ai , espero que surja logo, logo...

    bjs

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