sábado, 6 de novembro de 2010

Cantinho do DVD

Existem aqueles filmes que partem de premissas óbvias para tecer comentários mais profundos do que a obviedade da sinopse sugere. E há aqueles que não conseguem extrapolar a premissa. A estrada, destaque de Cantinho do DVD desta semana, é uma fita interessante para que possamos perceber a diferença entre uma boa ideia e uma boa execução. Não que A estrada seja um filme ruim. Não é o caso. Contudo, é aquele filme que deixa a sensação de que poderia render muito mais. A crítica, que vem a seguir, explica um pouco melhor porque isso ocorre.


Ficha técnica:
Título original: The Road
Direção: John Hillcoat
Roteiro: Joe Penhall  
Elenco: Viggo Mortensen, Kodi Smith McPhee, Charlize Theron e Robert Duvall
Gênero: Drama
Estúdio: The Weinstein company/ Paris filmes
Status: Disponível em DVD e Blu-ray para locação

 
Crítica
 
As expectativas sobre A estrada (The Road, EUA 2009) eram grandes. O filme, adaptado da obra homônima do premiado autor americano Cormac McCarthy, traz em seu cerne uma série de divagações sobre os limites da civilização. Dirigido pelo australiano John Hillcoat, A estrada preserva o tom fúnebre e a narrativa morosa do livro de McCarthy e confia em seu par de protagonistas, Viggo Mortensen e Kodi Smith McPhee, a tutela das emoções da platéia.
Não que o filme ambicione emocionar ou comover. A ideia que move A estrada é mais profunda e menos simples. Busca-se fazer um comentário sobre a finitude do homem enquanto conceito. Na trama, acompanhamos pai e filho tentando sobreviver em um mundo pós-apocalíptico. Mundo em que há escassez de comida e a preocupação constante em não virar alvo de alguns poucos sobreviventes que cederam ao canibalismo. Ao contrário do que a sinopse possa sugerir, não se trata de uma ficção científica ou de um filme de ação com jeito de entretenimento sério. A estrada é um conjunto de metáforas alinhadas de forma calma, contundente e, até certo ponto, previsível. Está nessa previsibilidade – que não chega a ser algo de todo ruim – o grande revés da fita. Hillcoat falha em se aproveitar do impacto do cinema para ampliar a dialética do texto de McCarthy; como fizeram os irmãos Coen com Onde os fracos não têm vez (obra mais famosa de McCarthy).
A estrada é um bom filme, maravilhosamente realizado, que não alcança seus objetivos ironicamente por ter se prendido muito a eles. Tivesse Hillcoat se preocupado menos com as metáforas humanas que já constavam do livro e potencializado aquelas passíveis de iluminação pelo cinema, a presente crítica não discutiria de antemão as expectativas acerca do filme.

4 comentários:

  1. Entendo quando você fala que o filme se prendeu, mas acho interessante a forma como ele constrói tensão em cima do nada. Só acho que tudo se enfraquece no final.

    bjs

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  2. Confesso que fiquei curioso pra ver esse filme nas mãos de um outro diretor. Mas o resultado não é dos piores, não! E o Viggo Mortensen é um artista formidável. Pena que não seja tão difundido pela mídia (que prefere perder tempo com Zac Efrons e Brad Pitts).

    Cultura na web:
    http://culturaexmachina.blogspot.com

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  3. Esse já o tenho cá, também em meu "Cantinho do DVD". rsrsrs
    Espero ansiosamente as férias para conferi-lo.
    Também nunca li nenhuma crítica negativa a seu respeito. Sempre ganhou ****.
    Bom fim de semana, Reinaldo.
    ;)

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  4. Amanda: A tensão construída não está no filme (ñ sei se vc leu o livro) e sim na narrativa de McCarthy. O filme a esvazia (como vc bem notou)... bjs

    Pseudo-autor: Concordo que o resultado não é ruim. Mas vc cravou a questão. Nas mãos de outro diretor, o material teria sido melhor aproveitado...
    Quanto a Viggo, acho que ele vem obtendo um bom reconhecimento. Mídia é outra coisa... abs

    Cássio Bezerra: rsrs. Tomara que vc goste Cássio, mas 4 estrelas é muito. Quanto a critica negativa, a primeira da Vanity Fair (ainda em Veneza 2009) foi especialmente venenosa. Eles descascaram o filme. Tem sobre isso na cobertura que o blog fez da edição do festival do ano passado.
    Abs

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