segunda-feira, 15 de novembro de 2010

ESPECIAL MINHAS MÃES E MEU PAI - Insight

Por que o cinema independente gosta tanto de famílias disfuncionais?


Corre uma tradição no cinema independente em geral, e no americano em particular, o interesse quase antropológico pelo microcosmo. Esse interesse geralmente é escrutinado na dramatização de cotidianos familiares. Sejam eles sadios ou não, convencionais ou não. Esse fato é, primeiramente, uma contingência orçamentária. Não há disposição financeira para filmes muito ambiciosos e, então, o microcosmo e o poder das metáforas cinematográficas se impõem como opção legítima para o cinema independente. Desde filmes como Segredos e mentiras (1996), de Mike Leigh, até o recente Minhas mães e meu pai (2010), passando por todas as produções do movimento Dogma 95 e filmes como Preciosa (2009), Pequena miss sunshine (2006), Juno (2007) e Provocação (2004).
Focar nos dilemas familiares é focar nos dilemas de uma sociedade. No Brasil, essa tendência também pode ser verificada na obra de alguns diretores como Domingos Oliveira, cujo mais recente filme Todo mundo tem problemas sexuais ainda não conseguiu distribuição, e Sérgio Bianchi, cujo último Os inquilinos foi muito elogiado, que preferem mergulhar nas angústias dos personagens como maneira de viabilizar a visão de mundo que têm.

Cena de Minhas mães e meu pai: contundência sem crítica é o objetivo do filme independente mais festejado do ano


Famílias disfuncionais ou imprensadas em uma situação catártica são, por força da dramaturgia pretendida, a melhor maneira para emular os conflitos que testemunhamos do lado de cá das telas.
Em Minhas mães e meu pai ao expor a intimidade de um casal de lésbicas com dois filhos naturais que tiveram de um mesmo doador de esperma que, subitamente, volta a rotina do casal, o cinema independente americano – novamente - se firma como fonte de oxigênio para a produção cinematográfica contemporânea. Repercutindo a sociedade em níveis que a própria – fora do mundo das artes – ainda esbarra em ranços ideológicos. A contundência não pode ser confundida com militância. Há, no cinema independente, até pela fomentação proporcionada pelo modelo de produção, muita militância. Pela democracia no trânsito de ideias e na manipulação das mesmas, é comum ver por aí gato por lebre. As famílias disfuncionais, também em virtude desse aspecto, são um porto seguro para uma produção independente que almeja ter sua contundência reconhecida.

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