sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Oscar Watch 2012 - A peleja dos diretores

Alexander Payne (Os descendentes), Martin Scorsese (A invenção de Hugo Cabret), Woody Allen (Meia-noite em Paris), Michel Hazanavicius (O artista) e Terrence Malick (A árvore da vida)


O artista

Ninguém conhecia Michel Hazanavicius até outro dia. Mas ele provou, com seu apaixonado filme (O artista), que conhece muito de cinema. Em uma disputa de pesos pesados, ele faz questão de manter-se um aprendiz. Ainda que seja o responsável pelo filme mais premiado da temporada. Hazanavacius não é nem mesmo dos diretores mais proeminentes da França e agora pode ser o primeiro francês a ganhar o Oscar de direção.

Prós:
- É o diretor do filme mais festejado da temporada
- Demonstra estilo e perícia na construção de um filme à moda antiga, mas muito bem adornado pelos recursos disponíveis na atualidade
- Ganhou alguns dos principais prêmios da temporada como o DGA (prêmio do sindicato dos diretores), o Critic´s Choice Awards e o Bafta
- Realiza uma excelente direção de atores e essa característica pode prevalecer

Contras:
- Há quem possa achar melhor premiar o americano Scorsese por um filme genuinamente americano e que apresenta o mesmo “espírito”
- Compete contra verdadeiros monstros sagrados do cinema americano (Allen, Scorsese e Malick)
- Pode ser prejudicado em uma eventual cisão dos dois principais prêmios da noite. A academia pode optar por premiar O artista e escolher outro diretor em uma premiação pulverizada
- Também concorre como produtor e roteirista e pode ser vítima da superexposição, tendo em vista que não é exatamente um Coen
- É o único estrangeiro concorrendo na categoria e há quem possa se ressentir de conceder o Oscar dois anos consecutivamente a não americanos

Primeira indicação


O mestre  

Não há necessidade de apresentações. Martin Scorsese talvez seja o grande diretor americano da atualidade.Seu retrospecto recente em nomeações ao Oscar demonstra isso. São sete na carreira e quatro nos últimos nove anos. Nenhum outro diretor americano em atividade ostenta tamanho repertório. E estamos falando de um injustiçado histórico pelo Oscar. A invenção de Hugo Cabret, filme que o leva novamente à disputa pela estatueta dourada, é aquele em que Scorsese mais deixa transparecer seu amor pelo cinema. Isso pode lhe render mais do que comoção de público e crítica.

Prós:
- Existe um consenso de que um Oscar é insuficiente para a estatura artística de Scorsese
- Ganhou o Globo de ouro na categoria e foi eleito o melhor diretor do ano pela maior parte dos círculos de críticos de prestígio
- Está a frente do filme líder de indicações e isso há de contar para alguma coisa
- É uma figura extremamente querida por todos na indústria
- O prêmio também seria uma forma de legitimar o uso do 3D por cineastas do primeiro time; o que, em última análise, também seria bom para a indústria

 Contras:
- Existe um consenso de que um Oscar é insuficiente para a estatura artística de Scorsese, mas pode prevalecer o sentimento de que ainda é cedo para premia-lo de novo
- Perdeu a dianteira na corrida para o concorrente Michel Hazanavicius que conquistou o prêmio do sindicato
- Levou décadas para ser premiado. Difícil crer que o premiem novamente em tão curto espaço de tempo

Décima indicação (produção e direção)
Indicações anteriores: 
Melhor diretor por Touro indomável (1981), A última tentação de Cristo (1989), melhor roteiro adaptado por Os bons companheiros (1991), melhor diretor por Os bons companheiros (1991), melhor roteiro adaptado por A época da inocência (1994), melhor diretor por Gangues de nova Iorque (2003), melhor diretor por O aviador (2005) e melhor diretor por Os infiltrados (2007).
Vitória anterior: melhor diretor por Os infiltrados


Mais do que o independente do ano

Alexander Payne não é exatamente um estreante na categoria. Já concorreu ao Oscar antes. Contudo parece deslocado em meio a cineastas tão expressivos. Talvez porque as histórias que conta sejam minimalistas na essência. A ideia de construir uma filmografia calcada nos personagens é um diferencial que, no entanto, pode lhe render mais frutos como roteirista (categoria a qual também está indicado e pela qual já ganhou um Oscar) do que como diretor.

Prós:
- Está a frente de um filme independente e a academia têm reconhecido diretores nesse perfil no histórico recente. Alguns exemplos (irmãos Coen em 2008 por Onde os fracos não têm vez, Danny Boyle em 2009 por Quem quer ser um milionário? e Kathryn Bigelow em 2010 por Guerra ao terror).
- É notadamente um bom diretor de atores e isso pode contar pontos a seu favor
- Realiza um filme acessível e aprazível. Características mais marcantes em Os descendentes do que em Meia-noite em Paris (que tem um ar de erudição indisfarçável) e O artista (mudo e em preto e branco)

 Contras:
- Existem diretores/roteiristas mais festejados na disputa e isso pode prejudicar Payne em ambas as corridas
- Ainda que seu filme tenha sido apontado como o melhor do ano por alguns grupos de críticos e ganhado o Globo de ouro de melhor filme drama, Payne não ganhou nenhum prêmio
- A percepção de que ele já fez filmes melhores
- A festa em torno da atuação de George Clooney pode ter desviado o foco de outros pontos fortes do filme como, inclusive, as sutilezas imprimidas por Payne na condução da história

Quinta indicação (produção, direção e roteiro)
Indicações anteriores:
Melhor roteiro adaptado por Sideways – entre umas e outras (2005)
Melhor direção por Sideways – entre umas e outras (2005)
Vitória anterior:
Melhor roteiro por Sideways – entre umas e outras (2005)


O estranho no ninho

Não chegou a ser uma surpresa a inclusão do cineasta Terrence Malick entre os finalistas na briga pelo Oscar. Mas com tantos nomes mais badalados na disputa, não deixou de ser um tanto anti-climática a lembrança. Malick, por seu turno, é do tipo que não faz o jogo do Oscar. Bissexto, embora prestes a mudar esse hábito, o cineasta não costuma fazer aparições públicas e saúda a natureza em seus filmes. A árvore da vida é um projeto tão megalomaníaco que, por vias tortas, só podia acabar no Oscar. Mas é certo que já chegou longe demais.

Prós:
- Venceu a Palma de ouro em um júri presidido pelo ator americano Robert De Niro. Não é pouca influência não...
- É um diretor muito admirado por seus colegas e recompensá-lo por um projeto desta envergadura seria um gesto de carinho e consentimento
- Apresenta uma direção sem sombra de dúvidas vistosa, ainda que por um filme “difícil”, a academia pode ser suscetível a esse perfil de trabalho
- Um Oscar a Malick significaria prestigiar mais diretores autorais
- Ganhou alguns prêmios de círculos de críticos no início da temporada de prêmios

Contras:
- Há muita gente que não gosta do filme
- Malick não faz campanha e , combinada a excentricidade de a A árvore da vida, suas chances se veem consideravelmente diminuídas
- Não é o melhor trabalho de direção do ano e todo mundo sabe disso
- A pecha de que a indicação já é suficiente
- Pode ser “esquisitão demais” para muitos votantes

 Terceira indicação
Indicações anteriores:
Melhor roteiro adaptado por Além da linha vermelha (1999)
Melhor diretor por Além da linha vermelha (1999)

O retorno do filho pródigo

Quem não gosta de Woody Allen? Surpreendentemente, muita gente. Mas isso não impediu que o mais neurótico dos autores americanos quebrasse o recorde de Billy Wilder de indicações ao Oscar nas categorias de direção e roteiro. São 23 nomeações (computadas as duas de 2012 por Meia-noite em Paris) contra 21. Woody Allen, definitivamente, se inscreve como uma das figuras mais queridas da História de Hollywood. Ganhar ou não o quarto Oscar, neste momento, é apenas um detalhe.

Prós:
- É o “grande retorno de Woody Allen” ao Oscar e esse é um “catchy slogan”
- Foi um dos poucos diretores premiados por uma comédia. Seria ainda mais notável e distinto ser premiado novamente pelo mesmo gênero
- Woody, na última década, voltou a apresentar um cinema mais inquieto e altivo, além de ter feito as pazes com a crítica
- Não costuma chamar a atenção para o trabalho de direção

Contras:
- A pecha de que a indicação já é suficiente
- O fato de ser mais admirado (pela academia) como roteirista do que como diretor
- Ser partidário de uma direção econômica, até certo ponto quadrada, pode lhe privar dos votos de uma ala mais moderna da academia
- Não é o melhor trabalho de direção do ano e todo mundo sabe disso
- Não costuma chamar a atenção para o trabalho de direção

23ª indicação
Indicações anteriores:
Melhor ator por Noivo neurórico, noiva nervosa (1977), melhor roteiro original por Noivo neurótico, noiva nervosa (1977), melhor direção por Noivo neurótico, noiva nervosa (1977), melhor roteiro original por Interiores (1979), melhor direção por Interiores (1979), melhor roteiro original por Manhattan (1980), melhor roteiro original por Broadway Danny Rose (1985), melhor direção por Broadway Danny Rose (1985), melhor roteiro original por A rosa púrpura do Cairo (1986), melhor roteiro original por Hannah e suas irmãs (1987), melhor direção por Hannah e suas irmãs (1987), melhor roteiro original por A era do rádio (1988), melhor roteiro original por Crimes e pecados (1990), melhor direção por Crimes e pecados (1990), melhor roteiro original por Simplesmente Alice (1991), melhor roteiro original por Maridos e esposas (1993), Melhor roteiro original por Tiros na Broadway (1995), melhor direção por tiros na Broadway (1995), melhor roteiro original por Poderosa Afrodite (1996), melhor roteiro original por Desconstruindo Harry (1998), melhor roteiro original por Match point – ponto final (2006)
Vitórias anteriores:
Melhor roteiro original por Noivo neurótico, noiva nervosa (1977)
Melhor direção por Noivo neurótico, noiva nervosa (1977)
Melhor roteiro original por Hannah e suas irmãs (1987)

7 comentários:

  1. A briga aqui está entre Michel Hazanavicius e Martin Scorsese. E, pra mim, está bem indefinida. Acho que Hazanavicius leva vantagem por ter vencido o DGA, mas o Scorsese é o Scorsese. Nunca podemos descartá-lo de vez. :)

    Beijos!

    ResponderExcluir
  2. Torço pra que o Scorsese leve essa! Acho que seria justo premiá-lo e deixar "O Artista" com o Oscar de melhor filme. ver uma produção estrangeira vencer seria demais!

    ResponderExcluir
  3. É, também acho que a disputa está entre Michel Hazanavicius e Martin Scorsese e tendo a uma leve aposta no segundo exatamente por essa divisão da qual você falou (filme para um, diretor para outro). Vamos ver.

    bjs

    ResponderExcluir
  4. Tb acho que Payne esta deslocado aqui amigo, mas ainda não conferi "Os Descendentes". Bem dividida a crítica por sinal. Os prós dele são lógicos, mas vejo que será o ano de diretores como o Scorsese e um pedido de desculpas por Taxi Driver e Touro Indomável (citando apenas alguns) tem essa de dar prêmio errado e o tardio Oscar por "Os Infiltrados" é gritante. Já Hazanavicius ganhou foi a carreira dele com "O Artista", pode ganhar uma estatueta mais tarde. Veremos.

    Abç.

    p.s. Allen vai tocar o seu Jazz ou ficar ouvindo Sinatra em sua casa na noite da festa, rs! Esta história Woody & Academia já é antiga!

    ResponderExcluir
  5. Ola,Eu estou simplesmente esperando para ver o que vai dar.Minhas torcidas sempre deram errado ,portanto agora de "sangue doce"vou sentar na primeira fila e aguardar os acontecimentos.Grande abraço.

    ResponderExcluir
  6. O jogo é de pesos pesados heim? Michel Hazanavicius já ganhou ontem o Prêmio Cesar! Apesar de gostar muito de Woody Allen, acho muito difícil que ele ganhe! Também fico entre os dois primeiros ;)

    ResponderExcluir
  7. Muito boa a lista também. Mas, repito algo que disse no outro comentário, não acho muito correto afirmar categoricamente isso: "Não é o melhor trabalho de direção do ano e todo mundo sabe disso". Eu acho a melhor direção do ano. E eu sei que é. Assim como eu, meus 9 companheiros de equipe votaram nele também e elegeram como melhor direção na nossa premiação. Tem que tomar cuidado com essas coisas ;)

    ResponderExcluir