sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Crítica - Histórias cruzadas

Dramalhão cativante!

É um dramalhão? É. Mas Histórias cruzadas (The help, EUA 2011) também é um exemplar vigoroso de filme cativante. A fita de Tate Taylor, adaptada do livro de Kathryn Stockett, pertence àquela corrente de filmes que provocam restrições (justificadas) à elaboração de seus dramas, ao aspecto manipulador arredado a eles, e ao conchavo de opções discutíveis por parte da realização. Mas assim como em filmes como Tomates verdes fritos e Um amor verdadeiro, é impossível não se deixar contagiar por essa história de força, coragem e amizade no segmentado Mississipi (Estado ao sul dos EUA) dos anos 60.
Logo que pousamos os olhos em Skeeter Phelan (Emma Stone) percebemos que ela não se ajusta aquele ar blasé que caracteriza a vizinhança. Tão pouco seu gênio parece confluir com a pretensão de “caçar maridos” como um personagem qualifica as mulheres da região em certo momento. É ela quem dá início a um projeto, por certo revolucionário, que uma sagaz editora objetiva confluir com o ascendente movimento pelos direitos civis. Skeeter, que por sua vez objetiva ser jornalista ou escritora ou ambos, tem a ideia de apresentar o ponto de vista das empregadas negras da cidadezinha de Jackson em um livro. Um ultraje em uma época em que negros e brancos não podiam dividir livros, banheiros, entre outros.
O ranço escravagista ainda era nítido na cultura americana nessa época de ebulição dos movimentos pelos direitos civis e o cinema encontra nessa fornalha de boas histórias muitos grandes filmes. Não é o caso de Histórias cruzadas. No entanto, esse recorte cultural está bastante vívido no filme de Taylor.
Mas o grande trunfo de Histórias cruzadas é mesmo seu primoroso elenco. Daqueles trabalhos ornamentados pelo coração dos intérpretes que ganha ainda mais relevo pelo viés dignificante da história encenada.
Viola Davis, que concorre ao Oscar de melhor atriz, beira o sublime na composição que faz da experiente Aibileen Clark. À medida que Aibeleen abre sua intimidade para Skeeter, e por consequência para o público, mais poderosa Viola se anuncia.

Emma, Octavia e Viola em cena do filme: um elenco em estado de graça


Histórias cruzadas é mesmo um filme de mulheres fortes. Octavia Spencer brilha intensamente na pele da esquentadinha Minny Jackson. O papel é banal e previsível, mas a atriz é vívida e complexa. Ela confere humanidade e dor à personagem em uma personificação merecedora de láureas. Jessica Chastain é outro assombro. Atriz de presença desestabilizadora, ela rouba a cena sempre que aparece como a desajeitada e rejeitada socialmente Celia Foote (um sobretom do progressismo de Skeeter). Bryce Dallas Howard, que é uma das produtoras da fita, no entanto, é quem se sai melhor. Dona de um papel difícil, de forte veia caricatural, ela injeta densidade e angústia na personagem e se equipara às atrizes que defendem papéis mais simpáticos.
Um filme que cresce de tamanho esmerado em seu elenco. Esse é o saldo de Histórias cruzadas, fita que busca provocar no espectador um fiapo do êxtase que aquelas mulheres experimentaram. Consegue.

5 comentários:

  1. Gostei muito do seus textos, excelentes cometários. Acrescentei seu link aos blogs amigos.
    Agradeço se me visitar também.

    http://tel4decinem4.blogspot.com/

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  2. O cast é mesmo de se tirar o chapéu e levo até um susto quando vejo Bryce Dallas Howard. Rs!

    É um filme notável através do grupo feminino e realmente Octavia brilha lindamente aqui. Funny! Viola é sempre manipulável com aquele olhar.

    Uma boa sessão!
    Abs.

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  3. Isso, é dramalhão, é clichê, é apelativo, mas é também envolvente e cativante. Um bom filme, ainda que não seja "O" filme.

    bjs

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  4. Um dos grandes filmes de 2011 e mais do que merecida nomeação.

    A minha opiniao aqui no meu blog

    http://silenciosquefalam.blogspot.com/2012/01/filme-as-servicais-help-2011.html

    Abraço

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  5. Sparrow: Obrigado meu caro. Vou visitar seu blog sim.
    abs

    Rodrigo Mendes: De fato uma boa sessão e, diferentemente do ano passado,achei muito justa a premiação do SAG. Era o melhor elenco do ano mesmo (depois de Tudo pelo poder e Margin call - que não foram indicados).
    Abs

    Amanda: Não é "O" filme mesmo.Mas envolve...
    Bjs

    Miguel Pestana:Valeu meu caro.
    Abs

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