domingo, 4 de outubro de 2009

Critica: Salve geral

A tênue linha entre cinema e história
Era grande a expectativa por Salve geral (Brasil 2009). Expectativa essa, agigantada pelo anúncio de que o filme de Sérgio Rezende será o representante brasileiro por uma vaga no Oscar. A fita reproduz os eventos aterrorizantes que se deram em São Paulo no ano de 2006, quando a facção criminosa PCC organizou um levante contra algumas instituições civis em protesto contra a transferência de alguns membros de sua liderança para outros presídios.
Rezende opta por contar essa história nivelando-a ao drama pessoal de Lúcia (Andréa Beltrão, em grande forma). Uma mãe, atordoada pela prisão do filho, que acaba se envolvendo nas operações extra-presídios do PCC. Essa opção, se potencializa o viés dramático do filme - procurando a empatia do público por aquela personagem, presta um desserviço a estrutura narrativa da fita. Rezende acaba por desenvolver muitos plots e nenhum deles é desenvolvido a contento.
Pesa contra Salve geral, ainda, o fato de que busca, com certa leviandade, fundamentar uma ação, orquestrada por um grupo criminoso, que prescinde desse esforço. Quisesse apenas dramatizar os eventos ocorridos em 2006, Salve geral seria mais eficiente como cinema. Ao elaborar um discurso didático e passível de reservas, o filme chama para si uma responsabilidade com a qual não guarda fronteiras claras; a verdade dos fatos. Salve geral contribui, dessa maneira, para a proliferação de uma mazela do cinema nacional. A de romantizar os bandidos. A fita de Rezende se alinha assim àquela produção que credita a bandidagem á falta de oportunidades na vida. Uma fala dos personagens Xizão e Rafa , no interior de um carro enquanto descansam entre um ataque e outro, é exemplar desse discurso.
No entanto, o filme é um drama muito eficiente. Bem filmado e com ótimos atores. A tensão fomentada por Rezende é real. Nesse sentido, a escolha de focar na personagem de Lúcia e seu drama pessoal mostrou-se acertada. Do contrário, não haveria consternação por parte da platéia. Nenhum interesse legítimo em testemunhar os bastidores sujos e desleais de uma sociedade com feridas abertas.
Salve geral é, em última análise, um filme sobre investiduras. A de Lúcia e o doloroso processo ao qual se lança para proteger seu filho e do próprio filme, que incumbe-se de entrincheirar relatos e perspectivas com a finalidade de conquistar um status que extrapole os limites do cinema. Ao filme e sua protagonista resta o inferno das boas intenções.

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