sábado, 26 de setembro de 2009

Contexto

Sobre a pior das dores...

Uma prova de amor, novo drama de Nick Cassavetes, em cartaz nos cinemas, é daquelas fitas que se ocupam do ofício de emocionar. Apelando a dramas exemplares da vida familiar. É um tipo de filme que sofre algum preconceito devido ao seu alto teor manipulativo - argumenta-se que as emoções não surgem naturalmente, elas são forçadas para fora pela mão pesada do diretor. Pondo essa discussão de lado, ela é mais indicada para seção insight, é indiscutível que Uma prova de amor dá um passo a frente na mise - en - scène característica de famílias as voltas com uma doença terminal.
Na fita, Kate tem uma espécie rara de leucemia, seus pais, orientados extra- oficialmente por seu médico, decidem ter uma nova filha, manipulando o embrião geneticamente, para que possa ajudar na recuperação de Kate. Nasce Anne. Quando Anne, que durante toda a sua vida serviu como estoque de tecidos e sangue para sua irmã, decide entrar com uma ação contra seus pais pelo direito de decidir o que fazer com seu próprio corpo, estabelece-se o confronto mais doído e passível de perplexidade que o cinema já construiu em torno do tema. Passamos então a observadores incrédulos e compadecidos da chaga que acomete aquela família.
A despeito dos rumos dramáticos aventados no filme de Cassavetes, o debate que propõe, em um primeiro momento, é riquíssimo. Não só por abordar o ponto de vista dos pais diante do esfacelamento de uma família, não só pela absurda sensação de impotência que se tenta evitar, mas também por discutir até que ponto é lícito e humano os esforços para combatê-la.
Se a doença que acomete Kate é tão cruel, qual a melhor forma de lidar com ela? Impor a Anne, além do sofrimento de ver a irmã em tal estado de degradação, a condição de ser ela, a responsável direta por qualquer chance de sobrevida da irmã às custas de procedimentos cada vez mais dolorosos e invasivos? Isso é algo válido? Pertinente? Algo que possa vencer ou adiar as inelegibilidades da vida?
Cassavetes, é bom que se diga, não vilaniza os pais ou qualquer outro personagem na fita. É tudo muito real. Infelizmente. O mais desolador - para o espectador- é que não se pode condenar ninguém por tentar fazer o melhor para sua família. No meio do caminho há negligencias, desafetos, mágoas, mas isso há em toda e qualquer família. Mas há também momentos de redenção e cumplicidade sublimes como na cena, a mais poética do cinema nesse ano, da praia. Em que uma família despedaçada pelas imposições da vida se conforta uns nos outros.
É dessa cena, que talvez possamos extrair algum fiapo de resposta para esse tão delicado tema. Encarar a morte, se preparar para o luto, não é algo fácil, polido, natural. Demanda uma força estúpida e muitos descompassos pelo caminho.




Se você gostou de Uma Prova de amor ou tem interesse em aprofundar o tema abordado no filme, Claquete recomenda:

Menina de ouro( Million Dollar baby EUA 2004, de Clint Eastwood)
Mar adentro (Mar adentro ESP 2004, de Alejandro Amenábar)
Lado a lado ( Stepmon EUA 1998, de Chris Columbus)
O tempo que resta (FRA 2002, de Francois Ozon)
P.S, eu te - amo( P.S, I love you 2007, de Richard LaGravinese)
Peixe grande e suas histórias maravilhosas ( Big fish EUA 2003, de Tim Burton)

Um comentário:

  1. Adorei a crítica também possuo um blog, ele fala de tudo... mas principalmente de coisas de mulher... talvez vc não se interesse tanto rss

    um abraço e obrigada pelo convite e pelas dicas de filmes relacionados ao tema!

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