segunda-feira, 9 de agosto de 2010

ESPECIAL A ORIGEM - *Repercutindo o filme!


Parábola pós-moderna, revisão de conceitos freudianos, metáforas religiosas de cunho cristão e espírita, entretenimento pensante e alegoria publicitária do soft power hollywoodiano. Há muitas camadas em A origem e são muitas as formas de sorver o filme e sua essência. Ajudar nesta tarefa é o intuito deste artigo. Não se objetiva explicar o filme ou pormenorizar suas cenas e circunstâncias. Isso seria desvirtuar a obra de Nolan e reduzir seu potencial filosófico, além de, talvez, proporcionar enfado ao leitor.
O gol aqui é iluminar algumas das maquinações que se não estão presentes em A origem, servem a sua intelectualização. A primeira delas é a óbvia relação do filme para com a maior arte do século XX; a publicidade. Se a publicidade move o negócio chamado Hollywood e a espionagem industrial é algo que resplandece tanto na fórmula 1 quanto nos gabinetes de governo, Nolan eleva a questão: até onde estamos dispostos a ir? A equipe liderada por Don Cobb (Leonardo DiCaprio) invade os sonhos das pessoas para furtar-lhes os segredos. Uma analogia vigorosa da obstinação humana, ainda que de forma pouco lisonjeira no esquadro aventado por Nolan. Por outro lado, implantar uma ideia é algo complicado. Como bem sabem os publicitários. A fala do personagem Arthur em dado momento do filme ao explicar a Saito (Ken Watanabe) o por que dessa tarefa ser impossível:

Arthur: E seu disser: não pense em elefantes. O que você está pensando agora?
Saito: Em elefantes.
Arthur: Exatamente. Mas sua mente decodificou a origem desse pensamento. É impossível implantar uma ideia em uma mente sem que ela identifique a procedência.


De volta a realidade: quando se vive de sonhar, o que é real?

Esse é o desafio que publicitários enfrentam diariamente. Criar, mais do que a ideia, a necessidade do objeto (o público) por aquela ideia.
Logo, A origem pode ser detectado como um filme que desnuda as engrenagens, ainda que por um viés fantasioso, da máquina publicitária.
Por outro lado, a questão de “um sonho dentro de um sonho”, a relação “morrer/acordar”, a diferença de tempo nos diferentes níveis de sonhos e como o estado das coisas em determinado sonho afeta o estado das coisas em outro sonho permitem um paralelo religioso cristalino. É difícil crer que esse tenha sido um subtexto pretendido por Nolan, mas há um sem número de teorias filosóficas que apontem para esse paralelo.
Poucos críticos brasileiros, ainda estupefatos ou insolúveis, se dedicaram a percorrer esse labirinto de referências pscissomáticas da obra de Nolan. Há, ainda, uma apropriação de conceitos freudianos que conferem ao filme um certo rigor erudito.
É justamente em Freud que reside a grande diferença deste filme para Matrix, ao qual é muito comparado. Ao invés da figura do messias, entram projeções e subconsciente. Nolan não acrescenta nada novo, nem teria autoridade cientifica para fazê-lo, mas embala conhecimento em um produto pop. De quebra, oferece um conjunto de leituras e reflexões que escapam a muitas produções contemporâneas.

Ação e reação:a queda de um automóvel em um sonho, tira a gravidade do outro...

* contém spoilers! É recomendável a leitura apenas depois de ter visto o filme

4 comentários:

  1. essa coisa de Freud ai me obrigou a ir no cinema duas vezes !! hahahaha, confesso que não peguei tudo da primeira, teve que rolar uma segunda vez! Mas ta valendo !

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  2. Nossa fiquei ainda mais curiosa com o filme agora que li seu texto. Realmente, estou ansiosa para o dia de amanhã, qdo vou conseguir dar uma fugidinha ao cinema.
    Mas, cá entre nós, esse seu aviso de spoilers não devia estar logo no início do texto? rsrsrs Agora eu já li, pombas! :P

    Beijos

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  3. Tinha o asterístico lá Aline.rsrs. Ademais, não há nenhuma grande revelação no texto. Foi uma concessão protocolar, digamos assim...
    bjs

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