sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Crítica - Os suspeitos

Rimando tensão e conflito emocional

Hugh Jackman no início do ano, em plena campanha pelo Oscar (ao qual concorreu pelo filme Os miseráveis) disse que estava muito orgulhoso de produzir um filme que seria lançado no próximo outono do hemisfério norte. O filme em questão era Os suspeitos (Prisoners, EUA 2013), dirigido pelo canadense Denis Villeneuve. Trata-se de um drama familiar poderoso com fortes cargas de suspense e uma trama de mistério a tonificá-lo. Por qualquer ângulo que se observe, Os suspeitos (mais uma tradução infeliz da distribuição nacional para o muito mais elusivo e subliminar “prisioneiros” do original) é bom cinema. Ostenta narrativa de fôlego invejável, técnica bem urdida e um elenco afiadíssimo. Mas o filme tem outros trunfos. Enseja um debate que não se esgota com o fim da sessão.
Um almoço de Ação de Graças entre vizinhos dá início a uma corrida ao inferno quando as filhas pequenas dos casais vividos por Hugh Jackman e Maria Bello e Terrence Howard e Viola Davis são sequestradas, à luz do dia, e na rua de suas residências. A partir desse elemento detonador, Villeneuve acompanha tanto a investigação policial que tenta descobrir o paradeiro das meninas como a desintegração psicológica, emocional e moral do personagem de Jackman – um pai desesperado para achar sua filha.
Gyllenhaal e Jackman: atuações acima da média
Há, logo de partida, um suspeito. Paul Dano, ator de grandes predicados, faz um sujeito estranho que depois se descobre ter o QI de uma criança de dez anos, que estava estacionado com um trailer próximo ao local em que as meninas desapareceram. A suspeita parece infundada à medida que a investigação avança, mas o personagem de Jackman segue impassível na sua crença de que aquele homem sabe mais do que diz.
O material promocional do filme já mostra que limites serão cruzados e Jackman e Villeneuve, como dois artesãos do imponderável, constroem tensão única à medida que a irrigam com um conflito emocional multifacetado. Quando o certo se divorcia do justo? Quais os limites morais que um pai de família deve respeitar? A discussão tão propalada em torno de A hora mais escura (para citar outro filme concorrente ao Oscar 2013) surge muito mais inteira, vigorosa e aprofundada em Os suspeitos. Em parte porque tenciona o espectador a produzir um juízo de valor a respeito do que vê e lhe incomoda com a constatação de que aquele drama lhe é factível; enquanto que torturar afegãos em uma prisão secreta no Oriente Médio não.

A maneira como Villeneuve envolve sua plateia, tanto no drama do personagem de Jackman, como nos bastidores da investigação policial representada na figura de Jake Gyllenhaal, é vistosa. Mas não esconde alguns problemas da fita. Apesar de a investigação ter suas curvas, o saldo final dela é relativamente previsível. A trama policial, portanto, se revela elemento fragilizador de Os suspeitos enquanto cinema da mais alta qualidade. É um defeito potencializado pelo clímax com algumas reviravoltas mal desenvolvidas textualmente. Ainda que o final, a essa altura mais pragmático do que qualquer coisa, seja brilhante em sua irresolução e evite a sensação de decepção que se avizinhava.

2 comentários:

  1. Pois é, como você já ponderou concordamos no todo. O filme nos envolve de uma maneira bastante competente, mas falha nas explicações do terceiro ato. Ainda assim, não mancha o impacto final e todas as reflexões a que nos leva. Interessante sua comparação com A Hora Mais Escura.

    bjs

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