Gravidade tem sido louvado por críticos ao redor do planeta
por suas qualidades técnicas para lá de destacáveis. Gente do cinema, gente dos
bastidores e gente da mídia têm reagido com perplexidade à beleza visual do
filme e à técnica arrojada apresentada por Alfonso Cuarón neste filme que está
sendo saudado como um desses divisores de águas que vez ou outra surgem no
cinema. Mas Gravidade tem uma peculiaridade que poucos têm dado o devido
crédito. São dois atores confinados em um ambiente fechado. No caso, o ambiente
fechado é a imensidão do universo.
A ideia de trabalhar um ambiente como um personagem não é
nova. Cuarón se exercita nesse terreno pela primeira vez. Roman Polanski já fez
isso com um apartamento e com um barco, Michael Haneke recentemente fez o mesmo
em Amor. Por
sinal, o vencedor da Palma de Ouro apresenta uma lógica narrativa muito parelha
a de Gravidade, centrando sua dramaturgia no trabalho de dois atores. Trata-se
de um preceito simples do cinema dito tradicional. Em Gravidade, porém, o cineasta
mexicano potencializa esses efeitos ao colocar esses atores no espaço. Ainda
que seja tudo digital, o que só flexiona ainda mais os parâmetros do cinema do
presente.
Cuarón levou quatro anos para fazer Gravidade. Entre
pré-produção, gravações e pós-produção. No meio tempo, As aventuras de Pi,
fotografado por Cláudio Miranda, ganhou o Oscar de melhor fotografia
e o próprio Ang Lee se tornou o primeiro diretor a ganhar o Oscar de direção
por um filme rodado em 3D e majoritariamente composto por efeitos digitais.
O que Cuarón faz em Gravidade é justamente sublinhar o
conflito existencial da protagonista vivida por Sandra Bullock no 3D imponente
que apresenta a luta pela sobrevivência dela e do astronauta vivido por George
Clooney.
A fotografia de Gravidade é de Emmanuel Lubezki, mexicano
que é habitual parceiro de Cuarón e que foi indicado ao Oscar recentemente por
A árvore da vida. Aqui ele e Cuarón propõem algumas ousadias como o plano de
abertura de 13 minutos sem cortes. Um assombro de técnica somente possível com
profissionais tão criativos e talentosos. Mas somente possível, também, no
atual momento high-tech que vivemos. Difícil imaginar que Stanley Kubrick,
outro cineasta de reconhecida e larga criatividade, pudesse tangenciar um take
como esse e tantos outros que impressionam em Gravidade. Mas o que mais impressiona no filme, apontam
seus entusiastas, é a capacidade do diretor de usar recursos técnicos para
levar a plateia à crise existencial da personagem de Sandra Bullock. Como
Cuarón funde a imagem do GCI à intimidade física. Esse casamento de um cinema
simples com um cinema de grande complexidade, tão rara e tão bem vinda, é o
grande precedente de Gravidade, filme que coloca a pulga atrás da orelha de
quem faz e consome cinema: para onde vamos agora?
Estou ansioso e curioso pelo filme, Reinaldo! Cameron soltando elogios? Deve ser um filmaço, aliás, vi um trailer na tela grande na sessão de Elysium e que trailer!
ResponderExcluirÓtimo texto, como sempre. Vou acompanhar a repercussão do filme aqui no Claquete, já ansioso em ler sua crítica tb. ;)
Abs.
Filme mais aguardado since o anúncio de produção. Cuarón veio para chutar bundas. No aguardo e riscando os dias no calendário...
ResponderExcluirÉ, também espero ansiosa. Ainda mais com as repercussões. E interessante mesmo a pulga que você chama a atenção. Talvez seja a mexida que esperamos...
ResponderExcluirbjs
Rodrigo: obrigado pelos elogios, pela referência e, principalmente, pelo crédito meu caro amigo!
ResponderExcluirAbs
Elton: Sempre um prazer ler seus comentários!
Eles sempre vem para chutar bundas (no bom sentido, claro)
abs
Amanda: Um pequeno passo para o homem, mas... (ok, essa é manjada)
Bjs