Blefe bem feito!
Depois de impressionar com o modesto, mas bem urdido O poder
e a lei (2011) – que de quebra recolocou o ator Matthew McConaughey na rota da
consagração artística, Brad Furman lança esse Aposta máxima (Runner runner, EUA
2013) que mistura a sofisticação do mundo empresarial à lógica do mundo das apostas,
fundidas pela mentalidade do mundo do crime.
A estrutura é muito parecida com a de seu filme anterior.
Não só no desenvolvimento narrativo, como nos arquétipos emulados pela
dramaturgia e no desenho dos personagens. O Ritchie Furst de Justin Timberlake,
assim como o advogado vivido por McConaughey naquele filme, parte de um quadro
de ingenuidade para a expertise no trato com um mundo desleal e perigoso.
Hora da verdade: Ben e Justin medem forças em filme bacanão |
Furst é um estudante de pós-graduação com um vício. Ele é
viciado em pôquer, mas não necessariamente naquela percepção convencional de
vício. E é dessa particularidade que Furman alimenta seu filme. Descolado,
inteligente, mas ingênuo, Furst procura Ivan Block (Ben Affleck), um magnata
das apostas on-line sediado na Costa Rica, para lhe informar que seu site tem
brechas que incitam trapaças. Block, como agradecimento ou forma de exercer
controle, oferece um emprego para Furst. É a partir dessa relação de poder e
imagem que este eficiente thriller se estabelece.
Não que Aposta máxima seja um filme inventivo. Seu
desenvolvimento é até certo ponto preguiçoso tendo como referência o fato de
que acolhe os clichês com muita energia e desprendimento. Mas é um filme que
aposta no ritmo acelerado da ação e nos seus atores principais. Gemma Arterton,
cuja função na fita é ser bonita, está especialmente linda. Timberlake opera a
habitual combinação de carisma e charme que lhe é tão característica e se sai
muito bem. O grande atrativo da fita, no entanto, é mesmo Ben Affleck se divertindo como um
kingpin do crime. Affleck faz pose de canastrão, fala espanhol, e surge falando
“pussy” em uma sauna logo no início do filme. Ele convence como gângster
sofisticado como poucos criam ser possível. Demonstração de que Affleck está
muito mais relaxado nessa coisa de atuar do que pensamos que ele poderia em
virtude das críticas que recebe nesse ofício.
O resumo da ópera é o seguinte: Se Aposta máxima viesse
antes de O poder e a lei, Furman não suscitaria a boa impressão que
capitalizou. O filme é ligeiro, despretensioso e consegue fazer com que você
saia da sessão achando que é até mesmo superior ao que de fato é. Um blefe que
não demora muito a ser percebido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário