Passou ao largo do radar de muitos jornalistas no Brasil e
também do grande público, mais preocupado com as participações de Wagner Moura
e Alice Braga no segundo filme da carreira de Neil Blomkamp, uma discussão que
polarizou os estratos culturais e políticos da mídia americana na esteira do
lançamento de Elysium.
A direita americana chiou por considerar o filme um libelo
esquerdista de marca maior. A esquerda disse que o filme não conseguiu
tangenciar a segregação a que alude, mas elogiou suas boas intenções. Fato é
que o filme de Blomkamp tem forte veia política, minorada pela mão pesada do
estúdio, mas que acaba - por vias tortas – fazendo apologia ao socialismo sim.
Talvez não fosse essa a intenção de Bloomkamp e a julgar por Distrito 9 – seu
espetacular filme de estreia – é possível dizer que não era mesmo essa a
intenção. Apesar de ser muito clara sua identificação com o ideário da
esquerda, e não poderia ser diferente considerando que o diretor cresceu sob a sombra do Apartheid na África do Sul, seu comentário em Elysium parece
deslocado do norte apontado pelo filme anterior. Se isso revela uma deficiência
na forma com que finalizou seu filme – a culpa só pode ser dividida
parcialmente com o estúdio nessa matéria – demonstra também a atualidade de
Elysium em um aspecto que domina o debate social e político nos EUA neste
momento. Diz respeito ao plano de saúde aprovado pelo governo Obama em 2012 em que os
ricos pagam impostos mais onerosos para custear o acesso dos pobres à Saúde. Esse plano, que virou lei e teve sua constitucionalidade reconhecida
pela Suprema Corte americana, é alvo de grande acirramento entre republicanos e
democratas e está por trás da paralisação do governo federal pela não aprovação
de uma emenda orçamentária no congresso.
Os republicanos, maiores representantes dos abastados,
querem que a lei – já em vigor – seja adiada em um ano. Obama não aceita negociar.
Em Elysium, o principal mote do filme é a necessidade de acesso à saúde. A tal
da cama milagrosa que cura de câncer a fraturas é uma metáfora eficiente do
estado das coisas nos EUA. Nesse espectro, Elysium é de uma felicidade
tremenda. Ainda que acidental. Naturalmente, entre o pensamento da esquerda e a
apologia canhestra que resultou, ser propaganda da maior cartada da
administração Obama não estava nos planos de Neil Blomkamp. Mas ver o filme
nessa ótica é um adendo e tanto. Para o filme e para o debate que acontece às
margens dele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário