segunda-feira, 28 de junho de 2010

Contexto

O herói dentro de cada um

Nos últimos dez anos o cinema americano foi prolífero em apresentar heróis nas telas de cinema. Adaptações de HQs constituem o principal artífice dessa aparentemente inesgotável fonte de fazer dinheiro. Mas os heróis vêm também dos videogames, da literatura infanto-juvenil e, acreditem, até de brinquedos e parques de diversões.
Além de fazer dinheiro, e trazerem efeitos especiais de ponta, os filmes de superheróis trazem em seu eixo central uma questão para lá de interessante. A força interior de cada um de nós. No recente Kick Ass-quebrando tudo, o adolescente David Lizewski (Aaron Johnson) tem uma curiosa epifania. Por que nunca ninguém tentou ser super-herói antes? À parte a verborragia pop que acresce muito ao divertido filme de Mathew Vaughn, é uma indagação filosófica interessante. Ao que o próprio David em dado momento do filme subverte a famosa frase de um famoso herói dos quadrinhos e do cinema. “Sem grandes poderes, não há nenhuma responsabilidade. Exceto que isso não é verdade”. Pode parecer uma simplificação ridícula, mas, na verdade, é uma constatação da responsabilidade que cada um de nós temos para com o próximo e um mundo melhor. David é um adolescente, que em um surto de carência e ingenuidade, tenta fazer a diferença de uma maneira ufanista. Kick ass se vale da fantasia, e de uma fantasia regada a humor negro, para debater anseios e aflições bem humanas.

David trajado de Kick ass: Quem disse que para ser herói é preciso ter super poder?



Cartaz de Homem aranha 2: A trilogia do aranha é referência em potencialidade dramática nos filmes de superheróis

Outros filmes se valem do mesmo ofício. Homem aranha (o referencial explicito de Kick ass), por exemplo, nada mais é do que um drama sobre a adolescência de um rapaz tímido que perdeu os pais cedo e que não consegue se expressar de maneira satisfatória. Em O senhor dos anéis, a honra é um conceito mais forte do que podemos aferir em nosso cotidiano. A obstinação de Frodo, Sam, Aragorn, Legolas e os demais membros da irmandade do anel é um comentário sobre a nossa obstinação perdida. Harry Potter é outro que, dentro de uma faixa de público específica, reproduz celeumas humanas em um universo fantástico. O que Harry, Rony e Hermione querem é viver intensamente a fase da vida em que estão. Voldermont e o quadribol são apenas variantes.


Frodo é um símbolo de coragem e determinação: Um hobbit "qualquer" capaz de feitos extraordinários


De todos esses, Homem de ferro talvez seja o que melhor se alinhe ao aceitável. Um magnata dono de um pool de empresas que fornece material militar ao governo americano, após uma experiência de quase morte, resolve agir conforme sua consciência e salvar o mundo. Homem de ferro não disfarça nem advoga seu personagem principal. Não foi porque Tony Stark subitamente resolveu agir em prol da humanidade que ele deixou de ser um sujeito egoísta, egocêntrico, vaidoso e competitivo.
A moral é: Ser herói é ser humano. Todos nós carregamos nossas neuras, vícios e fantasias. Nem sempre nos abrigarmos nelas será a melhor coisa que faremos, mas é inegável que essa fase nos levará a algum lugar. A alguma realização. Essa é a moral alcançada em Kick ass e é essa moral que ajuda a fazer deste filme, uma antologia sobre os heróis nos cinemas e os humanos que vão prestigiá-los na sala escura.


Tony Stark no melhor jeito Tony Stark de ser: ele é herói sim, mas não se transformou como ser humano. A mudança, se houver, será, tal como na vida real, gradual

Se você gostou do tema abordado na seção deste mês e quiser repercuti-lo sob essa e outras perspectivas, Claquete recomenda:

- Watchmen (EUA 2009), de Zack Snyder

- Trilogia Homem aranha (EUA 2002, 2004, 2007), de Sam Raimi

- Batman begins (EUA 2005), de Christopher Nolan

- Trilogia O senhor dos anéis (EUA 2001, 2002, 2003), de Peter Jackson

- Homem de ferro (EUA 2008), de Jon Favreau

8 comentários:

  1. kick ass prova que um adolescente que é fã de quadrinhos que não tem superpoderes e não tem muita noção do perigo pode se tornar um grande herói! até chegar a esse longo caminho ele vai apanhar bastante, se meter em muitas confusões e fazer novas amizades heróicas por assim dizer! adoro esse filme sem nem ter assistido ainda!kick ass é o cara!

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  2. Deu uma vontade de virar super-herói, será que rola?
    AUHSUHAHUSUA'
    Dentre todos eu gosto muito de Homem - Aranha, pois apesar de herói, é muito humano.

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  3. Boa análise. Acho que o 'super-herói' está com sua imagem um tanto quanto desgastada em diversos meios e o cinema procura se desvencilhar daquele velho estereótipo. E eu odeio o Stark, rsr.

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  4. Ótimo texto!!!! Para mim, o verdadeiro heroi é aquele do dia a dia e que faz feitos extraordinários sem depender de grandes poderes. Mas, estes aí que figuram no seu texto são grandes herois!!

    Beijos!

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  5. Anônimo: Vc tem que assistir. Vc vai adorar o filme mais ainda! abs

    Alan: Acho que uma das lições de Kick ass é que ser super herói é uma coisa bem relativa alan. rsrs abs

    Luis Galvão: Eu sei q vc não vai muito com a cara do Stark Luis. Mas como vc bem disse, isso é algo positivo. rsrs. abs

    Marcelo: Que bom. Espero que vc possa curtir o conteúdo de Claquete e que seja uma presença constante aqui no blog. Abs e bem vindo!

    Kamila:Obrigado Ka. Concordo plenamente contigo. bjs

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  6. Oi Rei,

    Curti muito esse seu texto, cheio de sacadas legais e com um ritmo gostoso de ler. Adorei principalmente a moral que vc tirou de todos esses filmes (ser humano é ser herói).

    Beijos,
    Aline

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  7. Obrigado Aline. Sempre me alegra o teu feedback. bjs

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