sábado, 30 de janeiro de 2010

Contexto - Amor sem escalas

De passagem

O filme Amor sem escalas mostra a história de um homem confortável em sua pequenez. Sua meta na vida é conseguir atingir a marca de 10 milhões de milhas aéreas, seria o sétimo no mundo ao alcançar tal marca, e tornar-se imortal. Ao contrário do que dita a normalidade em que pessoas querem dar seguimento ao seus nomes tendo filhos, constituindo famílias e construindo um legado particular, Ryan Bingham (George Clooney) não vê, ou prefere evitar a consciência de, que a vida está passando e ele está ficando para trás. Nesse sentido a impessoalidade dos aeroportos, lugares que o próprio admite fazê-lo sentir-se em casa, é uma metáfora poderosa para o estado de espírito do personagem. Quando conhecemos Ryan, seu mundo está prestes a ser chacoalhado por uma dessas convergências cósmicas em que o universo conspira a favor. Duas mulheres aparecem em sua vida, com propósitos e perfis distintos, para fazer com que Ryan acorde de sua hibernação prolongada.
A idéia de Amor sem escalas não é redimir esse homem tão receoso de contato humano. Tão pouco, torná-lo outro completamente diferente. É acompanha-lo durante um momento definidor de sua vida e, com isso, fornecer ao público material para refletir sobre suas próprias escolhas nesse departamento. Estamos fazendo o melhor de nós? Estamos nos isolando em um casulo? As perguntas não são tão fáceis de responder quanto podem parecer. Mais difícil ainda é mudar de atitude sem se ferir. Algo que é perfeitamente emulado no filme. Outros filmes contemporâneos abordaram a mesma questão sob perspectivas variadas. Alguns com mensagens mais convencionais, como Um homem de família, dirigido por Brett Ratner e estrelado por Nicolas Cage e outros com uma linha mais obtusa, como Marcas da violência de David Cronenberg, em que um homem com um passado criminoso tenta remontar sua vida. Em comum, todos esses filmes trazem personagens que sentiram o alarme tocar. A necessidade premente de construir uma história. De ceder ao conforto do tradicional. Do familiar.



Se você gostou do tema abordado nessa seção e quiser repercuti-lo, Claquete recomenda:

As confissões de Schmidt, de Alexander Payne (About Schmidt, EUA 2002)
Um homem de família, de Brett Ratner (A family man, EUA 2000)
Marcas da violência, de David Cronenberg (A history of Violence, EUA 2005)
Melhor é impossível, de James L. Brooks (As good as it gets, EUA 1997)
Ninguém é perfeito, de Joel Shumacher (Flawless, EUA 2000)

5 comentários:

  1. As Confissões de Schimidt é hilário!!! Belo texto Reinaldo!!

    Um abraço

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  2. Um de seus melhores textos aqui, gostei do tom mais psicológico...não achei que este filme pudesse propor tudo isso, mas prometo estar mais permissível à atuação de Clooney - que, quase sempre, tenho um pé atrás.

    abraço!

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  3. Eri: Obrigado Eri.

    Cris: Obrigado Cris. Que bom que vc está mais flexível a Clooney, rsrs. Vc vai se surpreender. ABS

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  4. Oi Reinaldo.
    Um homem de família e Marcas da violência são filmes muito queridos pra mim, e agora Amor sem Escalas entrou pro time tambem. Muito legal, nunca tinha reparado na semelhança entre eles... Obrigada por mais esse olhar apurado em filmes tão bons quanto esses.
    bjos

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  5. Nossa patty, obrigado mesmo pelas palavras. Fico mto feliz. Essa seção aqui de Claquete, Contexto, tem exatamente essa função. Desenvolver um tema específico, e que muitas vezes não é o principal, de um filme em cartaz nos cinemas e relacioná-lo com outras obras cinematográficas. O seu reconhecimento e apreciação me deixam muito, mas muito feliz mesmo. Eu é que agradeço. Bjs

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