quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O novo jeito de fazer Bond

O estúdio MGM passa por grave crise financeira e, doravante, estrutural. O estúdio está a venda e duas produções aguardadíssimas (O Hobbit e o 23º filme de James Bond) estão, portanto, em compasso de espera. Uma vez que o estúdio é quem detém os direitos de distribuição dos filmes.
A incerteza sobre o futuro do estúdio preocupa os produtores Michael G. Wilson e Barbara Broccoli que resolveram não anunciar oficialmente o nome do diretor da 23ª aventura de James Bond nos cinemas. Mas segundo apurou o Hollywood Reporter e a mídia especializada nos EUA já repercute, Sam Mendes, diretor de dramas como Beleza americana e Foi apenas um sonho, já age como consultor da produção e trabalha na revisão do roteiro escrito pelos oscarizados Paul Haggis e Peter Morgan. Mendes só não teria sido anunciado oficialmente como diretor do próximo filme do super espião inglês, pelo temor dos produtores de ter que renegociar as bases com a MGM e um outro estúdio para a distribuição do próximo longa e que isso (um diretor já contratado e efetivo) pudesse ser um empecilho.

Novo capitão: Sam Mendes será diretor do próximo filme de 007

A parte as pendengas econômicas e logísticas, é interessante notar os rumos que os irmãos Broccoli e Wilson estão empregando ao personagem, cujos direitos detém desde a morte do pai, Albert Broccoli. O hiato de quatro anos entre o último filme estrelado por Pierce Brosnan (Um novo dia para morrer) e o primeiro estrelado por Daniel Craig (Cassino Royale) foram essenciais para a definição da nova abordagem. Primeiro, um ator que não foi unanimidade (Craig foi uma aposta pessoal de Barbara Broccoli que acabou dando muito certo) que fugia dos padrões de James Bond. Depois um realinhamento na estrutura dos filmes. Quem vê os dois exemplares mais recentes de 007 nota mais semelhanças com os filmes de Jason Bourne (notável influência em todos os filmes do gênero nessa década) do que com os Bonds anteriores. Foi realçado também o aspecto dramático nos filmes. Bond sofre por amor, insubordina-se não por egocentrismo, mas para buscar vingança e consolo (bem expresso no título do 22º filme, inclusive) e está muito mais vulnerável.
Essa opção por um James Bond mais tridimensional e falível fica patente pelos nomes envolvidos na produção. Além de Daniel Craig explorar camadas antes insuspeitas do personagem, os roteiristas habituais das aventuras de Bond (Neal Purvis e Robert Wade) receberam a supervisão do vencedor do Oscar por Crash, Paul Haggis, em Cassino Royale e Quantum of solace. Para o 23º filme, além de Haggis, o roteirista inglês Peter Morgan de filmes como A rainha e Frost/Nixon foi recrutado. E não é só. Em Quantum of Solace meio mundo ficou surpreendido com o anúncio do franco suíço Marc Foster na direção. O diretor que até então havia dirigido filmes como A última ceia e Em busca da terra do nunca, jamais havia conduzido um filme de ação, muito menos um que chamasse tanta atenção. A opção por Foster acabou rendendo bons frutos, financeiros e artísticos, a série e provou que as escolhas de Bárbara Broccoli e Michael Wilson estavam bem orientadas.
Para o 23º filme, eles optaram por Sam Mendes. Um diretor que, tal qual acontecera com Foster, causa estranheza quando mencionado junto ao nome Bond. Mas é inegável o apelo e a ansiedade que essa combinação gera. Ainda mais com a ciência de como as coisas estavam antes dessa guinada e de como elas estão agora.

Daniel Craig, que já havia trabalhado com Mendes em Estrada para perdição, foi grande incentivador da contratação do diretor, segundo informe do Hollywood reporter

Os filmes de James Bond nos anos 60 estiveram na vanguarda dos filmes de ação, das franquias cinematográficas e da forma como se untava essas duas, hoje, indissociáveis maneiras de se praticar cinema. Depois de envelhecer um pouco após o fim da guerra fria, James Bond quer reclamar para si a vanguarda mais uma vez. Pode parecer clichê, mas é verdade. O nome é Bond, James Bond.

2 comentários:

  1. Não acredito que chamaram Sam Mendes!! Que ótimo!!! Mas tomara que ele não coloque Bond mais deprimido do que no filme anterior, como ele é acostumado!

    Abraço

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  2. Grande Eri, tudo bem? É sempre um prazer vê-lo por aqui. Pois é, tb gostei de ver o nome de Sam Mendes ligado ao projeto. No entanto, contrariando suas expectativas, imagino que no próximo longa, será explorado justamente o lado depressivo de Bond. E começaremos a testemunhar como esse cara tão sisudo vai virar um mulherengo de primeira. Acho que Sam Mendes foi escolhido justamente por causa disso. Não é uma coisa fácil de mostrar em um filme de ação. E Mendes foi bem sucedido em retratar um sentimento de vazio e inadequação em Soldado anônimo. Isso deve ter passado pela cabeça dos produtores. Mas não se preocupe, depois de Bond 23, eu acho que a depressão fica para trás.
    Grande abraço!

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