domingo, 14 de outubro de 2012

50 anos de James Bond em Claquete - A evolução dos filmes de 007



Que James Bond é um ícone pop, um símbolo de masculinidade e o modelo de franquia mais bem sucedido da história do cinema já está pacificado. O que muitos ignoram é o valor histórico dos filmes de 007. Tanto nos contextos político, social ou cultural, os filmes de Bond são valiosa ferramenta para mensurar o grau e profundidade das mudanças pelas quais atravessou o mundo. E não só. Os próprios filmes são reflexos dessas mudanças e, também, das muitas transformações sofridas pelo cinema.
Os primeiros filmes foram lançados à sombra da Guerra Fria e carregavam essa marca até mesmo no título, como no segundo filme do espião - o antológico e para muitos o melhor da série Moscou contra 007 (mais poético e sugestivo no título original From Russia with love). Os filmes apresentavam vilões megalomaníacos que serviam à metáfora de paranoia que se assentou naquele mundo dividido entre capitalistas e comunistas. Os planos não eram menos espalhafatosos e James Bond não era exatamente um primor de inteligência, ainda que fosse um agente esperto e sagaz.
Nos anos 80, os filmes enveredaram por uma onda politicamente correta. James Bond ficou menos mulherengo e mais amargurado, nos anos 90, o terrorismo se enunciou como o grande mal dos filmes de Bond e, de um jeito monocromático, persiste até o momento.
A forma como James Bond se relaciona com as mulheres também mudou. De meros “objetos” de cena para fazer número na galeria de conquistas do espião, elas foram ganhando relevância narrativa, até se tornarem vilãs, agentes mais eficientes do que o próprio Bond ou personagens mais ambíguas e tridimensionais como a Vesper Lynd (Eva Green) de Casino Royale, o famigerado primeiro amor de Bond.

Sean Connery em Moscou contra 007: os alicerces de Bond em tramas megalomaníacas e um herói charmoso e ostensivamente masculino


A própria existência desse amor foi um reflexo da necessidade detectada pelos produtores da série de tornar o personagem mais dramático e profundo. James Bond precisava amadurecer como personagem, mesmo que fosse para viabilizar o arquétipo “bondiano” clássico. Por isso a série foi reinicializada a partir de Casino Royale em 2006. Nessa reimaginação de Bond outro fator preponderante foi o momentum dos filmes de ação na guarita da franquia Bourne. A série baseada nos livros de Robert Ludlum e estrelada por Matt Damon fez com que a série retomada nos anos 90 parecesse ingênua. A edição fragmentada, consagrada pelo cinema de países em desenvolvimento no início do século XXI, e uma maior tolerância à violência foram novos paradigmas inseridos no contexto moderno de 007.
Outro elemento primordial da mais recente safra dos filmes de James Bond é a vontade de produzir um entretenimento que extrapole os bastiões dos aficionados. Por isso diretores como Marc Foster (A última ceia e O caçador de pipas) e Sam Mendes (Beleza americana e Foi apenas um sonho), nomes estranhos ao cinema de ação, foram recrutados para a missão de fazer dos filmes de Bond, algo mais sério do que jamais foram. Ou pelo menos, sofisticar a percepção que público e crítica têm deles. O cuidado com o roteiro é outro aspecto crucial desse planejamento. Para isso, o vencedor do Oscar Paul Haggis foi contratado para supervisionar o processo de roteirização dos novos filmes.

Roger Moore marcou a fase de maior humor de James Bond. O personagem custou a reencontrar seu rumo depois da saída do ator


Entre muitas mudanças, o que não mudou nesses 50 anos de James Bond foi seu inexorável apelo midiático. O personagem sobreviveu a duas falências de estúdio, a divergências criativas de seus produtores, a trocas questionáveis de seu protagonista e outras crises de menor impacto.   
O mercado publicitário continua se rendendo a James Bond. Recentemente, o espião adquiriu o hábito de beber cerveja. Isso por que os produtores acertaram uma cota de patrocínio, de valor estipulado em U$ 25 milhões, para que a marca Heineken seja o carro chefe das comemorações dos 50 anos do personagem. E estamos falando apenas das comemorações etílicas. Mas Bond não abriu mão do Martini, ele apenas está evoluindo.

4 comentários:

  1. Realmente, um mito. E com um apelo midiático enorme. Mesmo quem nunca viu um filme do agente, conhece suas principais características.

    bjs

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  2. Sou fã de Bond, e adoro toda a fase charmosa do espião que foram protagonizadas por Connery e Moore, mas os filmes mais recentes, que apresentam um Bond mais humano e vulnerável, me parecem bem mais interessantes e promissores.

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  3. Conheço muito pouco dos filmes do James Bond. Acho que eu conheço mais as músicas temas do que os filmes em si. Meu primeiro James Bond, no cinema, foi o Pierce Brosnan e, desde então, acompanhei todos os filmes. Acho sensacional, nessa franquia, o fato de que ela consegue se sustentar e se reinventar mesmo com tantas mudanças de atores no papel título e mudanças nas tramas, nos estilos de cada filme. Isso é uma prova da força do personagem criado por Ian Fleming. Parabéns pelo post! Beijos!

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  4. Belíssimo artigo, muito bem dito e resumido Reinaldo. Amamos Bond, não é? Só acho que, mesmo na fase anos 60, as personagens femininas já ganhavam uma personalidade que já existia antes mesmo da Vesper da Eva Green. Vide a estonteante Diana Rigg, vivendo Tracy (Teresa Bond), a única mulher de aliança no dedo de James Bond no discutível "007 - A Serviço Secreto De Sua Majestade", certamente uma personagem bem mais complexa que Pussy Galore e Honey Ryder que eram engraçadinhas.

    Quanto aos diretores, é claro que a maioria dos filmes foram feitos por artesãos dos filmes de ação como John Glen e até mesmo Martin Campbell - e acho ótimo a série contratar personalidades como Sam Mendes que já até fez ação no ótimo "Soldado Anônimo" -, no entanto, a saga já trazia diretores na linha de Mendes e Foster como Lewis Gilbert que fez "Alfie" com Michael Caine, não propriamente uma obra-prima como "Beleza Americana", mas um tipo de filme que um diretor mais empolgado como Glen ou John Woo não fariam. Guy Hamilton (do Goldfinger/Viva e Deixe Morrer...) que até já fez Thriller e até mesmo o criticado Terence Young que deu estilo a série, fez filmes interessantes como "Wait Until Dark" com a Audrey Hepburn. Quer dizer, os produtores só necessitam mesmo de diretores capazes de levar a sério, é que os tempos de fato eram outros há 50 anos, convenhamos. Hoje soa a impressão de ingênuos, mas imagine em plena Guerra Fria? Adorei esta nova roupagem que a série deu aprendendo as manhas com Bourne (só não perdoo o Gun Barrel do saudoso Maurice Binder não ser apresentado como deveria no início, enfim....espero que corrijam isso!).

    Ansioso pelo "Skyfall", estão dizendo que é o melhor 007 de Todos!

    Abraço.

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