segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Crítica - Aqui é o meu lugar


Batida (im) perfeita!



O maior mérito de Aqui é o meu lugar (This must be the place, ITA/FRA/IRL 2011) talvez seja o de tornar o sentimento de estranheza algo simpático. O lúdico e o contemplativo no filme de Paolo Sorrentino são correntes de ar que oxigenam uma narrativa desprendida de um norte específico.
A começar pela figura do protagonista, brilhantemente encarnado por Sean Penn, passando pela trilha sonora sempre presente, assinada por David Byrne, e culminando no ritmo fraturado da narrativa que vai mesclando gêneros conforme avança, Aqui é o meu lugar mais parece uma colagem de grandes cenas e outros bons momentos de introspecção do que um filme com começo, meio e fim.
A direção segura de Sorrentino, que encontra um poderoso aliado em Penn, no entanto, transforma o que poderia ser razão do fracasso em quintessência do longa-metragem.
Chayenne (Penn) é um roqueiro aposentado, de fala morosa e visual bizarro em uma concepção visual que deve muito a Ozzy Osbourne, que vivencia uma fossa de tédio, que ele não sabe precisar se resultará em depressão, em Dublin, onde vive com a esposa (Frances McDormand).
Chayenne parte para os EUA quando é avisado que seu pai, com quem não mantém nenhum contato há 30 anos, está para morrer. Quando chega aos EUA, por via marítima já que é um tipo cheio de manias e fobias, é avisado de que o pai já falecera. Toma ciência, também, de que o pai passara boa parte desses 30 anos à caça do nazista que o torturara nos campos de concentração do regime de Hitler.
É a essa busca que Chayenne, um homem que também não está em paz com seu passado, se lança. A ideia de um roqueiro psicologicamente abalado, visualmente espalhafatoso e emocionalmente instável como uma criança fazer um périplo pelas estradas americanas para encontra um senhor, de prováveis 90 anos, que oculta um passado de terror é generosa sob a perspectiva da dramaturgia. Mas Sorrentino evita tentações forjadas por precursores no subgênero road-movie.
Ele constrói o sentido de seu filme tanto na expressão combalida de Sean Penn que vai ganhando cor ao longo da fita, como em meia dúzia de cenas chave em que toda a potência dramática daquele personagem é experimentada por diálogos francamente inusitados. Sempre com a música como bússola.
Aqui é o meu lugar, com esse espírito livre e essa estranheza que se pretende fraternal, emula a jornada de seu protagonista em sua própria estrutura. É um filme sobre busca de identidade e, também, sobre fazer as pazes com o passado. Ainda que isso não fique muito claro de pronto. É preciso se acostumar com a ideia.

5 comentários:

  1. Mais um que eu preciso ver urgentemente (até mesmo pra comprovar esses prós e contras que todo mundo aponta...)!

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  2. Eu assisti ao trailer desse filme e achei muito estranho, além de bizarro. Talvez, por ser um tipo de personagem diferente pro Sean Penn interpretar. Confesso que seu texto me deixou bem curiosa para assistir ao filme. E essa era uma curiosidade que eu não tinha.

    Beijos!

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  3. O que eu adorei em "Esse é o Meu Lugar" é a quebra de convenções do roteiro, que nunca soa forçada. Tem uma cena que me marcou quando uma personagem diz a Chayenne que tal região é conhecida por ter o maior monumento de tal coisa do mundo. Ele logo rebate "e onde está o menor?". Sei lá, eu achei isso tão profundo hehe. Como você diz, é um filme sobre identidade e é prazeroso, embora bizarro, embarcar com a figura loka de Sean Penn nesse filme rs. Vendo as fotos do filme e trailer antes de ser lançado, eu não achei que fosse me acostumar com esse visual Cher + Robert Smith de Penn rs, eu caía na risada, mas a atuação do ator é muito cativante e bem dosada, então ele me conquistou pela estranheza haha.

    Acho que o filme se perde um pouco no final por querer dar um desfecho para a trama dele com o pai e tal, mas o desenvolvimento e, principalmente, as cenas finais são bem bacanas. Gosto da lógica visual adotada por Sorrentino, um tipo de Wes Anderson mais sofisticado e pomposo - se é que isso é possível rs.

    Um bom filme (***)


    Abraços!

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  4. Eu gosto muito desse filme. Grande atuação de Sean Penn em um filme realizado aos molde europeus.

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  5. Alan: Acho que esse é um dos filmes obrigatórios de 2012. Mesmo não sendo um dos melhores. Pois é, é estranho... rsrs
    Abs

    Kamila: Que bom que continuo um pouquinho calejado nessa arte de resenhar, né Ka? rsrs
    Bjs

    Elton: Cara concordo plenamente com vc. E essa cena que vc sublinha é profunda pra c...! Assim como é aquela em que ele está conversando com um tatuador em um bar e imaginando o que faria quando encontrasse o tal nazista. São esses momentos que fazem o filme...
    Abs

    Celo: Grande atuação de Sean Penn mesmo!
    Abs

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