sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Crítica - Sete dias com Marilyn


Doce complexidade!
                                                                                                            
É verdade que Sete dias com Marilyn (My week with Marilyn, EUA 2011), dirigido por um egresso da tv, Simon Curtis, é um filme genuinamente britânico na valorização que faz das raízes teatrais em seu desenho dramatúrgico e no destaque concedido aos atores. É verdade, também, que o filme não se esconde nessa primaveril qualidade. Sete dias com Marilyn não pretende em momento algum ser uma biografia ou um registro ilibado da lendária e enigmática figura de Marilyn Monroe. Mas também não deseja ser apenas um adereço midiático a respeito da “maior estrela de cinema de todos os tempos”. É desse conflito saudável que o filme de Simon Curtis erige sua força. Ao investigar uma personalidade tão atraente quanto detestável que é, ao mesmo tempo, manipuladora e manipulada, Sete dias com Marilyn  subscreve toda a complexidade da personagem sem a auto-imposição de explicá-la. Esfumaçar mais um mito pode desagradar ciosos de um filme mais crítico, mais especulativo sobre Marilyn Monroe; mas as sutilezas pretendidas pela fita de Simon Curtis, perfeitamente dimensionadas pela mise-en-scène proporcionada por um set de filmagens, são muito mais inebriantes do ponto de vista cinematográfico. Sete dias com Marilyn é um filme que busca agregar as muitas imagens que se  tem do ícone. Inclusive as forjadas pela própria atriz.
Ao adotar o ponto de vista de Colin Clark (Eddie Redmayne), que ganharia notoriedade ao publicar um livro de memórias sobre o qual o filme se baseia, Curtis acerta em cheio. Clark é o personagem ideal para levar os olhos da platéia ao “circo”, como todo o mundo cinematográfico é nomeado pelo metiê na fita.
É também o personagem ideal para elaborar uma “opinião nova” a partir de seu convívio com Marilyn Monroe. Uma opinião nova e única, pois a experiência é individual e intransferível. É com essa promessa que Sete dias com Marilyn acena para a platéia. Uma Marilyn Monroe controvertida, lendária e frágil. A mesma de sempre, mas com um fascínio revigorado. Parte desse fascínio cabe a Michelle Williams. Atriz que telegrafa Marilyn Monroe em cena. Da sutileza dos gestos à evasão emocional provocada por pílulas e assistentes, Michelle Williams abraça Marilyn Monroe com admiração, mas de maneira impiedosa. É responsável por um registro tão polivalente quanto minimalista.

5 comentários:

  1. De fato, o fascínio dela é incrível. E Michelle Williams conseguiu traduzir isso muito bem.

    bjs

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  2. Concordo totalmente com seu texto, não vejo como discordar de nada do que você escreveu. Acrescento apenas uma impressão minha: Michelle Williams mostrou-se perfeita como Marilyn e penso que, fosse a original como é a representação dela, decerto deve mesmo ter encantado a todos pelo caminho, mesmo que, esporadicamente, houvesse causado também certo desconforto e transtorno.

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  3. Amanda: Concordamos plenamente.
    Bjs

    Luís:Eis aí, via o seu raciocínio, a mais perfeita tradução do significado de Marilyn.
    Abs

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  4. Não poderia concordar mais.
    Ótimas impressões, Reinaldo! Também gostei muito das escolhas de Curtis para contar a história de Monroe. Por um lado, ele se despe de muitas responsabilidades ao preferir um registro em terceira pessoa e mais "distante", mas isso não diminue o fascínio do filme, que eu considero muito gracioso.
    E, sim, Michelle Williams está ótima em cena. Adoro sua caracterização.


    Abs!

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  5. Elton Telles: Obrigado Elton. Pois é, Michelle era mais uma que estava melhor do Meryl este ano.
    Abs

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